O fluxo migratório da América Latina para os Estados Unidos não é de hoje, claro, e é até possível saber qual país latino-americano enfrenta mais dificuldades no momento apenas analisando a quantidade de imigrantes que chegam na Flórida. E a bola da vez parece ser o Brasil mesmo.
Onde moro, em Weston, a quantidade de venezuelanos é enorme, a ponto de a cidadezinha ter sido apelidada de Westonzuela. Mas, de uns tempos para cá, tem chegado muito brasileiro, e talvez seja o caso de mudar o “nickname” para Westonzil.
Já tivemos várias crises no passado, como na década de 1990, e por isso milhões de brasileiros vivem nos States. Mas é fácil perceber uma diferença qualitativa nesse novo fluxo: se antes muita gente vinha com uma mão na frente e outra atrás, em busca de qualquer oportunidade de trabalho, hoje vemos uma elite abandonando o Brasil para, com mais tranquilidade, escolher novas oportunidades e empreender por aqui.
É um fluxo preocupante da nata do nosso capital humano, que produz riqueza e empregos, mas que cansou de apanhar tanto no Brasil, com uma burocracia asfixiante, uma carga tributária indecente, e uma total falta de segurança. São pessoas que estavam bem em seu país, do ponto de vista profissional, e mesmo assim resolveram abandonar suas carreiras e, em muitos casos, reinventar totalmente sua trajetória.
Em minha pequena amostra de alguns vizinhos posso notar isso com nitidez. Falarei de alguns casos concretos, para deixar claro que se trata de gente capaz de arrumar facilmente um emprego no Brasil, mas que decidiu ousar, arriscar, cansada de apanhar em nosso país dominado pelo esquerdismo.
Vejamos o caso de Duda Soares. Judoca faixa preta, com medalha internacional, um dos criadores do Instituto Reação, junto de seu amigo e medalhista olímpico Flávio Canto, que formou centenas de lutadores em comunidades carentes, inclusive Rafaela Silva, que levou o ouro nas Olimpíadas, Duda poderia estar com várias academias lotadas Brasil afora. Mas ele resolveu abrir uma academia em Weston. Ainda tem alunos seus dando aulas no Brasil, com o uso de sua marca DSJJ, além de uma academia em Estocolmo, na Suécia. Mas o Brasil perde sem sua presença local, sem dúvida.
Rogério Garduzi trabalhava numa multinacional de tecnologia em São Paulo, mas estava saturado da violência e do PT. Parte de sua família já morava fora do Brasil, inclusive em Weston. Ele resolveu, então, largar o emprego e se reinventar por aqui. Hoje estuda culinária e está investindo em uma rede de delicatessen chamada Deli’n Cucina, feliz da vida fazendo o que gosta, e acima de tudo: em segurança.
Um respeitado médico, Gustavo Teixeira cansou da “malandragem” típica do Brasil e resolveu morar nos Estados Unidos, onde já tinha estudado antes. Passou pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ, é pós-graduado em Dependência Química pela USP, Saúde Mental Infantil pela SCMRJ, e possui curso de extensão em Psicofarmacologia da Infância e Adolescência pela Harvard Medical School. Além disso, é mestre em Educação pela Framingham State University, nos Estados Unidos, e palestrante internacional em inclusão e educação especial.
Gustavo Teixeira é um dos responsáveis pela popularização de livros psicoeducacionais no Brasil. O autor já vendeu mais de 150.000 exemplares. Com esse invejável currículo, eis que Gustavo veio produzir riqueza e conhecimento nos Estados Unidos, dando aulas e empreendendo numa start-up de educação, chamada CBI. Tive a honra de ser convidado por ele para escrever o prefácio de seu novo livro, justamente sobre empreendimento. O Brasil “expulsou” alguém com esse perfil.
Paula Mescolin já fez inúmeras coisas diferentes, inclusive ligadas à produção de eventos. Hoje ela trabalha no Duty Free Partners como executiva brasileira de Visual Merchandising e Purchasing – Travel Retail, desenvolvendo negócios no eixo LATAM. Ela se especializou no comportamento de consumo latino-americano. A formação dela em moda e design maximiza a gestão do departamento de compras do grupo, por compreender o comportamento estético e as tendências de mercado. Com conhecimento de estratégias comportamentais para conduzir o consumidor ao ato da compra, o Duty Free tem obtido excelentes resultados, o que faz dela uma expert em merchandising em setores antes inexpressivos. Paula justifica a opção da empresa:
Seria bastante viável encontrar um profissional americano tecnicamente qualificado para o trabalho de compras para o DFree, mas vejo que executivos latinos como eu atuam com uma percepcão mais concreta das demandas desse nicho. Creio ser mais facil para nós porque conhecemos hábitos e valores culturais do público latino-americano. Esse conhecimento precioso é traduzido em resultados palpáveis nas vendas, tanto para a empresa como para os países onde estamos com nossas lojas. Nada mais justo do que gerar lucro para os países que nos recebem bem, como os Estados Unidos, ao passo em que abrimos portas para marcas e serviços de ponta em países latinos com os quais temos boas relações.
Maurício Sobral é nosso “prefeito” informal em Weston, pois conhece todos os brasileiros daqui. Já teve comércio no Brasil e já trabalhou em agência de design. Sua esposa, Paula, atua na área financeira, voltada para clientes latino-americanos. Sobral tirou licença do Uber e, sem qualquer medo de trabalho, acordava várias vezes de madrugada para buscar a turma no aeroporto. Hoje tem uma empresa de transporte, além de ter investido no serviço de entrega domiciliar de comida brasileira, a Bayd (Brazil At Your Door), e agora abriu a RememBR, loja de produtos brasileiros que já virou o point do pessoal. Sobral está empreendendo, mas não no Brasil, pois o ambiente de negócios é muito melhor por aqui.
Por fim, temos a turma por trás do GAA (Ganhando A América), grupo que começou como uma rede de ajuda no WhatsApp e virou um empreendimento ambicioso com braço de investimentos, de eventos e de parcerias comerciais. Foi pela GAA que fiz uma palestra voltada para adolescentes sobre conceitos básicos de finanças.
Essa é uma pequena amostra apenas com base em alguns vizinhos meus. Agora imagine a quantidade de brasileiros com formação de alto nível, com ambição para empreender e determinação para trabalhar, que tem produzido riqueza fora do Brasil, porque seu país natal não soube oferecer o mínimo para segurar essas pessoas por lá. Sem mudanças estruturais em nosso país, vamos, infelizmente, continuar observando esse “brain drain”. Os americanos agradecem…
Quanto o Brasil perde em termos de riqueza produzida? E dá para culpar essa gente toda que resolve ir embora? Não seria mais racional – e até patriótico – questionar o que tem feito tanta gente boa desistir de seu próprio país para morar e produzir em terras distantes, mais capitalistas, com maior império das leis, ambiente de negócios mais favorável e, acima de tudo, mais segurança?
Rodrigo Constantino
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