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Não pretendo, ao contrário do que fez Reinaldo Azevedo, defender William Waack. O vídeo que vazou (e como, por quem e por quê são questões relevantes) é lamentável. O jornalista fez uma piada racista, é fato. O que não comprova que ele seja racista de fato, que fique claro.

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Piadas muitas vezes são isso mesmo: apenas piadas, como um charuto pode ser apenas um charuto, mesmo para Freud. Elas podem ser infelizes, e diria que no mundo chato de hoje, asfixiado pelo politicamente correto, quase toda piada é infeliz e proibida, pois as “minorias” não podem mais ser alvo delas. Para ficar na zona de conforto, só mesmo se fizer troça com homem heterossexual branco e cristão.

Dito isso, o linchamento público moralista tem sido um espetáculo horroroso de se ver, mais do que qualquer ofensa racista do jornalista. Reinaldo Azevedo disse sobre o caso:

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Parto do princípio de que William falou o que dizem que falou — embora a coisa seja inaudível. Ele próprio faz o mesmo e, por isso, pediu desculpas aos que se sentiram ofendidos. Está longe de ser o amigo mais bem humorado de seus amigos, mas, à diferença do que escrevem os parvos, não manifestava irritação naquela hora. Se disse ser aquilo “coisa de preto”, ia no gracejo um dado referencial: um “outsider”, de direita, com rompantes de extrema-direita, acabara de vencer a eleição no confronto com a candidata de Barack Obama. Negros e imigrantes constituíram as duas forças mais militantemente organizadas contra Trump.

“Ah, mas a piada foi infeliz…” É estupefaciente que isso esteja em debate. Quantos dos que me leem ou dos que atacam William nas redes resistiram à exposição pública de falas privadas? Se disse aquilo, não o fez para que fosse ao ar. Não era matéria de interesse público. Tratava-se de uma conversa privada. Ainda que a fala revelasse um juízo pessoal depreciativo sobre Obama, os “pretos” ou sei lá quem, o que importa é o seu trabalho, é o que diz no ar, é a sua contribuição ao debate civilizado.

Ok, Reinaldo. Eu também tenho simpatia por William Waack, apesar de ter estado com ele uma única vez, quando ele me confessou ser meu leitor e até comentar, com pseudônimo, no meu blog. Acho ele um excelente jornalista. E Azevedo toca num ponto importante: Quantos resistiram à exposição pública de falas privadas?

Dito isso, duas coisas: 1) a fala não foi “inaudível”, pois está claro que ele disse o que disse, uma fala infeliz, na melhor das hipóteses uma brincadeira estúpida, que certamente não deveria ter sido vazada (e o fato de ter sido levanta suspeitas); 2) Bolsonaro é, por acaso, um estuprador, um defensor de estupradores? Quem o conhece sabe bem que não, mas isso não impediu Reinaldo de fazer sua caveira quando o deputado disse, em momento de raiva por ser interrompido por uma comunista, que a figura abjeta em questão não merecia ser estuprada. Qual seria a sua reação se a fala vazada fosse de Jair Bolsonaro? Por que o duplo padrão?

Nesse aspecto, Reinaldo apela para o mesmo duplo padrão da esquerda. Que, aliás, é o meu ponto-chave nesse episódio todo, como comentei no meu Facebook:

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Se William Waack fosse socialista, ele poderia ser pego em gravação falando até que Pelotas é polo exportador de viado, que feministas são mulheres de grelo duro, ou até mesmo ter abusado de uma menina de 13 anos que estaria tudo bem. Não, isso não é para defender a fala abjeta do jornalista, mas para expor o duplo padrão hipócrita do Brasil.

Está claro que o nível da perseguição sofrida pelo jornalista é diretamente proporcional ao seu desapego ao esquerdismo radical, sendo ele o autor de um importante livro que desnuda os comunistas brasileiros com base em provas concretas obtidas em Moscou. Por isso mesmo cheguei até a brincar: Se eu fosse o Alexandre Garcia faria voto de silêncio e me comunicava só por linguagem de sinais…

Quando o ator José de Abreu, petista, foi pego em imagem cuspindo numa mulher, ele não foi afastado, mas sim convidado para o programa do Faustão para bancar a vítima e se justificar, durante vários minutos patéticos. Waack pediu desculpas, mas não importa: ele não é “um deles”, e por isso deve ser execrado.

Além dessa questão da hipocrisia, há o aspecto ainda mais importante da seletividade dos vazamentos, do assassinato de reputação e do moralismo implacável, ainda que maneta, das redes sociais. Carlos Andreazza, editor e colunista do Globo, comentou sobre o caso:

A fala de William Waack é degradante? Bem, eu não gostei de ouvi-la. Fiquei mesmo constrangido. Mas acho muito significativo – simbólico do tempo em que vivemos – que essa questão tome a frente no debate. Quero lembrar o seguinte: ainda que captada por câmeras, aquela era uma fala de natureza privada, feia ou feiíssima, dita jamais para ir ao ar.

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Ou será isso mesmo – e que se dane: festejamos a queda de alguém (também porque rotulado não-esquerdista, ou isso não está presente no impulso comemorativo da turba?) ainda que sobre o sangue da exposição seletiva de privacidade (que amanhã pode ser do coleguinha progressista)?

Rodrigo Constantino