Acordei no meio da noite com meu filho chorando, e ao descer na cama para ir ao seu quarto, na total escuridão, topei com o dedo do pé na cama. Imediatamente pensei: é preciso ter uma lei para evitar esse tipo de acidente!
Cabe ao estado determinar que nenhuma cama tenha bases escondidas assim, que possam machucar as pessoas. Talvez uma lei obrigado todas as camas a terem uma luzinha saindo de cada pé da cama, para evitar esse tipo de topada. Que tal?
Claro que não pensei nada disso, caro leitor. Não sou o típico brasileiro, acostumado a demandar leis para tudo. Infelizmente, essa mentalidade absurda ainda prevalece em nossa sociedade. As pessoas olham uma coisa da realidade que não gostam, e logo exigem uma lei estatal para cuidar do problema.
Acha que exagero? Então veja essa notícia:
Com os patinetes elétricos em alta, um projeto de lei proposto na Assembleia Legislativa pretende enquadrar no uso do veículo a obrigatoriedade de capacetes. As empresas terão de ceder aos usuários o equipamento de segurança — que terá de ser utilizado durante as viagens. Há multa prevista para empresa e condutor que não cumprirem a norma, se aprovada, de R$ 171 por infração.
A deputada estadual Rosane Felix (PSD) participava da Marcha Pela Vida, em Copacabana, neste domingo e se acidentou utilizando um patinete. Ela está de licença médica por ter perdido três dentes e precisou passar por uma cirurgia bocal. Após o acidente, ela decidiu propor a lei para que em futuros casos de queda o condutor esteja seguro:
— O patinete elétrico não é um brinquedo inocente de criança e precisa ser regulamentado com urgência. Além de eu me machucar com gravidade na primeira vez que andei no patinete elétrico, percebi que este tipo de acidente é cada vez mais comum. O capacete é o mínimo para a segurança do usuário e por isso deve ser obrigatório.
A parlamentar protocolou a proposta na Mesa Diretora nesta terça-feira e o ato foi publicado no Diário Oficial nesta quarta-feira. O projeto passará ainda pelo parecer de três comissões: Constituição e Justiça, Transporte e Economia, Indústria e Comércio. Sem uma regulamentação do município que define as normas de uso e operação dos modais, a iniciativa tenta a inibir o crescente número de acidentes registrados.
Na proposta também fica imposto que as empresas serão obrigadas a contratar seguro para os usuários para coberturas em casos de morte por acidente, danos contra terceiros, invalidez parcial ou total, permanente ou temporária.
Lamento pela queda da deputada, que nunca tinha andado de patinete antes. Mas daí a ela achar que cabe ao estado regular dessa forma o “veículo” vai uma longa distância, aquela que separa gente autoritária de gente razoável.
Vivo num país em que o capacete sequer é obrigatório para moto! Liberdade individual com responsabilidade: o sujeito paga uma taxa extra, para cobrir custos eventuais de saúde pública, e assume os riscos de sua decisão. O que mais vejo por aqui nas highways são motoqueiros em suas Harleys com lencinho na cabeça, sem capacete.
O Brasil cansa. Vão começar com o capacete obrigatório, depois vão querer uma licença especial para o uso do patinete, pistas exclusivas, sinalização, código de trânsito específico, bateria dentro das normas definidas etc. E para tudo isso haverá, naturalmente, enorme aparato de fiscalização.
Terão de criar um órgão específico para isso, talvez dentro do Detran, nomear diretores e superintendentes, abrir concursos púbicos e por aí vai. Quando as empresas sérias cansarem de tanta burocracia e não conseguirem mais ganhar dinheiro, vão abandonar o país, restando as empresas de picaretas ligados ao próprio governo, que molham a mão dos fiscais.
Tudo isso porque a deputada caiu do patinete e achou que cabia ao estado impedir novos acidentes por lei. O brasileiro não tem jeito mesmo. Eita povo para desprezar a liberdade!!!
Rodrigo Constantino