Em meio a uma guerra comercial com os Estados Unidos, a economia da China desacelerou e atingiu o índice mais baixo de crescimento em 27 anos. Os dados reforçam a crença do presidente Donald Trump de que seu colega chinês, Xi Jinping, está sob forte pressão para fechar um acordo que dê o oxigênio necessário à segunda maior economia do mundo.
“A guerra comercial tem um impacto enorme na economia chinesa”, assegura Edwar Moya, analista de mercado da trading Oanda. “Na medida em que as negociações se arrastam, podemos dizer que a economia chinesa ainda não chegou ao fundo do poço”.
Os números oficiais do Departamento Nacional de Estatísticas, que os economistas tendem a ver com desconfiança, por aplicar uma espécie de filtro “cor-de-rosa” nos dados da realidade, mostram que o crescimento econômico anual recuou para 6,2% no trimestre encerrado em junho, contra 6,4% no trimestre anterior.
A projeção está dentro da banda estabelecida pelo governo, entre 6% e 6,5%, e também das previsões do mercado, de uma retração econômica gradual. Ainda assim, é o menor índice de crescimento da China desde que os dados começaram a ser divulgados, em março de 1992.
Não é o fim do mundo, e poucos confiam nos dados oficiais chineses. Mas vários analistas aguardam com receio uma maior queda na atividade chinesa, por conta de um modelo insustentável calcado demais em exportações e investimentos em construção civil canalizados por bancos estatais, como ocorreu com Coreia do Sul e Japão antes.
Trump declarou guerra comercial à China sabendo que há um custo econômico para os americanos, pois aumentar tarifas de importados chineses significa encarecer os produtos na Wal-Mart. Mas a sua parece ser uma visão estratégica de longo prazo para enfraquecer a China do ponto de vista geopolítico.
Resta saber se vai dar certo e como o gigante reagirá se a economia de fato desacelerar mais e colocar pressão no PCC. Haveria mais concessões democráticas e liberais ou mais opressão para a cúpula preservar seu poder? Os casos extremos da Venezuela e de Cuba mostram que nem uma profunda crise econômica é suficiente para derrubar um regime ditatorial.
Por outro lado, tentando olhar o copo meio cheio, a União Soviética sofreu muito com a “guerra nas estrelas” de Ronald Reagan, e esse foi um dos motivos que levaram o império do mal à bancarrota, libertando várias colônias comunistas no Leste Europeu. Tomara que a pressão de Trump leve a uma China melhor e mais livre. Mas o risco não é baixo…
Rodrigo Constantino
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