Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal
Sou um simples artista plástico formado em arquitetura e urbanismo. Não tenho bens. Mal consigo clientes para os quadros que pinto, mas sou um cidadão honesto. Faço parte de uma imensa maioria de brasileiros que segue as leis e trabalha muito para ter o mínimo de conforto: um plano de saúde, um lugar para morar, comida na geladeira, roupas e itens de higiene pessoal. Não gozamos de estabilidade de emprego. Não contamos com aposentadorias especiais. Qualquer má decisão que tomamos nos leva a miséria. Nossa luta pela sobrevivência é diária.
Infelizmente, não temos como zelar pela nossa própria segurança. Vivemos confiando na sorte, porque a qualquer momento um bandido pode nos roubar, nos agredir ou nos matar simplesmente porque a justiça lhes dá liberdade para fazer isso.
Também não temos como zelar pelo dinheiro que o estado nos toma por meio dos impostos. A lei nos obriga a pagar tudo o que o governo cobra e confiar em que cada centavo será gasto em nosso benefício. No entanto, bilhões e bilhões são roubados e desperdiçados sistematicamente.
A única coisa que realmente temos é a dignidade. Eu posso andar na calçada, ir ao supermercado e pegar um voo sem que ninguém me xingue de corrupto. Eu e a grande maioria dos brasileiros optamos pelo trabalho honesto. Preferimos o caminho mais longo e penoso às facilidades do crime. Ninguém aqui embaixo gosta de bandidos. Nenhuma mãe ensina o filho a roubar.
Então, pergunto a Vossas Excelências: qual o exemplo que o STF dá?
Praticamente toda semana os excelentíssimos ministros decidem alguma coisa contra o combate ao crime ou se encarregam eles mesmos de soltar algum bandido. Desde ontem, vemos os advogados de defesa de todos os grandes corruptos do Brasil festejando a decisão da mais alta Corte do país de anular a condenação de um sujeito que roubava descaradamente, mesmo quando a Lava Jato já estava em pleno curso.
Como Vossas Excelências acham que nós, aqui em baixo, nos sentimos diante de notícias como essa?
Do alto da montanha da soberba em que Vossas Excelências se encontram, talvez seja difícil ver uma coisa: nossas comemorações quando políticos poderosos são condenados e presos. Comemoramos as prisões de Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Lula e Michel Temer. Festejamos quando a PGR pediu a prisão de Aécio Neves. Comemoramos também as prisões de grandes empresários e de altos funcionários do governo. Comemoramos porque temos a consciência de que são essas pessoas que tornam nossas vidas tão caras, complicadas e inseguras. Cada político poderoso preso é um sopro de esperança nas pessoas que vivem aqui embaixo. A esperança de que o estado pare de nos roubar e de que priorize o bem-estar do cidadão honesto, não dos bandidos.
Ninguém aí de cima considera isso?
Vale mesmo a pena tanto esforço pela impunidade de políticos corruptos?
Vossas Excelências desfrutam de um nível de conforto que só pode ser comparado aos de reis e rainhas, no entanto, não podem colocar os pés nas ruas sem serem xingados. Precisam de esquemas de segurança não para se protegerem de bandidos, mas das verdades gritadas por cidadãos comuns.
O que vocês ganham para empenhar tanta energia e criatividade jurídica para salvar políticos corruptos?
As pessoas comuns dizem que Vossas Excelências são tão corruptas quanto aqueles que soltam ou tentam soltar. Se não são, qual a razão de tanto esforço pela impunidade?
Não espero confissões, mas acho que ainda há tempo de ofereceram ao povo alguma compaixão: os ministros sujos de lama deveriam simplesmente deixar seus cargos. Em poucos meses, ninguém mais se lembrará dos nomes, nem da cara deles. Poderão, então, desfrutar plenamente do dinheiro que acumularam. O Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes deve ter boas recomendações em Portugal.
Tanta compaixão daria uma chance para a mais alta Corte se regenerar. O STF deixaria de ser a salvação dos maiores corruptos do Brasil para ser o apoio fundamental das instâncias inferiores da justiça na luta contra a corrupção. Pensem com carinho. Será ótimo para vocês também.
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