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Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal

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Muito se fala sobre a lamentável qualidade de nossa classe política e sua necessidade de renovação, mas os maus exemplos institucionais não param por aí. No país do futebol, a entidade máxima que controla as ações do esporte coleciona escândalos em seu histórico.

O mais recente episódio que retrata isso ocorreu esta semana quando o Comitê de Ética da Fifa suspendeu o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Marco Polo Del Nero. Ele é acusado de ter recebido US$ 6,5 milhões em propinas para beneficiar empresas de marketing esportivo em contratos relacionados à Copa América, Copa Libertadores e Copa do Brasil.

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Del Nero responde por 7 crimes nos Estados Unidos, dentre os quais fraude, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A despeito de a investigação norte-americana apontar dezenas de evidências por meio de depoimentos, planilhas e gravações, ele não é acusado de nenhuma ilicitude aqui no Brasil.

É por isso que não comparece a eventos desportivos relevantes fora do território tupiniquim. Para exemplificar, no início do mês, antes dessa punição, houve o sorteio de grupos da Copa do Mundo de 2018. O único presidente de federação que não compareceu foi o brasileiro, que não viaja para o exterior desde maio de 2015 – quando o FBI começou a prender cartolas envolvidos em corrupção. Assim, prefere permanecer aqui, já que, por ser brasileiro, o ordenamento jurídico não permite sua extradição para responder a crimes no exterior.

Ao longo da suspensão, quem assumirá o cargo é seu aliado Antônio Carlos Nunes, o Coronel Nunes. Antes de Del Nero, a CBF foi comandada por José Maria Marin, que sucedeu a Ricardo Teixeira: todos representantes do mesmo grupo político. Após a suspensão de Marco Polo, articula-se haver novas eleições, e provavelmente o único candidato será o próprio Del Nero. Inacreditável.

Esse é o corpo burocrático que comanda a CBF. Eles conseguem se eleger a partir de federações estaduais, dominadas sempre pelos mesmos caciques políticos. Cada estado brasileiro possui um órgão próprio para regular o futebol. Dos 27 chefes, metade deles é responsável pelas entidades há ao menos uma década. Os dois casos mais simbólicos são de Zeca Xaud, há 4 décadas a frente da federação de Roraima, e Rosilene de Araújo Gomes, há quase trinta anos comandando a federação paraibana.

Como o sistema eleitoral para eleger a presidência da CBF praticamente desconsidera torcedores, clubes e jogadores, quem realmente possui peso na escolha da presidência da CBF são esses representantes das federações estaduais. A relação entre essas federações e o grupo que comanda a CBF é historicamente o tradicional “toma lá, dá cá”, o que diz muito sobre como o futebol já foi utilizado como instrumento político nacional.

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Até a década de 1980, o campeonato brasileiro ainda não possuía sistema de rebaixamento e acesso, algo que vigorava em outros países do mundo desde o início do século XX a fim de estabelecer maior competitividade. O motivo daqui ser diferente era simples: as vagas no torneio nacional eram distribuídas por questões políticas. Não foram raras as vezes em que parlamentares brasileiros intervieram para que clubes de suas preferências pudessem disputar a série A, criando uma espécie de palco eleitoral para eles.

Tudo isso pressionava para um campeonato longo, inchado e sem a viabilidade financeira que poderia ter. Um dos lemas que traduzia bem isso era “Onde a Arena vai mal, outro time nacional. Onde a Arena vai bem, também”, em referência à Aliança Renovadora Nacional, partido que sustentava o governo militar. Dessa forma, o Brasileirão teve sua primeira edição em 1971, com 20 clubes de 8 estados. Esse número foi aumentando gradativamente, até que, em 1979, a disputa envolveu 94 cubes e 22 federações representadas.

Para se ter ideia de como as decisões do futebol nacional sempre se deram a partir da conciliação dos interesses políticos das federações para agradá-las e conseguir perpetuar no poder o grupo da CBF, esta é a origem da Copa do Brasil. A disputa foi criada ao final da década de 1980 para abranger todas as federações do país e saciá-las politicamente para não forçarem o inchaço do brasileirão novamente.

No auge do poder político da CBF, nos anos 90, a entidade passou a financiar campanhas para prefeito, governador, deputado e senador por intermédio das federações, tudo sob o manto de Ricardo Teixeira. Houve um recuo nesse sentido a partir da Comissão Parlamentar de Inquérito da CBF no início dos anos 2000, em que a despeito de 125 depoentes e mais de 200 horas de gravações e reuniões na Câmara dos Deputados, sequer houve um relatório final.

A desorganização, as viradas de mesa, o toma lá dá cá, tudo se dá por esse sistema burocrático, responsável pela organização dos campeonatos. Isso destoa de outros países. A federação da Inglaterra, por exemplo, não organiza o campeonato inglês; quem o faz é uma liga entre os clubes, a Premier League. Lá entende-se que os times são os protagonistas, não os cartolas, eles que têm de tomar as decisões. Assim, há uma repartição de receitas mais justa e que visa dar maior competitividade ao campeonato, além de ações estratégicas de sua promoção.

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Dessa forma, qualquer melhoria de organização do futebol brasileiro passa pela diminuição do poder da CBF e das federações, havendo maior poder decisório aos clubes. Todavia, não há real interesse dos comandantes de clubes brasileiros em modificação desse sistema. Nenhum presidente ter se pronunciado após a suspensão de Del Nero é um exemplo disso. As não raras vezes em que dirigentes criticam o sistema atual são por conveniências momentâneas, não real interesse em reestruturá-lo. Apesar disso tudo, às vésperas da Copa do Mundo, o ex-técnico da seleção brasileira Carlos Alberto Parreira declarou que a CBF era “o Brasil que deu certo”. 7×1 foi pouco.