Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
O Brasil está passando por uma quimioterapia na política – e o cidadão comum trabalhador consiste na célula saudável que é atingida pelo tratamento juntamente com o tumor maligno. Após quase dois anos de um segundo mandato infrutífero de Dilma Rousseff – a qual, a medida que esperneava para livrar-se do atoleiro do impeachment, lograva apenas nos afundar a todos cada vez mais na estagflação -, a economia dava sinais de recuperação, a inflação, a taxa básica de juros e a cotação do Dólar caiam significativamente e de forma sustentável, e até mesmo o desemprego nos últimos meses vinha arrefecendo.
Mas sobreveio a necessidade de realizar novas sessões de quimioterapia no Estado brasileiro. A corrupção, este flagelo que se alimenta do poder econômico e decisório concentrado na mão de políticos e tecnocratas, costuma voltar a atormentar o paciente em caso de não remoção total dos resquícios cancerígenos. Foi o que ocorreu ontem. E a expectativa é de que esta terapia empreendida pela Lava jato e suas ramificações ainda estenda-se por tempo indeterminado – ou até o óbito do vítima da enfermidade (sendo que a Venezuela, por exemplo mórbido, já está em coma, desenganada pela democracia).
Diante desta premente imposição de submeter nosso país a nova etapa de depuração do organismo institucional, resta saber quais desdobramentos se avizinham no horizonte. Hospitais costumam produzir panfletos de apoio e orientação a familiares de pessoas acometidas de doenças graves, e nosso povo, enquanto assiste atônito e apreensivo aos mais altos escalões do poder recebendo doses cavalares de quimioterápicos, só quer saber quando poderá voltar a “apenas” viver em paz, com alguma segurança jurídica e previsibilidade. Não é (ou não deveria ser) pedir demais, mas Deus não costuma nos fazer carregar cruzes mais pesadas do que podemos carregar.
Primeiramente, ajuda muito a reduzir o nível de estresse perguntar-se quais seriam os próximos prováveis episódios. Geralmente o bicho é menos feio do que se imagina – não muito menos feio, é verdade.
Diante do cenário traçado pelas investigações, a primeira encruzilhada encontra vértice na decisão que Michel Temer irá tomar nos próximos dias (considerando que as tais gravações comprometedoras existam e seu teor coincida com o que foi divulgado). Sem apoio algum (nem nas casas legislativas e muito menos da população) e sob forte pressão, seu governo não conseguirá aprovar medida alguma. Ficará moribundo até o final de 2018.
O melhor seria, pois, que Temer renunciasse ao cargo, dando oportunidade para que o Congresso Nacional, imbuído de um (incomum) espírito nobre, pudesse encontrar um nome de consenso que desse continuidade à obra da ponte para a travessia deste período de recessão histórica. Não me perguntem quem seria a figura mais indicada para a função, mas que este seria o desenlace menos traumático para o quiproquó, por certo seria.
Acontece, entretanto, que esta atitude pode custar a liberdade de Temer, pois tão logo o presidente perca o direito ao foro especial por prerrogativa de função, o cárcere deve ser seu destino imediato. A probabilidade de que ocorra, pois, não é das maiores.
Considerar mover processo de impeachment ou contar com a cassação da chapa Dilma/Temer no TSE são opções que compartilham do mesmo problema: são deveras demoradas, a tal ponto que podem vir a ser concluídas às vésperas das eleições do ano vindouro. Sua eficácia, portanto, é por demais contida.
Há ainda a hipótese aventada por Janaína Paschoal de que o Procurador-geral da República denuncie Michel Temer por crime comum cometido durante o exercício do mandato, o que seria a deixa para que o STF o afastasse do cargo. Restaria saber, no caso, como anda a disposição destas autoridades para tomar providências tão extraordinárias.
Por fim, existe o clamor por novas eleições diretas tão logo seja possível. Muito embora seja questionável a constitucionalidade de tal alternativa (nada que não possa ser resolvido com uma interpretação jurídica “inovadora” da Suprema Corte em caso de provocação), esta seria uma conjuntura que abriria um leque de novas possibilidades. Quem seriam os candidatos favorecidos pelo ambiente intoxicado?
Ora, como o assunto em voga é corrupção e (falta de) honestidade na vida pública, quaisquer outros temas afeitos ao mais alto cargo eletivo do país ficarão relegados ao segundo plano. Economia, segurança, educação, esqueça tudo: sairá (e provavelmente chegará) na frente aquele cuja imagem seja mais “limpa” aos olhos dos eleitores. Trocando conceitos por nomes: Marina Silva (sim, ela vai reaparecer como “terceira via” muito em breve), Jair Bolsonaro (ausente em todos os escândalos até aqui) e João Dória (por ainda ser visto como um iniciante na administração pública). O restante (você inclusive, Tiro Gomes) vai fazer número e cumprir tabela.
Lula? Bom, se conseguirem fazer o povo esquecer dos crimes cometidos por este sujeito, que seja concedido o Nobel da propaganda para seu marqueteiro – e encomendada a extrema unção para o restante dos brasileiros. Mas não é crível, felizmente.
Bom….desenhado o que pode nos suceder nos próximos meses, eis que é possível respirar mais aliviado (ou menos afoito). Serão tempos sombrios, repletos de deterioração de índices econômicos, acompanhada da degradação de indicadores sociais, mas sabemos por onde estamos andando – pelo vale das sombras, no caso. Se mil vão cair a nossa “Direita”, mil à Esquerda e sairemos ilesos tal qual promete o Salmo 91, só o tempo dirá.
Mas o mais importante para o paciente recuperado após a última sessão de quimioterapia é não mais contribuir para que o câncer volte. Parar de fumar, melhorar a qualidade da alimentação, e por aí vai.
No caso em questão, há uma tomada de consciência coletiva que pode prevenir que a doença venha a produzir metástase novamente: todos precisam entender que o Estado intervencionista que cria dificuldades para vender facilidades e que concentra muita riqueza em suas mãos sempre será um produtor de tumores malignos em potencial. Se a ocasião faz o ladrão, é preciso reduzir o número de ocasiões.
Alimentar esperanças de que, um belo dia, surgirá uma nova geração de agentes políticos tão honesta a ponto de lidar com tanto poder e manter-se na linha chega a ser pueril – seria como tragar a fumaça de duas caixas de cigarros todo dia e achar que o pulmão vai aguentar o tranco na boa. Torcer para que os órgãos impositores da lei consigam capturar e punir todos os criminosos é mais ingênuo ainda – equivale a apostar que os médicos conseguirão curar toda e qualquer doença que nos acometa, dispensando a medicina preventiva.
Não. A corrupção não é um problema; ela é, em verdade, o pior sintoma do verdadeiro problema: o leviatã em que se transformou o Estado brasileiro. E antes que precisemos amputar órgãos inteiros para nos livrar das pragas dele advindas, muito mais salutar é reduzir seu escopo de atuação. Ou isso, ou a UTI será convertida em nossa eterna moradia…
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