“Há um excesso de produção de smartphones no mundo, e temos hoje um excedente de dois milhões de unidades. Isso tem feito o preço dos aparelhos cair muito, o que é irresponsável. É preciso mais racionalidade no mercado, os governos precisam intervir para manter a produção menor e os preços maiores”.
O leitor acharia normal uma declaração como essa? Não ficaria evidente que se trata de um conluio de produtores em busca de apoio dos governos para ferrar com os consumidores? A queda no preço dos smartphones não é vista como algo positivo pelos milhões de consumidores do mundo todo?
Pois esse é justamente o discurso dos produtores de petróleo organizados na Opep, o maior cartel oficial do mundo, criado por governos autoritários com muito petróleo. O representante de Abu Dhabi na Opep disse exatamente isso, acusando de “irresponsáveis” aqueles que jogam mais oferta no mercado, e conclamando os produtores a cortar produção:
ABU DHABI As nações produtoras não associados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) deveriam cortar sua produção “irresponsável”, cujo excesso está prejudicando o setor petrolífero, disse ontem o ministro de Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail al-Mazrouei, durante uma conferência em Abu Dhabi. Segundo seu colega do Qatar, Mohammed al-Sada, o mercado mundial de petróleo está com uma oferta excessiva de dois milhões de barris diários (bpd). A Opep vem produzindo 30 milhões de bpd desde janeiro de 2013, ao passo que a oferta global subiu mais de dois milhões de bpd, para 93,6 milhões de bpd, segundo dados compilados pela Bloomberg.
— Conclamos todos os demais produtores a pararem de elevar (a produção), porque o aumento está prejudicando o mercado — disse al-Mazrouei.
Os preços do petróleo do tipo Brent recuaram 45% este ano. A Opep decidiu no mês passado, em sua reunião anual, manter sua produção inalterada em 30 milhões de bpd, resistindo aos apelos da Venezuela, que vem sofrendo com a queda nas cotações, já que sua economia é totalmente dependente do setor petrolífero.
De fato, o preço do barril despencou no mercado, graças aos produtores independentes, como as empresas americanas privadas, ou seja, os “irresponsáveis”. E o governo venezuelano, autoritário, deseja impedir o funcionamento do livre mercado, que claramente beneficia os consumidores do mundo todo.
O caso deveria servir como lição para todos aqueles – e são muitos – que repetem que a tendência natural do mercado é formar cartéis, e que a intervenção estatal é necessária para impedir isso. Tal visão marxista é totalmente equivocada.
O livre mercado é o melhor amigo dos consumidores, pois a concorrência sem amarras estatais tende a impor uma constante busca por excelência que, por sua vez, melhora a qualidade dos produtos e reduz seus preços. Basta ver o funcionamento do mercado de tecnologia, um dos mais livres do mundo.
Por outro lado, os governos poderosos, em simbiose com grandes produtores, costumam impedir o funcionamento desse mecanismo de competição, erguendo obstáculos e até mesmo criando cartéis, como o mais famoso do mundo, a Opep. Não é resultado do livre mercado, mas justamente das intervenções estatais.
Da próxima vez que o leitor escutar alguém acusando o mercado de formar cartéis e demandando intervenção estatal para “proteger o consumidor”, procure se lembrar da Opep e de como tais cartéis são possíveis graças à intervenção estatal no livre mercado. Este, insisto, é o melhor amigo dos consumidores.
Rodrigo Constantino
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