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Carta Capital assassina lógica matemática e português para defender feminismo

Não existe tema pior em que a ideologia fala mais alto do que os fatos do que o mercado de trabalho feminino. Em nome do feminismo, uma narrativa de preconceito machista é imposta sem qualquer compromisso com a lógica, com o bom senso e com os fatos. É preciso transmitir a ideia absurda de que mulheres ganham menos, na média, por conta do preconceito.

Thomas Sowell já cansou de mostrar o quão ridículo é esse argumento, mas não importa: a ideologia feminista acaba sempre falando mais alto. Mulheres ganham menos porque sofrem discriminação, e ponto final. Não vem ao caso ajustar a comparação pela produtividade, lembrar que mulheres engravidam, que podem optar por trabalhos mais flexíveis etc. Isso tudo é coisa de liberal chato, essa gente que liga para a lógica, algo ultrapassado da pequena-burguesia.

Estamos acostumados, portanto, aos malabarismos estatísticos para torturar os números até que eles confessem o que a ideologia deseja. Tudo bem, suportamos bem esse esforço heroico da esquerda. Mas para tudo há limite. Ou deveria haver. E quando a matemática é esculachada de forma tão grosseira assim, sobrando até para a língua portuguesa também, aí é preciso reagir: cruzaram as linhas aceitáveis! Vejam essa chamada da Carta Capital, a revista de Mino Carta, aquele envolvido na Lava Jato e que tinha Lula praticamente como editor informal:

As mulheres são, atenção, 56% da força de trabalho. Mas não pense você que os homens são, por determinação matemática e pura lógica, os 44% restantes (ou quase isso, assumindo que pode haver uma turma indefinida e sem gênero na era moderna). Nada disso! Os homens são, vejam só que incrível!, mais de 78% da força de trabalho! Ou seja, o total da força de trabalho no Brasil é de 134,2%. Prêmio Nobel de Matemática para o jornalista!

Se o que a revista quer dizer é que 56% das mulheres trabalham fora de casa, enquanto 78% dos homens o fazem, o que só pode ser o caso, então isso jamais poderia ter sido escrito dessa forma. 56% das mulheres não compõem a “força de trabalho”, porque isso é uma relação ao total de trabalhadores. Onde esses jornalistas fizeram faculdade, se fizeram?

Não satisfeito em esticar a totalidade das pessoas em mais de um terço, só para manter mulheres como “minorias”, o subtítulo ainda conjugou metade no plural. Metade “trabalham”, em vez de metade trabalha. Mas perto do assassínio da matemática na chamada, até podemos perdoar esse deslize linguístico, não é mesmo?

O tema mercado de trabalho é complexo demais para ser tratado de forma tão simplista e ideológica, além de burra. Inúmeros fatores são levados em conta na hora das escolhas, e muitas mulheres preferem trabalhar em casa. Isso não é fruto do machismo, tampouco se pode fazer essa inferência absurda de que a entrada dessas mulheres no mercado de trabalho iria adicionar tantos bilhões ao PIB. Isso é grosseria econômica tosca, de quem acha que o rabo é que balança o cachorro.

Em Os Pecados do Capital, Robert Murphy dá um exemplo politicamente incorreto de falha no cálculo do PIB. Ele cita o caso de um homem que se casa com sua governanta, e explica: “Antes do casamento, os serviços dela (lavar, aspirar e cozinhar) eram comprados no mercado aberto e, portanto, contribuíam para o PIB oficial. Mas, depois do casamento, a nova dona-de-casa realiza essas mesmas tarefas ‘de graça’, fazendo o PIB oficial diminuir em função de seu salário anual anterior”.

O economista Mark Skousen aponta outro exemplo dessas falhas: “Especialmente durante as festas natalinas, a mídia informa quase diariamente sobre as perspectivas das vendas a varejo, sugerindo que, se as vendas do Natal subirem, a economia está saudável e sólida. Por trás desses relatórios está a noção de que, se as festas natalinas durassem o ano inteiro, a economia poderia se expandir ainda mais”. Entre vários problemas no cálculo do PIB, talvez o mais importante seja esse foco excessivo nos gastos, tanto dos consumidores como do governo. Isso passa a idéia de que são os gastos que geram a produção e, portanto, o crescimento econômico.

Mas esperar que a Carta Capital tenha noção básica de economia já é demais da conta, eu sei. E achar que vão considerar coisas como lógica matemática na hora de fazer suas manchetes sensacionalistas e ideológicas também é ingenuidade pura. Ficamos, então, com o feminismo só mesmo, porque não dá para encontrar nada mais na reportagem.

Rodrigo Constantino

 

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