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A imagem de uma egípcia e uma alemã disputando uma bola no vôlei de praia está rodando o mundo pelas redes sociais – graças ao contraste cultural. Enquanto a alemã Kira Walkenhorst, de 26 anos, veste um biquíni, do outro lado da rede está Doaa Elghobashy, atleta de 19 anos que usa hijab (espécie de véu sob a cabeça) e calça leg em respeito à sua religião. Capturada por Lucy Nicholson, da agência de notícias Reuters, a fotografia também registra um feito inédito: essa foi a primeira vez que uma dupla do Egito disputou uma Olimpíada na modalidade.

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Nada Meawad, companheira de Elghobashy, também entrou em campo com o corpo coberto, mas explicou que não competiu usando o hijab, pois segue uma linha religiosa diferente. O véu, segundo o islã, serve para preservar a privacidade e os princípios da mulher. Questionada após o jogo, Elghobashy disse que o hijab em nada atrapalha seu desempenho nas competições. Elghobashy e Meawad perderam de 2 sets a zero para as alemãs Walkenhorst e Laura Ludwig, mas seguem disputando contra a Itália na próxima terça-feira e Canadá, na quinta.

De fato, o contraste é gritante. Mas há outras imagens que chocam ainda mais, como esta:

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Há quem diga que retratam o “choque de civilizações”, descrito por Samuel Huntington, mas há também quem diga que simbolizam o “encontro de civilizações”, um convívio pacífico entre as diferenças. Talvez seja um pouco das duas coisas, mas se tiver que escolher, fico com a primeira opção. Até porque sei que o outro lado não encara muito bem essas tais diferenças, que não costuma apreciar tanto a pluralidade.

Um amigo jornalista assim resumiu a coisa: “Já eu vejo o excesso em ambas. São tão extremas que impossibilitam a harmonia”. Segundo esse colega, que é conservador, a cultura ocidental também extrapolou para o outro lado, o da quase nudez explícita, o dos corpos reverenciados e expostos como prêmios.

Outro amigo, advogado, escreveu: “Ambos denotam as diferenças. O conflito, contudo, só se materializa após a demonstração da intolerância, e da convicção de que um precisa desaparecer — ou sucumbir –para que o outro possa existir”.

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Exato. O problema é que sabemos da intolerância de um dos lados. O Islã não convive bem com as moças seminuas, e isso está claro. No mais, nós, ocidentais, valorizamos bastante o direito de escolha individual. Ou seja, se a mulher realmente quiser se resguardar mais e ocultar quase todo o corpo, seria um direito seu, mas isso jamais poderia ser imposto a ela, como acontece em vários países muçulmanos.

Que há algo de muito errado numa cultura que impõe uma vestimenta que tampa a mulher toda, isso parece inegável. É muito medo mesmo do feminino, de seu poder de sedução. Acredito ser possível também uma análise conservadora de que o pêndulo exagerou e o Ocidente trata como normal não ocultar parte alguma do corpo em público. Mas não vou bancar o tucano e pregar um “equilíbrio” aqui: fico com a liberdade ocidental, sem dúvida.

Um topless na praia ou a exposição excessiva das partes íntimas no Carnaval podem incomodar os mais conservadores e denotar uma sociedade com valores degradados, mas com certeza a solução não é meter uma burca nelas! Que as feministas acabem tomando o partido dos muçulmanos só para cuspir na civilização ocidental “machista”, que transformaria a mulher em “objeto”, é algo realmente bizarro, que demonstra como ele não tem nada a ver com os direitos das mulheres, e sim com uma agenda esquerdista.

Mais bizarro ainda, claro, é ver feministas lutando contra essa “objetificação da mulher” em passeatas com tudo de fora e “vadia” escrito em suas testas. Não poderia haver maior contradição do que repudiar o culto ao corpo feminino enaltecendo justamente o corpo feminino e o direito de a mulher ser uma vagabunda. Exigir algum respeito aos homens depois não faz o menor sentido.

Em suma, a mulher ocidental pode ter se vulgarizado demais sob o feminismo contraditório, pode ter se tornado justamente aquilo que pretendia denunciar: um objeto de desejo sexual apenas, que tende a ser até diminuído com sua banalização e acesso mais facilitado (pura lei econômica na oferta e demanda). Mas é mil vezes preferível conviver com esses excessos e preservando a liberdade individual do que cair no extremo oposto, que é esconder o corpo todo, usando roupas claramente inadequadas para um esporte na praia.

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O risco, como mostra Michel Houellebecq em Subsmissão, é o Ocidente sequer perceber a incompatibilidade e, enquanto celebra a “diversidade”, acabar sendo engolido pelo lado totalitário aos poucos. Quem acha exagero deveria ler sobre o que se passa em Londres, com um prefeito muçulmano. Um amigo administrador cravou a “piada”: “No caso dos jogos, dizem as más línguas que, daqui a 3 ou 4 Olimpíadas, os uniformes das duas equipes serão os mesmos… Quem viver verá”.

No jogo de vôlei na praia a dupla ocidental venceu com facilidade. Será que no jogo cultural será assim também?

Rodrigo Constantino