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A imprensa pinta o seguinte quadro: do lado dos que desejam a saída da Inglaterra da União Europeia estariam os nacionalistas obtusos, preconceituosos, que desejam se fechar ao mundo, ou seja, os Donalds Trumps europeus; do lado dos que querem a permanência estariam os esclarecidos “liberais”, de mente aberta, aqueles seres ungidos e universalistas que rejeitam o tacanho conservadorismo. Mas será que a coisa é mesmo assim?

Sou da tese de que essa “extrema-direita” nacionalista existe mesmo, e tem crescido, mas não só não representa o grosso dos insatisfeitos que desejam mudanças, como são resultado direto das próprias práticas “liberais”. O projeto de união forçada da Europa foi, desde o começo, fruto de mentes coletivistas e utópicas, que queriam criar os Estados Unidos da Europa de cima para baixo, algo imposto aos cidadãos. Não funciona direito dessa forma.

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Além disso, o modelo de estado de bem-estar social (welfare state) europeu não combina bem com a liberalização plena das fronteiras. O fenômeno conhecido como “carona grátis” será resultado dessa combinação explosiva. Não deixa de ser uma forma de socialismo: os alemães trabalham para pagar a conta dos gregos. A livre imigração só funciona com a responsabilidade individual. Sim, os Estados Unidos da América foram criados à base de imigrantes, mas eles não iam em busca de “tudo grátis” no passado, e sim de oportunidades melhores de trabalho.

Logo, o modelo de welfare state casado com união fiscal e livre imigração produz xenofobia. Le Pen é o resultado direto da utopia socialista europeia. Para piorar, o cidadão sente que abriu mão de sua soberania nacional em troca de “burocratas sem rosto”, ou seja, representantes que não foram eleitos e ficam distantes, em Bruxelas, controlando cada vez mais. É muito poder para pouca representação, e quem quer que aprecie o moto da Revolução Americana – “no taxation without representation” – será simpático aos indignados.

Como Nigel Farage, líder do Ukip, retratado pela imprensa esquerdista como um partido “ultranacionalista” e de “extrema-direita”, mas que, na prática, faz ótimos discursos em defesa da independência britânica contra esse globalismo coletivista europeu. Da mesma forma que Trump captura um sentimento legítimo de revolta nos Estados Unidos, de todos cansados do coletivismo de Obama, Farage fala aos milhões saturados dessa perda de independência e falta de accountability dos governantes europeus.

João Pereira Coutinho escreveu uma ótima coluna hoje sobre o assunto, bancando o “advogado do diabo”, ou seja, defendendo o caso dos que anseiam pela saída do Reino Unido. Começa lembrando que a afirmação de que a união forçada trouxe a paz à região é, no mínimo, incompleta, pois deixa de fora o “detalhe” da presença americana no continente, com seus mísseis apontados a Moscou. Segue comentando sobre a crise interminável da zona do euro, argumentando justamente em prol da soberania dos países, hoje perdida, inclusive em relação ao direito de decidir sua política econômica.

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Passa pela política de imigração também: até que ponto um país deveria abrir mão dessa prerrogativa, ainda mais num mundo cada vez mais ameaçado pelo terrorismo islâmico e dominado pela retórica “progressista” do multiculturalismo politicamente correto? Vejam que até Portugal, país de Coutinho, resolveu endurecer com imigrantes ilegais, o que inclui grande grupo de brasileiros. Deveria um país abandonar esse direito em prol de uma união globalista? Coutinho conclui:

Como discordar? A união socialista forçada tem produzido como reação o recrudescimento do nacionalismo xenófobo, justamente o que os arquitetos do projeto pretendiam evitar. Não seria hora de rever o modelo? Não teria chegado o momento de abandonar a “arrogância fatal” dos que encaram as sociedades como tabuleiros de xadrez e os indivíduos como seus peões, que podem ser manipulados ao bel prazer dos “ungidos”? Os governantes e “intelectuais” precisam colocar as mãos em suas consciências e se perguntar: o projeto foi um sucesso mesmo?

Rodrigo Constantino