Olavistas não são conservadores. E isso precisa ficar muito claro, para que o conservadorismo não seja tragado pelo buraco negro reacionário cavado pelo guru dos Bolsonaro. O movimento conservador é muito incipiente e necessário para o Brasil, e por isso não pode ser confundido com esse projeto autoritário, quiçá totalitário de poder liderado por Olavo de Carvalho.
Em seu recente vídeo em que pede apoio total a Bolsonaro, o “filósofo” de Virgínia avança mais algumas casas em seu jogo fascistoide, deixando claro que pode ter saído do marxismo, mas o marxismo não saiu dele.
Tudo que importa é o jogo de poder, o resultado maquiavélico. Política não deve funcionar com base em ideias, e o “conservador” precisa avaliar cada ocasião para ver o que apoia, sem levar em conta princípios. É uma mensagem que não guarda elo qualquer com o conservadorismo.
Olavo criou uma seita fanática e revolucionária, que investe contra as instituições republicanas, que deposita num líder político a esperança por todas as mudanças, contando apenas com o “apoio popular”. Líder que incorpora a “vontade geral” e atropela as instituições de estado para entregar a utopia prometida: isso é jacobinismo, o oposto do conservadorismo.
Gustavo Nogy, em artigo de março deste ano, mostrava o oxímoro por trás dessa “revolução reacionária”, lembrando que se trata de uma velha conhecida na filosofia: a traição dos intelectuais, seduzidos pelo poder, que desejam modelar o mundo à sua imagem idealizada. Nogy explica como os valores conservadores foram jogados no lixo em prol do projeto de poder:
Com a vitória de Jair Bolsonaro, o teatro da intelligentsia reacionária subiu o pano e revelou, sem vergonha nem cuidado, quem era quem e quem queria o quê. Todos os grandes marcos teóricos e éticos defendidos em verso e prosa pelo bom conservadorismo – limitação do Estado, prudência, ceticismo político, debate livre, consciência individual – foram rapidamente trocados por cargos, indicações, salamaleques, respeitinhos, cumprimentos, reverência, espírito de grupo, reações de tribo.
Nesse novo vídeo, Olavo também prega a estratégia petista contra a mídia, conforme apontou Pedro Menezes: “A parte mais autoritária do vídeo de Olavo tem sido pouco comentada: ele recomenda processos para constranger jornalistas, e não p/ buscar justiça. Pro inocente, ele diz, o processo em si já é uma punição. Só um cego pode negar: Olavo de Carvalho lidera um projeto autoritário”.
Olavo ainda colocou seus seguidores em posição de submissão perante o líder, dizendo que o certo é perguntarem o que eles podem fazer para ajudar o presidente, não o que o presidente pode fazer para ajuda-los. Isso remete ao que disse o democrata JFK em seu discurso inaugural: pergunte o que você pode fazer pela nação, não o que a nação pode fazer por você. Se já era coletivismo estatizante nesses termos, trocando nação por presidente fica pior ainda!
Só lembrando que, para liberais e conservadores, o presidente é um servidor público, ou seja, um funcionário do povo pagador de impostos. E o foco deve ser o indivíduo, o cidadão, jamais o líder político. Essa convocação olavista, portanto, tem forte cheiro de integralismo, e nenhum aroma que seja de conservadorismo. É importante deixar isso bem claro.
Rodrigo Constantino
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