Fernando Collor foi eleito com o discurso de caça aos marajás. Era um ilustre desconhecido da maioria, um “playboy aventureiro” com um discurso firme e uma aparência de coragem e determinação, apesar de assustar pelo exagero dos olhos vidrados às vezes. Compreende-se ter sido vitorioso: concorria com o velho Lula, do discurso raivoso, o sindicalista caloteiro e comunista, enfim, o novo Lula. Acabou que foi o próprio Collor quem confiscou a poupança dos brasileiros. Triste país que tem essas alternativas…
Pois bem: Collor acabou renunciando para não ser escorraçado pela porta da frente após aparecer o “batom na cueca” do esquema organizado por PC Farias. Aquele Fiat Elba era o elo entre os recursos ilegais e o presidente. O tempo passou, Collor virou senador e aliado do próprio PT de Lula, em mais uma demonstração de como o Brasil não é para amadores e também não é um país sério. E a Elba também evoluiu: virou uma Lamborghini prata, além de uma Ferrari vermelha e outros “brinquedos” mais:
Seria a prosperidade de Collor uma evidência de como o Brasil enriqueceu na era Lula? Antes fosse. É, na verdade, evidência de como aumentou a corrupção, o escárnio dos poderosos, sentindo-se acima das leis. Os carrões de Collor não tinham sido declarados ao TSE. Por que será? De onde vem a fortuna de Collor, que já está na vida pública há décadas? Como ele consegue se dedicar às suas empresas e ao mesmo tempo ser senador, evitando, ainda por cima, o conflito de interesses?
O Congresso ficou em polvorosa com as buscas e apreensões de importantes políticos como o próprio Collor. Alguns falam em “estado policialesco”, mas tenho certeza de que nenhum inocente, cidadão ordeiro e trabalhador, está com medo de a polícia aparecer do nada amanhã em sua casa para apreender seus bens. O Brasil ainda não é bolivariano, apesar do PT. Não parece haver arbítrio, e sim um processo independente de investigação com base em delações de gente de dentro dos esquemas, que precisa comprovar suas denúncias.
O que os poderosos temem, na verdade, é a “caça aos marajás”. Não a retórica de Collor, bandeira oportunista para se eleger, mas sim a verdadeira, feita por uma Polícia Federal cada vez mais preparada e independente. Os oligarcas estão com medo. E isso é ótimo sinal de que o país avança rumo ao progresso institucional. Afinal, como lembra Merval Pereira em sua coluna de hoje, ninguém deve estar acima das leis, nem mesmo os oligarcas, aqueles que não seriam “pessoas comuns”, como Lula já se referiu a Sarney. Diz Merval:
Essa tentativa de transformar em crise institucional os mandatos de busca e apreensão na casa de políticos só é possível por que, mesmo depois de o processo do mensalão ter mandado para trás das grades figurões da política brasileira até mesmo do partido no poder, ainda não estamos acostumados a que a Justiça seja igual para todos os cidadãos.
O desembaraço com que esses figurões continuam a praticar crimes mesmo depois de condenados – vejam o caso de José Dirceu, que continuou a receber pixulecos de empreiteiros mesmo na prisão – é exemplar do sentimento de impunidade que ainda impera no país.
[…]
Invasão de privacidade, assim foi definida a ação da Polícia Federal na casa de políticos, especialmente senadores, ontem pela manhã. Autorizada por três ministros do Supremo Tribunal Federal, a operação visava, segundo o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, garantir a apreensão de bens adquiridos com supostas práticas criminosas investigadas na Operação Lava Jato.
[…]
A tentativa de legislar em causa própria, afirmando que cabe à Polícia Judiciária a execução de mandatos de busca e apreensão em imóveis do Senado, é apenas mais um exercício de privilégios que estão sendo superados pela execução da lei, acima da qual ninguém está na Politeia, no sentido aristotélico de uma sociedade guiada pela presunção de igualdade, contra as oligarquias.
Ontem foi a vez de parte dos oligarcas políticos se verem às voltas com buscas e apreensões, outrora inimagináveis.
Tentativa de intimidação? Arbítrio? Estado policial? Não sei quanto ao leitor, mas eu vou dormir tranquilo essa noite, sabendo que não há o menor risco de eu ser alvo de uma “tentativa de intimidação” por parte da Polícia Federal. E se quiserem apreender meu carro, que não é uma Lamborghini não-declarada, fiquem à vontade: será a coisa mais fácil do mundo provar sua titularidade e a origem dos recursos para sua compra. Quem não deve, não teme.
Já os que devem, temem muito! Ainda mais agora, que o país começa a mostrar que a impunidade, mesmo dos “tubarões” políticos, não dura para sempre. Está mais do que a hora de o Brasil viver uma verdadeira caça aos marajás, esses políticos corruptos que exploram um povo pobre e ignorante, transformando a política num lucrativo negócio particular, confundindo a coisa pública com a cosa nostra típica das máfias e do patrimonialismo tupiniquim. Continuem o trabalho!
Rodrigo Constantino
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