Uma reportagem do GLOBO de hoje mostra, com base numa pesquisa, que mais de 70% dos professores ouvidos já deixaram de trabalhar em razão de problemas psicológicos e psiquiátricos, num ambiente de caos anárquico predominante nas escolas públicas brasileiras. Diz a matéria:
Já era a última aula do dia numa escola estadual no Centro de São Paulo. Mary, de 51 anos, que prefere não dar seu nome verdadeiro, dava orientações à turma de biologia quando o sinal tocou. Impacientes, os alunos do ensino médio tentaram sair da sala antes do aval da professora, que acabou agredida verbalmente — e quase fisicamente — por causa da demora em finalizar os trabalhos. Deprimida, depois de uma série de “incidentes” parecidos na sala de aula, ela decidiu se afastar do trabalho.
— Vieram para cima de mim tentando me empurrar. Se eu não tivesse saído da frente eles passariam de qualquer jeito. Fiquei com pânico de ir nessa escola e comecei a faltar. Estou de licença desde agosto — conta Mary, que leciona desde 1988 e há 16 anos apresenta históricos de depressão, segundo ela, em razão do crescente ambiente hostil da escola.
Mary não está só. Uma pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) aponta que 71% dos 762 profissionais de educação da rede pública de vários estados entrevistados no início de 2017 ficaram afastados da sala de aula após episódios que desencadearam problemas psicológicos e psiquiátricos nos últimos cinco anos. O estresse, muitas vezes provocado por situações de insegurança, tem a maior incidência, com 501 ocorrências (65,7%). Vem seguido por depressão (53,7%), alergia a pó (47,2%), insônia (41,5%) e hipertensão arterial (41,3%). Há ainda aqueles que apresentaram apenas sintomas de mal-estar. Foram pelo menos 531 casos de ansiedade, 491 de cansaço ou fadiga e 480 referências a problemas de voz.
Uma das professoras desabafou: “Antigamente, aluno falava baixo. Hoje, mandam para onde acham que têm que mandar. Passam a aula com o celular. Não respeitam. Isso foi me levando ao esgotamento mental. Nos últimos meses, tive paralisia. Ficava sem reação. Fui perdendo a memória e tive tremores”. Essa parece ter virado a regra, não a exceção.
Escrevi uma resenha do livro A dignidade ultrajada, de uma dessas professoras revoltadas com a indisciplina escolar nos tempos modernos. O desabafo de Katia Simone Benedetti é o de milhares de outras professoras, que não sabem mais como lidar com o abuso dos alunos, com as ameaças, o tom desrespeitoso, o caos. Comentei:
Exercer a autoridade necessária não é o mesmo que autoritarismo. Claro que alguns vão abusar desse direito, mas o abuso de alguns não deve tolher o uso dos demais. Para combater os excessos, as falhas de alguns por conta inclusive da natureza humana, os pós-modernos acabaram jogando o bebê junto com a água suja do banho, e destruíram a autoridade legítima. O caminho ficou livre para a baderna.
Não são poucos os casos em que a hierarquia se encontra invertida, com os protagonistas trocados: a autoridade dentro das salas de aula deixou de ser exercida pelo professor e passou a ser exercida pelos alunos. Como apostar em uma boa instrução assim? Como achar que esses jovens sairão das escolas não só com boa formação, mas com respeito aos outros? Essa horizontalização passou dos limites. Como diz a autora:
Essa inversão de valores está inviabilizando ou, no mínimo, comprometendo drasticamente a qualidade das situações de ensino-aprendizagem porque é endossada pela sociedade (principalmente pela figura dos pais) e imposta pelas autoridades educacionais e pelo discurso acadêmico vigente e pela legislação educacional do país.
Não creio que alguém vá defender a volta da palmatória, nem mesmo o mais reacionário dos conservadores. Mas tampouco é preciso ser careta ou “antiquado” para notar que algo está fora do lugar, que as salas de aula viraram “terra de ninguém”, e que os professores decentes simplesmente não suportam mais ensinar em um ambiente desorganizado desses. É urgente restaurar a disciplina hierárquica dentro da sala de aula!
Como exemplo de que a disciplina imposta funciona, cheguei a escrever alguns artigos sobre casos de sucesso em que militares assumiram o comando das escolas, como esse, em que defendo mais Dom Lourenço de Almeida Prado e menos Paulo Freire e Foucault. A bagunça generalizada contou com o apoio ideológico da esquerda, que resolveu levar o conceito marxista de luta de classes para dentro de sala, que quis enxergar opressão velada na autoridade do professor.
Ou resgatamos a ordem nas escolas, ou cada vez veremos mais casos de tormento traumático impedindo que o professor exerça sua importante função. Claro que, em parte, essa perda de respeito dos mais jovens pelos mais velhos ou pelas autoridades é um fenômeno geral, mas nas escolas isso atingiu um patamar insustentável e insuportável. Disciplina já!
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS