Gary Johnson. Fonte: The Blaze| Foto:

Já me considerei um libertário, aquele tipo mais radical de liberal que adota basicamente a máxima “hay gobierno?, soy contra”. O espírito libertário é revolucionário, e ao adotar como um dogma o princípio de “não-agressão”, costuma considerar tudo que vem do estado como ilegítimo, até os impostos. Para rejeitar o coletivismo, às vezes o libertário cai no extremo oposto, um individualismo exacerbado que se aproxima da sociopatia.

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Com o tempo, o amadurecimento (espero) de quem se aproxima dos 40, a adolescência da filha e muita leitura dos autores que chamo de “conservadores de boa estirpe”, mudei. Deixei o libertarianismo mais aguerrido de lado. Compreendi que ele se aproxima mais do que gostaria do esquerdismo que visa a combater, por seguir uma pauta muito materialista e econômica, deixando de lado a importância da cultura, dos valores disseminados, das tradições.

Pois bem: digo isso apenas como introdução para essa notícia, que não chega a me chocar tanto. Não mais. Conheci muitos libertários, debati com muitos, para ficar surpreso com essa informação. Vamos lá. Os Estados Unidos possuem um Partido Libertário, que costuma ser bem inexpressivo nas eleições, com 1% dos votos. Ele acaba de escolher seu candidato para essas eleições, tentando se aproveitar do fato de que tanto Hillary Clinton como Donald Trump desfrutam de alta rejeição (com razão). Trata-se de Gary Johnson, que foi governador do Novo Mexico pelo Partido Republicano.

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Em um quiz que ele participou, descobriu ter em comum com Bernie Sanders, o socialista de Vermont, nada menos do que 73% dos pontos abordados! Sim, é o candidato que mais se aproxima do libertário: um socialista! O motivo são as pautas “morais”, como aborto, casamento gay, legalização das drogas, pacifismo na política externa etc. Ambos atacam o “capitalismo de compadres”, mas até aí desconheço quem o defenda, à exceção de Hillary e Obama.

Acho que a visão libertária serve para alertar alguns conservadores mais reacionários da necessidade de se flexibilizar um pouco os conceitos tradicionais, se não quiserem perder todas as eleições, principalmente o voto dos mais jovens. Mas, por outro lado, mostra também como os libertários acabam sendo os inocentes úteis dos socialistas. Ao negligenciarem a agenda revolucionária cultural da esquerda, esses libertários se tornam muito parecidos com os “progressistas”, e enfraquecem o flanco conservador nas disputas, dando espaço para o avanço dos socialistas.

Liberais mais prudentes entendem que essa postura é muito arriscada. Mesmo que sejam, no fundo, a favor de algumas dessas bandeiras, como casamento gay ou legalização das drogas, saberão definir melhor suas prioridades, para não dar arma gratuita aos inimigos da liberdade, aos socialistas. Ainda mais levando em consideração as circunstâncias, ou seja, percebendo como a agenda “progressista” já avançou, causando enorme estrago no próprio liberalismo.

A defesa das liberdades individuais virou algo bem diferente hoje, e os “liberais” modernos endossam uma nefasta “marcha dos oprimidos”, que serve para tolher liberdades individuais na prática. Basta ver esse negócio de “discurso de ódio”, que seduziu até as redes sociais privadas, ou os campus universitários, dominados pela “revolução das vítimas” que impede debates abertos. Por isso meu curso mais recente era sobre como salvar o liberalismo dos “liberais”.

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Não é coincidência que Sanders tenha amplo apoio entre os jovens mais românticos, sonhadores e utópicos. É o perfil mais atraído pelo libertarianismo revolucionário também. Ambos tentam convencer os mais jovens de que dar vazão aos seus apetites é a coisa mais “livre” do mundo, o que é simplesmente absurdo e infantil. Os dois – socialistas e libertários – precisam de umas boas palmadas conservadoras, da imposição de limites pela cultura, mais ainda do que pelas leis. É lamentável ver tantos libertários agindo como soldados inocentes dos movimentos socialistas…

Rodrigo Constantino