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Por João César de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

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Já que, enfim, Lula está sendo enquadrado pela justiça, creio ser pertinente fazermos um breve resumo do seu primeiro mandato, no qual foi iniciada a degradação política e institucional que enoja a sociedade brasileira.

2003.

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Em 1° de janeiro, a cerimônia de posse foi precedida por shows de música que entreteram 100 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.

No Congresso Nacional, diante de uma plateia que contava com as presenças de Fidel Castro e de Hugo Chaves, Lula utilizou seu discurso para filosofar sobre honestidade e ética. “Ser honesto é mais do que não roubar; é também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos”, disse. Foi aplaudido de pé.

Na mídia, não havia espaço para nada além da celebração do “homem do povo” que havia chegado à Presidência da República.

No Parlatório, um sorridente Fernando Henrique Cardoso passou a faixa presidencial à Lula como quem passa o comando da churrasqueira ao melhor amigo.

No Palácio do Planalto, uma grande festa organizada pelo marqueteiro Duda Mendonça (ex-marqueteiro de Paulo Maluf) foi oferecida às delegações estrangeiras e a convidados especiais.

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O primeiro time ministerial promoveu as primeiras bizarrices do governo Lula, destacando-se as propostas de se dar “uso mais social” às forças armadas. O ministro dos esportes propôs abrir os quarteis para práticas esportivas. O ministro dos transportes propôs mandar o exército construir estradas. O ministro da educação propôs utilizar o exército para erradicar o analfabetismo. O exército foi indicado até para acabar com a pobreza.

Ao mesmo tempo em que reafirmava o compromisso de erradicar a miséria, Lula criava secretarias, distribuía cargos e dava plena liberdade para seus companheiros se utilizarem do dinheiro público como bem quisessem. Quanto mais próximo ao presidente, mais liberdade se tinha. Gastos, de todos os tipos, foram multiplicados em questão de meses. Apenas o Palácio do Planalto gastou, por meio dos cartões corporativos, R$ 125 milhões naquele ano.

Ficava evidente o caráter demagógico do PT. Quando Fernando Henrique Cardoso criou os tais cartões corporativos, os petistas prometeram investigar seus gastos assim que pudessem. Logo após Lula tomar posse, o sigilo desses gastos passou a ser uma questão de segurança nacional.

Evidenciou-se também a estratégia de calar adversários entregando-lhes nacos do poder. Ciro Gomes, o mais ferrenho crítico do PT durante a campanha eleitoral do ano anterior, na qual também era candidato à presidência, aquietou-se logo que recebeu de presente o Ministério da Integração Nacional, criado especialmente para ele.

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Comprovando que socialistas gostam mesmo é de luxo pago com dinheiro dos outros, uma das providências do novo governo foi reformar e reaparelhar a Granja do Torto e o Palácio do Planalto. Aviário e sala de ginástica foram construídos. Numa das listas de compras, constavam 2 mil latinhas de cerveja, 610 garrafas de vinho, 150 jogos de cristais lapidados a mão, 600kg de bombons, 2 mil vidros de pimenta envelhecidas em barril de carvalho e 6 mil barras de chocolate. Enxovais novos também foram encomendados, destacando-se os roupões feitos de fios egípcios.

Lula não esperou chegar nem na metade de seu primeiro ano no poder para assinar um decreto que dava total poder ao Ministro da Casa Civil, José Dirceu, para criar cargos de confiança e nomear quem quisesse para ocupá-los. Resultado: 15 mil cargos criados em oito meses de governo.

O jeito petista de distribuir cargos foi simbolizado pela nomeação de Paulo Okamoto a uma das diretorias do SEBRAE. O detalhe é que o agraciado havia pago despesas pessoais de Lula no ano anterior − dois anos depois, Okamoto foi alçado à presidência da empresa e em 2011 ajudou a fundar o Instituto Lula, do qual é o atual presidente.

Não havia pudores. Como diretora do Instituto Nacional do Câncer, foi nomeada uma senhora cuja experiência se resumia a pasta de parques e jardins da prefeitura do Rio de Janeiro.

No esforço de se apagar da história toda e qualquer medida positiva do governo anterior, os programas sociais criados por FHC foram unificados e batizados como Bolsa Família, nome dado por Duda Mendonça.

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Pouco antes, fora criado o programa Fome Zero, que consumiu R$ 24 milhões para ser idealizado, mas que foi lançado sem ter sequer uma conta bancária aberta para receber as doações. Para gerenciá-lo, foram criadas seis secretarias e um ministério. A Secretaria da Mobilização Social foi instalada no Palácio do Planalto, mas ficou ali por pouco tempo. Algumas semanas. Assim que o programa foi anunciado, o gabinete foi transferido para um anexo na esplanada. Em seu lugar foi instalado o “gabinete” da primeira-dama, Marisa Letícia, uma inovação do governo petista.

O programa Fome Zero fracassou, assim como o programa Primeiro Emprego que, após um ano, havia criado menos de 600 empregos.

João Paulo Cunha, então Presidente da Câmara, também inovou ao chamar o batalhão de choque da PM para conter as manifestações contra a reforma da previdência. Pela primeira vez na história do Brasil, a polícia desceu o pau dentro do Congresso Nacional.

O primeiro petista corrupto a ser agraciado com a proteção do governo foi o então governador de Roraima, acusado pela Polícia Federal de ter desviado nada menos do que R$ 200 milhões.

O primeiro petista a abandonar o partido foi Fernando Gabeira, indignado com a complacência de Lula em sua visita a Cuba na época em que Fidel Castro havia mandado fuzilar três e condenado à morte quatro opositores.

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A primeira reunião do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores desde que Lula havia sido eleito ocorreu num luxuoso hotel de Brasília. Nela se definiu a aliança com o PMDB. José Sarney, de histórico vilão foi convertido a aliado importante e muito bem recompensado. Só em seu estado, o coronel maranhense indicou 36 pessoas para cargos em órgãos federais.

A generosidade com que Lula tratava seus apoiadores provocou uma onda migratória no Congresso. Só não foi para a base do governo quem não quis. O PMDB passou de 69 para 77 deputados. O PTB passou de 41 para 55. O PP passou de 43 para 47. O PL passou de 33 para 43. O PSDB e o PFL (DEM) perderam 12 e 8 deputados, respectivamente.

Lula bateu todos os recordes de viagens. A países do terceiro mundo e sem relevância comercial, foram 21 visitas, sempre levando centenas de pessoas nas comitivas. Perdoou dívidas, anunciou financiamentos e fez doações a ditaduras africanas.

Parecendo ainda estar em clima de campanha, Lula era visto quase todos os dias em algum palanque esbravejando contra as elites e elogiando a si mesmo.

2004.

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Seu segundo ano na presidência começou com o Ministério do Planejamento anunciando a substituição do avião presidencial, conhecido como “sucatão”. Uma ideia rejeitada por Fernando Henrique Cardoso sob o argumento de contenção de despesas. Lula optou por um modelo da Airbus em vez de um modelo semelhante, fabricando pela Embraer. Foram gastos R$ 57 milhões na compra da aeronave e U$ 13 milhões em sua decoração.

No mês de fevereiro eclodiu o primeiro o escândalo de corrupção envolvendo o poder executivo. Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu, foi flagrado em vídeo cobrando propina para o PT e para ele próprio. Foram apenas dois dias de desconforto. Logo Lula e toda a militância petista saíram em defesa do acusado. Semanas depois, também veio a público o envolvimento de Delúbio Soares, tesoureiro do PT.

Iniciava-se uma longa e contínua pauta política-policial envolvendo membros graúdos do Partido dos Trabalhadores.

Um mês depois da divulgação da fita do Waldomiro, o governo conseguiu impedir a criação da CPI que investigaria a morte do petista Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, cujo assassinato era visto por muitos como queima de arquivo, já que a vítima foi apontada pelo seu próprio irmão como membro de um esquema de cobrança de propina em benefício de campanhas do PT.

Para impedir que o assunto dominasse a mídia, foi anunciada a Expo Fome Zero, um evento que daria pauta positiva ao governo. O detalhe é que o evento seria organizado pelo Ministério da Segurança Alimentar, extinto semanas antes. Lula fez uma dúzia de discursos sobre o evento que não foi realizado.

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As inovações petistas continuavam: Lula foi o primeiro Presidente da Republica pós-regime militar a expulsar um jornalista do país. A vítima foi Larry Rotter, do New York Times, que ousou escrever uma matéria sugerindo que Lula bebia demais.

No mesmo mês de maio a Polícia Federal desencadeou a Operação Vampiro, que levantou um desvio de mais de R$ 2,3 bilhões dos cofres públicos. Entre os envolvidos, o então ministro Humberto Costa (atual líder do governo no senado) e novamente Delúbio Soares, posteriormente condenado no processo do mensalão.

Veio a público também que o petista José Mentor (hoje investigado pela Operação Lava Jato) se utilizava de documentos e informações da CPI do Banestado, da qual era o relator, para extorquir empresários.

Desde que Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto, o uso da máquina estatal e do dinheiro público passou a ser um procedimento tão rotineiro que os petistas não se davam nem ao trabalho de esconder seus feitos. Um exemplo: Para angariar fundos para a construção de sua sede em São Paulo, o PT promoveu um show privê do Zezé de Camargo e Luciano numa famosa churrascaria e mandou o Banco do Brasil comprar os ingressos ao custo de R$ 1 mil cada um.

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Entre os absurdos cotidianos e as sistemáticas negações e retóricas de Lula e do PT, o governo tentou aprovar o Conselho Federal de Jornalismo, eufemismo para órgão de censura, que teria a missão de “orientar, disciplinar e fiscalizar” a atividade dos jornalistas, prevendo um código de conduta e penas para os infratores.

Era apenas o segundo ano de governo e os petistas já se sentiam acima da lei, da ética e da moral. Quando um vereador petista foi preso numa rinha de galo na companhia de Duda Mendonça, tudo foi resolvido com um telefonema dado pelo marqueteiro ao ministro da justiça. O flagrante não provocou o repúdio de nenhum artista e de nenhum grupo de defesa dos direitos dos animais. Na imprensa, o caso mereceu pouca atenção.

Era ano de eleições municipais e o Partido dos Trabalhadores nunca se vira com tanto dinheiro em caixa. Desde que Lula foi eleito, seus recursos foram multiplicados. Em 2004, o PT gastou em suas campanhas mais de R$ 100 milhões de reais, enquanto PSDB, PFL (atual DEM) e PMDB gastaram, somados, R$ 90 milhões. Em São Paulo, a campanha da Martha Suplicy à prefeitura contratou 4 mil cabos eleitorais.

A quase totalidade da imprensa negou-se a fazer um simples questionamento: De onde vinha o dinheiro?

O clima eleitoral desviou o foco da notícia dos 800 kg de camarão comprados pelo ministério da defesa de uma só vez, mas bastou as eleições terminarem para a Polícia Federal deflagrar a Operação Pororoca, enquadrando petistas até então anônimos no crime de desvio de mais de R$ 100 milhões, no Amapá.

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Foi nesse ano que Lula gravou seu bordão “Sou brasileiro, não desisto nunca”. Bordão coerente com os dias em que vivemos hoje, com o próprio Lula insistindo em ser visto e tratado como Deus.

2005.

A primeira grande notícia do ano foi o anúncio de que Lula pagaria a dívida do país com o FMI. Foi assim mesmo que foi anunciado. Não seria o governo que pagaria a dívida. Seria Lula. Porque Lula quis. Porque Lula é bom. Porque Lula quer o melhor para o Brasil. Mas as comemorações não duraram muito. Logo explodiria o escândalo dos Correios, que levaria ao escândalo do mensalão, escancarando o jeito petista de governar.

Todos os esquemas foram publicados em jornais e revistas e noticiados na televisão devidamente amparados por vídeos, documentos, extratos bancários e testemunhos de pessoas ligadas ao PT e ao Presidente da República. Duda Mendonça afirmou ao vivo e para todo o Brasil que a campanha de Lula à presidência foi paga com dinheiro ilegal, vindo de contas no exterior, um crime descrito em lei e que previa – e ainda prevê − como pena o cancelamento do registro do partido e a cassação da chapa eleita.

Houve quem dissesse que aquele era o fim do PT e do governo Lula. Alguns petistas bandearam-se para outros partidos da esquerda. O Ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, respondeu as acusações dizendo que tudo não passava de uma tentativa de golpe das elites.

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Outros esquemas vieram a público. Desvio de dinheiro em Furnas, na Infraero e na Eletronuclear. Desgraça do PT e de Lula? Não. Ambos se safaram com extrema desenvoltura. Aos parlamentares, foram liberados R$ 400 milhões, cifra elevada considerando que o governo repassou a todos os ministérios, nos cinco primeiros meses daquele ano, R$ 271 milhões.

Apesar da pesquisa divulgada pelo Datafolha publicada em 5 de junho, que dizia que 65% dos entrevistados consideravam o governo corrupto, Lula contava com a defesa de sindicatos, artistas, intelectuais, movimentos sociais e da maioria dos meios de comunicação.

Em discurso transmitido em cadeia nacional, Lula disse que a corrupção era uma vergonha, mas que nem seu governo nem ele tinha qualquer relação com isso. Lula assumiu que houve caixa-dois em sua campanha, porém, disse que seria hipocrisia ser condenado por algo que “todo mundo faz”.

Os partidos vistos como “oposição” preferiram se conter para não serem vistos como oportunistas e golpistas. FHC e Aécio Neves não tiveram vergonha em defender Lula. Na grande mídia, não se contava nem meia dúzia de jornalistas que se manifestavam contra os métodos coercivos do governo.

Por conta do escândalo do mensalão, José Dirceu se viu obrigado a deixar a Casa Civil. Despediu-se do cargo com a clássica retórica petista: “A elite reacionária quer derrubar o governo socialista e popular do presidente Lula”. Foi substituído por uma tal Dilma Rousseff.

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Foi nesse ano que aconteceu o Foro de São Paulo, evento bancado com dinheiro público brasileiro e que reuniu na capital paulista a mais alta corja do socialismo latino-americano. Foram traçados os planos para que partidos de esquerda chegassem ao poder noutros países e acertados acordos de ajuda mútua.

Na França, aconteceu o “Ano do Brasil”. Os diversos eventos que foram realizados no país justificaram uma verdadeira farra com dinheiro público brasileiro. Hordas de artistas, intelectuais, de funcionários públicos, de ativistas e de políticos foram enviadas ao berço da intelligentsia socialista. Aproveitando-se do clima, o governo brasileiro assinou mais um acordo em que a França lucrou e o Brasil perdeu: A compra de uma dúzia de caças sucateados.

O sucesso político de Lula contagiava os empreendimentos de seus filhos. Fábio Luiz Lula da Silva, conhecido como Lulinha, teve sua inexpressiva empresa agraciada com a injeção de R$ 5 milhões por parte de uma grande empresa de telefonia exatamente na mesma época em que o governo federal revia as regulações do setor.

Quase no mesmo dia, um assessor de José Genoíno foi preso no aeroporto de Congonhas com R$ 200 mil numa maleta e US$ 100 mil na cueca.

No mês seguinte, Antônio Palocci, então Ministro da Fazenda, foi delatado por um ex-assessor que afirmou que ele recebia uma “caixinha” de R$ 50 mil por mês de uma empreiteira, quando era prefeito de Ribeirão Preto.

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Nova pesquisa do Datafolha apontava que 78% dos brasileiros acreditavam que o governo era corrupto.

Lula continuava a ser um paradoxo político. Mantinha-se forte no governo apesar da maioria da população crer que ele tinha conhecimento dos esquemas de corrupção que estampavam os jornais. Lula sustentava-se em três pilares: Militância forte, coesa, bem remunerada e distribuída em todos os nichos sociais e em todos os níveis do estado; o aparente desenvolvimento econômico e social do Brasil; Bolsa Família.

2006.

O ano começou com o comparecimento de Antônio Palocci à CPI dos Bingos. Foi acompanhado de José Sarney e de Renan Calheiros, que lhe prestaram apoio moral. Na mesma seção, outro ex-assessor de Palocci afirmou que a campanha de Lula à presidência recebeu US$ 3 milhões de Cuba. A acusação repercutiu na mídia por apenas um dia, antes de desaparecer do noticiário.

Dois meses depois, o caseiro de uma mansão em Brasília, utilizada para reuniões políticas e orgias com prostitutas de luxo, declarou em entrevista ao Estadão que Antônio Palocci era um dos frequentadores. Outra testemunha confirmava a acusação. Nas reuniões, eram discutidos os termos dos esquemas de favorecimento entre governo e empresas. Todas as despesas eram pagas em dinheiro vivo, levado em malas.

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Lula, bem ao seu estilo, saiu em defesa de Palocci. Desqualificou o caseiro.

Antônio Palocci reagiu mandando a Caixa Econômica vasculhar a vida bancária do rapaz. Os R$ 25 mil descobertos em sua conta foram plantados na mídia como sendo pagamento do PSDB pelo serviço de uma falsa acusação. Não era. O dinheiro fora depositado pelo pai do caseiro, referente a um acordo de reconhecimento de paternidade.

Palocci foi substituído no Ministério da Fazenda por Guido Mantega, até então presidente do BNDES.

Em setembro, dois filiados do PT foram detidos num hotel em São Paulo com nada menos do que R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo que, segundo eles, seria utilizado para comprar um falso dossiê sobre José Serra.

Enquanto Lula, diante dos holofotes, repudiava a ação de seus companheiros, seu governo tratava de abafar o caso para que o episódio não respingasse na campanha eleitoral em curso.

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Sua campanha à reeleição foi baseada na estratégia de fazer falsas e sistemáticas afirmações sobre o adversário para obrigá-lo a perder mais tempo desmentindo-as do que falando de seus projetos. Alckmin teve que repetir mil vezes que não privatizaria a Petrobrás. Lula foi reeleito.

A fantástica versão da realidade social e econômica martelada cotidianamente na cabeça dos brasileiros escondia números em nada elogiáveis. Desemprego em 8,4%. Crescimento econômico abaixo da média mundial e quase a metade da média dos países do chamado BRICs. Os índices de saneamento básico, de educação, de saúde e de segurança pública continuavam tão vergonhosos quanto antes da chegada de Lula ao poder.

Em apenas um mandato, Lula concentrou a produção econômica nas mãos do estado como nenhum outro governo havia feito após o regime militar. A participação do governo no setor petroquímico passou de 46% para 63%; nas termelétricas, pulou de 11% para 44%; na distribuição de combustíveis, foi de 24% para 32%. A indústria como um todo perdeu 10% para o agronegócio.

A política intervencionista do governo Lula não se dava apenas através de regulações e do aparelhamento das estatais. Por meio do BNDES, o governo passou de 24 participações em empresas privadas em 2002 para 37 em 2006.

Os altos preços das commodities engordaram o caixa da União na mesma proporção em que o governo injetava dinheiro nas maiores empresas do país, nos sindicatos, nos movimentos sociais, na imprensa chapa-branca e na classe artística. O pouco que sobrava era dividido entre programas sociais e projetos de infraestrutura.

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A “redução da pobreza” festejada pelo governo se deu por causa da mudança dos critérios de avaliação, que fez com que milhões de pessoas fossem alçadas, do dia para a noite, da classe baixa para a classe média. Engodo. Não houve nem uma coisa nem outra. Não havia toda a pobreza anunciada e os miseráveis que existiam não se tornaram outra coisa.

Na época, o IBGE divulgou uma pesquisa que indicava que apenas 4% da população se encontrava na extrema pobreza quando Lula chegou ao poder. Ou seja: Lula não herdou um país assolado pela miséria. A título de comparação, o Haiti contava com 19% de miseráveis, a Etiópia com 38% e a Índia com 49%.

Sim, 4% da população representava, naqueles anos, quase 4 milhões de pessoas. É muita gente. Porém, essas pessoas continuavam miseráveis ao final do primeiro mandato de Lula. Nada mudou. O sertão nordestino continuava do jeito que sempre foi.

Lula foi reeleito dizendo que ele havia mudado o Brasil, quando na verdade a maior parte da população continuava vivendo em bairros insalubres e sendo assistida por péssimos serviços públicos. A única diferença era que, como “nunca antes na história desse país”, milhões de pessoas pobres puderam comprar televisores modernos para ver novela e futebol.

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O Instituto Data Favela publicou, em 2014, uma pesquisa que registra que para 96% dos moradores das favelas brasileiras, NÃO foi o governo o responsável por sua melhoria de vida. 40% creditavam a Deus, 42% a si mesmos e 14% a ajuda da família.

A “inclusão social” que também era comemorada por Lula foi uma bem-sucedida estratégia para desviar o foco sobre a péssima qualidade do ensino público. Em vez de melhorar o ensino básico para que os estudantes mais pobres tivessem mais condições de competir por vagas nas universidades públicas, Lula preferiu criar programas de cotas. Comprovando o caráter discriminatório do socialismo, estudantes mais capacitados perderam vagas para estudantes menos capacitados em função da tonalidade da pele. Lula reinstitucionalizou o racismo no Brasil.

Completando a política da “inclusão social” do PT, foram promovidos inúmeros concursos, contribuindo para o inchaço das contas públicas e jogando no lixo todo o esforço do governo anterior em equilibrar as contas da União.

Por fim, o objetivo de Lula de se diferenciar de seu antecessor não foi totalmente atingido. Lula gastou em propaganda o mesmo que FHC. Média de R$ 1 bilhão por ano.

Bibliografia recomendada:

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Aldo Musacchio e Sergio Lazzarini, Reinventando o capitalismo de estado.

Marco Antônio Villa, Década perdida.

Paulo Rabello de Castro, O mito do governo grátis.

Renato Meirelles e Celso Athayde, Um país chamado favela.

Diogo Mainardi, A tapas e pontapés.

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Diogo Mainardi, Lula é minha anta,

Lucia Hippolito, Por dentro do governo lula.

Rodrigo Constantino, Estrela cadente.

Reinaldo Azevedo, O país dos petralhas (I e II).

Bruno Garschagem, Pare de acreditar no governo

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