Seis meses depois da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, 14 arenas envolvidas no evento estão fechadas. A maioria não tem nem um calendário de eventos definidos.
Depois dos bilhões gastos para erguer as modernas instalações esportivas, os governantes ainda não conseguiram articular uma programação esportiva sequer. Duas arenas, que vão se transformar em escolas e centros aquáticos, não tiveram nem a licitação lançada para o desmonte da estrutura.
Uma das maiores promessas de legado para os moradores da cidade, o Parque Radical de Deodoro é um exemplo da dificuldade para manter as instalações abertas.
Segunda maior área de lazer da cidade, o parque fechou os portões em dezembro, quando o contrato com a empresa que administrava o local acabou, e não tem data para reabrir.
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No Parque Olímpico, coração do megaevento, o cenário é de cidade fantasma. Sem um gestor privado para administrar o espaço, com custo anual de cerca de R$ 17 milhões, a prefeitura repassou as Arenas Cariocas 1 e 2, Velódromo e Centro de Tênis para o Ministério do Esporte.
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“É um sentimento de ressaca. Mas a esperança é que tudo volte a funcionar”, disse a paulista Maria Vargas, 36, ao olhar do lado de fora o Parque Olímpico na quarta (8). Em agosto, ela assistiu com parentes a jogos de basquete e handebol da Olimpíada.
A esperança é a última que morre, não é mesmo? O Brasil cansa. E o Rio cansa em dobro. Quando a maioria estava em polvorosa com a vitória da “cidade maravilhosa” para organizar o evento esportivo, umas poucas Cassandras, uns poucos Laocoontes tentavam alertar: isso vai “dar ruim”. Bilhões serão gastos, desviados, e depois restará apenas elefantes brancos por aí.
Pessimista! Urubu! Vai gorar outro, seu chato! Mas sabem como é: realista, no Brasil, é coisa mais rara de encontrar do que cabelo na cabeça do Kojak. A turma gosta mesmo é de fantasia, ilusão, viver de sonhos, fugas, no mundo encantado em que fatos não têm vez. Se você aponta para a realidade, é logo ignorado, alvo de ostracismo ou coisa pior.
Mas os fatos têm essa mania insuportável de sempre retornar e se esfregar na cara dos sonhadores. Eles não têm dó nem piedade. Eles sempre voltam, e quanto mais tempo levam para o regresso, maior é o choque daqueles sonhadores que escolheram ignorá-los.
O Brasil vai começar a mudar para valer no dia em que a realidade for levada mais a sério. Reconhecer as coisas como elas são: eis o primeiro passo para poder efetivamente melhorá-las. Viver só de esperanças é coisa de sonhador iludido, de gente com a cabeça nas nuvens e os pés – todos os quatro! – no chão.
O carioca sonhou com Barcelona, acordou Grécia.
Rodrigo Constantino
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