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Finalmente fui ver “Capitão América: Guerra Civil” neste fim de semana. Como cheguei a comentar no meu Facebook, o filme estreiou aqui nos EUA uma semana depois do Brasil. Um caso raro em que a “malandragem” nacional serviu para produzir uma externalidade positiva, pois só consigo pensar em medo de pirataria para os produtores anteciparem o lançamento em nosso querido Brasil, terra em que até ministro da Cultura vê filme pirata.

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Trata-se de um filmaço! Ao menos eu adoro esses filmes da Marvel de alta produção, em que você é transportado para uma realidade paralela incrível e vê cenas inacreditáveis de computação gráfica. O que foi a perseguição dentro do túnel, por exemplo? Enfim, podem falar o que quiser, mas considero esses blockbusters puro entretenimento, e me “amarro” no resultado. São duas horas de diversão garantida.

Mas não é apenas isso. Assim como no Batman de Chris Nolan, há boas mensagens filosóficas e políticas. Esse novo Capitão América é sobre muitas coisas: amizade, princípios, fidelidade, papel das elites na sociedade e no mundo. Claro, aqueles com “poderes especiais”, os “Avengers”, são os próprios americanos, os “xerifes do planeta”. E com tamanho poder vem enorme responsabilidade. O fardo das elites.

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Quando os efeitos colaterais indesejados desse poder ficam evidentes, com mortes inevitáveis de inocentes, o próprio uso do poder fica em xeque, questionado por muitos. É justo que usem esse poder sem tanto controle? Mas quem controlaria? Quem vigia o vigia?

E esse filme é justamente sobre isso, um dilema político e tanto. Sem muito spoiler, temos de um lado Tony Stark, o Homem de Ferro, com consciência pesada pela morte de um garoto inocente, tentando entregar o controle ao governo mundial, aos “burocratas sem rosto e sem voto” da ONU; do outro lado, temos Steven Rogers, o Capitão América, incapaz de confiar tanto poder a essa gente. Ele coloca os princípios acima da burocracia e da própria lei.

É uma postura arriscada, que nos remete ao revolucionário Thomas Jefferson, que dizia: “Se uma lei é injusta, o homem não somente tem o direito de desobedecê-la, ele tem a obrigação de fazê-lo”. Basta pensar nas leis nazistas ou comunistas para concordar totalmente, mas, levando ao extremo esse raciocínio, a situação pode ficar complicada. Quem decide? E se todos se acharem mais justos e corretos e começarem a ignorar as leis? Como ficaria o desejável império das leis, justamente para evitar o império dos homens? O revolucionário é sempre muito perigoso. Às vezes estará certo e será necessário para enfrentar regimes injustos, mas outras tantas representará uma ameaça à paz e à ordem.

Enfim, talvez o melhor seja tentar buscar um equilíbrio entre os mecanismos (imperfeitos) de controle externo, de pesos e contrapesos, e a própria noção de justiça que as pessoas decentes têm. Capitão América, o representante da própria América nessa batalha, foca nos indivíduos, e teme, com razão, o controle por políticos e burocratas, ainda mais os da ONU. Homem de Ferro está do lado da “lei”, mas percebe que isso nem sempre é o mais acertado, que confiar demais nos políticos é bastante perigoso e pode colocar seus amigos heróis em risco.

Deveriam os Estados Unidos agir de forma menos “unilateral” e confiar mais nas decisões da ONU? A esquerda americana adoraria isso. Os conservadores, não. Tenho vários textos mostrando como a ONU foi subvertida e tomada por inimigos da liberdade, como este aqui, que inclui a resenha do ótimo Torre de Babel, do diplomata israelense Dore Gold.

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Num contexto desses – e o contexto é muito importante – confesso que prefiro a postura do Capitão América. Entendo seus riscos, mas vejo como riscos ainda maiores delegar o papel de “xerife do mundo” àqueles burocratas em Bruxelas influenciados cada vez mais por um antiamericanismo infantil e de olho nos vastos recursos do Oriente Médio. Mesmo com seus defeitos e seus erros no caminho, God bless America!

PS: O verdadeiro vilão, claro, não é um nem outro, nem mesmo a ONU, mas sim o inimigo que tenta jogar uns contra os outros para minar não apenas a América como toda a civilização ocidental. No caso, um russo que queria derrubar o “império” americano, desde uma missão de 1991, um ano antes da derrocada do império soviético. Hoje, temos não só em Putin uma ameaça, mas, naturalmente, no terrorismo islâmico. São esses os verdadeiros inimigos do Ocidente. Enquanto a América briga com a ONU, esses bárbaros avançam e colocam em risco todo o Ocidente. A estratégia é dividir para conquistar.

Rodrigo Constantino