Nova pesquisa divulgada pela Folha mostra um Brasil dividido entre os que pedem mais ou menos estado:
Para 47%, quanto mais benefícios receber do governo, melhor. Para outros 47%, quanto menos a pessoa depender do governo, melhor.
No Nordeste, a região mais pobre do país, e entre pessoas que recebem até dois salários mínimos, estrato mais baixo de renda, a preferência pela ajuda do governo atinge 53%.
Outra questão que divide bastante a população tem a ver com a elevada carga tributária do país e a qualidade dos serviços que o governo oferece. Para 49%, seria preferível pagar menos tributos e contratar serviços particulares de saúde e educação.
É o que pensam 60% das pessoas que ganham mais de dez salários mínimos. A formulação alternativa, pagar mais impostos e ter saúde e educação gratuitas, é preferida por 43% da população.
O Datafolha faz pesquisas sobre as preferências ideológicas da população desde setembro de 2012, mas esta foi a primeira vez em que os assuntos econômicos foram incorporados ao questionário. Foram realizadas 4.557 entrevistas em 194 municípios, nos dias 28 e 29 de novembro.
Os resultados mostram que o brasileiro médio preza valores comportamentais de direita, mas manifesta acentuadas tendências de esquerda no campo econômico.
Em todo o país, 41% identificam-se mais com ideias de esquerda ou centro-esquerda. Outros 39% são mais simpáticos aos valores de direita ou centro-direita.
A pesquisa deixa evidente a simpatia que os brasileiros têm pela ação do Estado. Quase 70% acham que o governo deveria ser o principal responsável pelo crescimento econômico do país, e não as empresas privadas.
Além disso, 58% entendem que as instituições governamentais precisam atuar com força na economia para evitar abusos das empresas.
Ainda é um retrato de um país com muita fé no “deus” estado, sem dúvida. Mas isso nós sempre soubemos. O histórico do Brasil e sua cultura patrimonialista sempre favoreceram aqueles que pregam mais estado e atacam a iniciativa privada.
O que chama a atenção, portanto, é a expressiva parcela que não compactua mais com essa receita. Metade dos entrevistados gostariam de menos impostos e menos interferência estatal. Não é uma parcela nada desprezível.
Entretanto, não é o que vemos na via política. Quando saímos do povo para os políticos, há uma perda de elo representativo. Afinal, todos os partidos defendem mais estado, mais intervenção.
Não temos, no Brasil, um partido abertamente liberal na economia e conservador no comportamento, o que soa muito estranho, pois, segundo essa pesquisa, teria ampla aceitação popular.
Um partido que fosse a favor de mais liberdade econômica, menos impostos, e proibição das drogas e do aborto aparentemente canalizaria o apoio de boa parte da população. Mas onde está esse partido?
Não resta dúvida de que existe uma demanda reprimida grande no jogo político nacional. Para mim, há claro espaço tanto para um partido mais liberal mesmo, na economia e no comportamento, como um conservador, liberal na economia, mas não no comportamento.
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