Há algo que sempre chamou a minha atenção: o fato de que pessoas podem ser boas em determinadas áreas do saber, até mesmo geniais, mas completamente idiotas em outras. O fenômeno já capturou a atenção de muita gente, e Hayek chegou a escrever um brilhante texto explicando como intelectuais inteligentes acabavam defendendo o socialismo, uma utopia fracassada e ilógica.
Em Esquerda Caviar, falo do assunto, e cheguei a colocar em letras garrafais no começo: NÃO DEVEMOS CONFUNDIR A ADMIRAÇÃO À OBRA DO ARTISTA COM SUA PRÓPRIA PESSOA OU SUAS IDEIAS POLÍTICAS. Podemos ter um músico fantástico que não passa de um rematado imbecil em política. Podemos ter até mesmo um cientista que agregou bastante valor ao seu campo de estudos que, quando o assunto é outro, mais parece um colegial demente repetindo chavões marxistas.
Este é Noam Chomsky. No campo do conhecimento linguístico, suas contribuições são inegáveis. Mas quando o homem abre a boca para falar de política, sai de baixo! É tanta besteira, mas tanta besteira, que temos a sensação de que seu cérebro foi dominado por um típico petista. O Chomsky “intelectual” não passa de um sindicalista antiamericano, capaz de defender as mais nefastas ditaduras assassinas e condenar os Estados Unidos, com sua democracia que já dura séculos, como se fossem a pior tirania do planeta.
É um espanto! E suscita automaticamente a questão: alienação ou canalhice? Como pode alguém inteligente a ponto de colaborar com um determinado campo do saber se mostrar tão raso e boboca em outro? Em sua coluna desta terça na Folha, João Pereira Coutinho trouxe à tona um “debate” entre Chomsky e Sam Harris. Coloco debate entre aspas, pois Chomsky não consegue argumentar. Não há debate verdadeiro sem argumentos.
O que Chomsky tenta fazer é criar uma falsa equivalência moral entre o governo democrático americano e os terroristas que ele combate. No fundo, Chomsky acha o governo americano muito pior. Mas essa conclusão só é possível se a lógica for deixada de lado, em troca da ideologia cega. Coutinho argumenta:
E existe uma diferença moral significativa entre atacar para eliminar um mal objetivo, mesmo que esse ataque seja um erro “a posteriori”, e atacar em massa para infligir o maior dano possível a pessoas inocentes “a priori”. Quem não entende essa diferença tem a bússola moral avariada.
Mas existe ainda uma segunda diferença entre a violência antiterrorista do Ocidente e os atos de terrorismo cometidos contra o Ocidente. E essa diferença está na reação dos seus autores.
Quando se ataca um complexo químico que é apenas uma fábrica de medicamentos, não há festejos nem proclamações de vitória. Há, isso sim, sentimentos de vergonha e, em certos casos, investigação criminal (como sucedeu, por exemplo, com os abusos americanos na prisão de Abu Ghraib).
O mesmo não sucede quando o único objetivo é derrubar Torres Gêmeas que não se confundem com nenhum complexo químico, biológico ou militar. No primeiro caso, mata-se por engano. No segundo, mata-se por instinto desumano.
Essa mesma diferença pode ser observada no conflito do Oriente Médio. Israel possui um governo democrático que conta inclusive com a participação das minorias islâmicas, e faz de tudo para proteger sua população e minimizar as perdas de civis inocentes do outro lado. Enquanto isso, os terroristas islâmicos usam suas próprias crianças como escudos humanos e miram deliberadamente nas crianças do outro lado, celebrando quando conseguem matar mais inocentes israelenses. Como não notar a diferença moral aqui presente?
Não por acaso os antiamericanos também costumam ser antissemitas e antissionistas. Odeiam os Estados Unidos e Israel, mesmo que para tanto se coloquem do lado do que há de mais abjeto no mundo, de regimes assassinos, tiranias cruéis ou terroristas que degolam vítimas inocentes. Como pode? Que tipo de desvio de caráter ou de alienação profunda explica isso? Coutinho conclui:
Não existem sociedades perfeitas. Não existem governos perfeitos. Mas se o leitor joga na mesma sacola Clinton e Bin Laden, Bush e Hitler, não há espaço para nenhuma conversa racional. Essa, aliás, foi a conclusão de Harris depois de tentar falar com Chomsky: o silêncio final entre ambos é o silêncio de um abismo.
Um abismo moral intransponível, eu acrescentaria. Não é possível debater seriamente com quem ignora algo tão evidente para preservar seu ódio irracional, sua ideologia cega, sua utopia fanática. O intelectual costuma ser um alienado muitas vezes, pois observa as imperfeições à sua volta e se deixa tomar por elas. A válvula de escape é criar utopias para cuspir sempre no seu quintal imperfeito.
Mas Chomsky só pode continuar destilando seu ódio aos Estados Unidos porque vive num país livre e democrático. Se ele fosse viver em algum dos países que defende e fizesse um décimo das críticas que faz ao governo americano, acabaria preso ou morto em segundos. É, portanto, muita hipocrisia mesmo. Quanto é alienação e quanto é canalhice é algo difícil de dizer. Talvez um misto das duas coisas. Mas só sei que é impossível debater seriamente com quem repete tanta insanidade.
Rodrigo Constantino
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