Foi bonito de ver. O tiro da CNBC saiu pela culatra nesta quarta durante o terceiro debate dos candidatos do Partido Republicano para ver quem vai disputar o cargo de Obama em 2016. Os moderadores escalados pelo canal tinham claro viés de esquerda, como costuma acontecer na “mídia mainstream”, que posa de neutra e imparcial. O contraste em relação ao debate do Partido Democrata ficou evidente demais para ser ignorado.
Enquanto perguntas suaves que mais pareciam bolas levantadas dominaram o debate com Hillary Clinton e o socialista Bernard Sanders, ontem os moderadores resolveram sair da toca com garras afiadas. Não para fazer perguntas difíceis, que é o esperado de um bom entrevistador; mas para ofender, para colocar sua própria visão de mundo acima daquela que os telespectadores estavam ali para conhecer melhor.
Donald Trump foi ridicularizado como alguém com uma campanha “cômica”, Ben Carson foi ofendido como alguém que não sabe fazer contas de matemática (e se fosse do outro lado o entrevistador seria logo acusado de racismo), Marco Rubio foi interrompido com acusação falsa de que mentia, quando ficou provado depois que a mentira era do próprio entrevistador., e por aí vai. Foi um espetáculo de horror que ilustra bem os motivos pelos quais os americanos não confiam mais na grande imprensa.
Mas não ficou sem resposta, pois os candidatos Republicanos são corajosos. Coube a Ted Cruz subir o tom, o homem que fritou bacon no cano de seu fuzil. Cabra macho, texano, Cruz encarou os moderadores de frente, olhos nos olhos, e disparou: Agindo assim vocês “mostram porque o povo americano não confia nos meios de comunicação”. Foi ovacionado! A tentativa de encurralar os Republicanos serviu apenas para uni-los contra o inimigo maior: a imprensa a serviço dos Democratas, que finge ser imparcial. Vejam:
É curioso que a Fox News seja vista como claramente de direita e pró-Republicanos, enquanto os demais canais, todos com forte viés de esquerda, sejam vistos como “neutros”. Isso já é parte da estratégia bem-sucedida de mentiras que essa imprensa espalha por aí. Sim, a Fox tem sua preferência, mas não dá moleza para os Republicanos. Já os outros canais parecem aliviar ao extremo os Democratas, e quando chega a vez dos Republicanos, é esse ataque ofensivo que se viu ontem.
A diferença dos Estados Unidos para os países latino-americanos é justamente ter uma Fox News da vida para dar voz ao lado direito, que é enorme, mas menos organizado e com menos recursos e espaço na imprensa. Enquanto esse for o caso, os americanos terão direito ao contraditório, conhecerão o outro lado da história, poderão analisar por conta própria quem mente, quem é mais parcial, quem se recusa a fazer jornalismo sério.
Foi lindo, ao término do debate, ver o próprio Donald Trump acusando o moderador de mentiroso, quando este disse que estava acordado desde o começo com os debatedores que o programa teria duas horas, e não mais de três como Trump alegara. De olho nos anúncios avaliados em mais de US$ 100 mil por cada 30 segundos, os organizadores desejavam um debate mais extenso, mas Trump negociou com Ted Cruz em prol da redução. O moderador negou ao vivo, e Trump não se intimidou: “Isso não está certo! Isso não está certo!”
Isso e muitas outras coisas não estão certas quando se trata da grande imprensa americana, para não falar da nossa. Seu viés de esquerda é evidente, os jornalistas são quase todos “progressistas”, e deixam sua visão de mundo falar mais alto do que o bom jornalismo, que deve buscar a isenção, a imparcialidade, os fatos. Depois querem mesmo saber por que essa imprensa anda desacreditada, perdendo espaço para as redes sociais?
Rodrigo Constantino
STF inicia julgamento que pode ser golpe final contra liberdade de expressão nas redes
Plano pós-golpe previa Bolsonaro, Heleno e Braga Netto no comando, aponta PF
O Marco Civil da Internet e o ativismo judicial do STF contra a liberdade de expressão
Putin repete estratégia de Stalin para enviar tropas norte-coreanas “disfarçadas” para a guerra da Ucrânia
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS