Por Hiago Rebello, publicado pelo Instituto Liberal
Em um mundo onde ainda é piada crer que o comunismo ainda existe e possui uma maciça influência global (no mesmo planeta onde as mesmas pessoas que creem na “piada” gostariam que sujeitos como Bernie Sanders, um socialista declarado, fosse presidente dos Estados Unidos; mas não acham que estão apoiando o comunismo… um mundo de burros loucos), o documentário dirigido pela romena Ilinca Călugăreanu é tudo aquilo que se precisa para (tentar) deixar algumas mentes mais sãs.
Chuck Norris vs. o comunismo conta a História de toda uma sociedade que, nos fins do século XX, se via debaixo de uma ditadura totalitária. A Romênia teve um histórico triste e perturbador quanto ao aparelhamento comunista de seu povo, governo e cultura. O catolicismo foi perseguido (a Igreja Católica, possivelmente, foi a instituição mais perseguida no século XX), igrejas foram fechadas, destruídas, a religiosidade proibida, mas não apenas isso: o comunismo não só elimina a religião de uma sociedade, achando-a um mal, como também faz questão de controlar e subordinar tudo o que entra e sai de um país. A cultura cinematográfica não é exceção.
Lembram-se dos clássicos de ação que passavam na televisão (e ainda passam, aliás) nos anos noventa (ou nos oitenta e setenta, para quem é mais velho) ou nos anos dois mil, aqui no Brasil? Então… Imagine se todos fossem proibidos? Se precisassem passar por uma censura tão pesada, tão crua, que faria qualquer ato de repressão pós-AI-5 no Regime Militar parecer uma parada LGBT de liberdade de expressão (com direito a atentado violento ao pudor e tudo mais!)? Pois é… essa era a censura comunista da Romênia.
Nada de ver Rocky Balboa treinar para se superar no esporte, nada de ver Rambo matar comunistas no Vietnam até o chão ficar vermelho, nada de ver Arnold Schwarzenegger falar “eu voltarei”, em Exterminador do Futuro; ou Al Pacino morrer fuzilado em sua mansão, em Scarface; Dom Corleone, interpretado pelo brilhante Marlon Brando, dizendo que se “um raio caísse” na cabeça de seu filho, teria que culpar e matar alguém (ou todos) das Cinco Famílias da máfia em Nova York… Triste, não? Talvez seu amigo militante do PSOL não ache. Afinal, ditaduras como Cuba e Venezuela norteiam suas culturas de censura por ideias muito parecidas com as da Romênia comunista. O paraíso de seu amigo militante é, sem dúvidas, um estado titânico que deixaria o AI-5 parecer uma brincadeira de criança – Freixo aprova.
Mas ninguém irá te contar isso em uma universidade. Nenhuma pessoa do DCE irá contar que um partido que defende assassinos e ditadores, o partido mais popular das faculdades de humanas no Brasil, apoia regimes (e os idealiza para o Brasil… se não os idealizam, então por que os apoiam ideológica e politicamente?) tão homicidas e opressores. Na Romênia, que já ficou do lado de lá da Cortina de Ferro, sabem que o mar de rosas das propostas esquerdistas é uma pura e pervertida imaginação.
Dado tal cenário, a Romênia não apenas censurava filmes onde uma mesa com bolos, frutas e pratos cheios de comida apareciam (Sakamoto mandou lembranças), mas também conjuntos de cores que supostamente lembrariam a antiga bandeira romena, cenas onde uma crítica política ousasse se esboçar; conteúdo religioso (as palavras “Deus”, “Santo”, “Páscoa”, “Jesus” e afins eram inibidas para “ateizar” a população) ou qualquer coisa que lembrasse que a sociedade liberal do ocidente era… superior à comunista – logo, 99% de quase tudo.
A TV era estatal, exibindo apenas notícias falsas sobre o governo e propaganda governamental para a população. O preço de uma televisão era exorbitante, sendo necessários anos de uma boa economia para adquirir uma, mas era assim com praticamente tudo. Fitas de vídeo que passavam pela censura eram permitidas para a venda, videocassetes eram vendidos… para quem tinha muito dinheiro para comprá-los.
Curiosamente, além das raríssimas famílias que conseguiam juntar a soma necessária, apenas altos funcionários públicos do regime comunista tinham a verba para tal. Como ocorre em qualquer Estado inchado demais, o grupo dos servidores públicos se torna aquele que mais possui possibilidades monetárias. A burocracia é essencial para a exacerbação do poder, então o burocrata – e seus sectários – se torna um agente de consumo de alta potência.
E uma das mais fortes características do Estado inflado foi uma das suas maiores fraquezas. Um dos altos funcionários do governo, Toader Zamfir, decide fazer algo bem criminoso em um país comunista: lucrar, e não pouco. Ele vai até a fronteira, suborna os guardas, compra fitas VHS, as pirateia e vende para todo o país. O povo de modo geral consegue apenas ver filmes na casa de outras pessoas (que também lucram, cobrando pela entrada), por conta dos altos preços de televisões, videocassetes e afins. Mas os clientes mais certeiros de Zamfir eram da polícia, do alto oficialato romeno, membros da burocracia… até mesmo o próprio filho do ditador.
Como a Romênia, na segunda metade do século passado, não possuía uma população minimamente instruída na língua inglesa, não havia outra alternativa: Zamfir deveria dublar seus filmes. E para a dublagem, ele escolhe uma pessoa especialista em tradução simultânea de filmes e desenhos americanos: Irina Nistor, funcionária da censura romena.
Nistor era responsável por traduzir produções do exterior para censores. Se qualquer coisa fosse vista como inadequada para o espírito revolucionário do país, era-se cortado. O moralismo (algo muito forte e importante em todos os regimes revolucionários de esquerda; esqueça a ideia de revolução com liberdade sexual, de gênero, de corpo e afins… Isso era coisa de capitalista degenerado, para os comunistas) também tinha seu peso na censura. Cenas com palavrões, insinuações sexuais, ou mesmo contendo sexo explícito, eram cortadas sem remorso.
Irina Nistor, aceitando o trabalho clandestino de Zamfir, começa a ganhar e a gostar de dublar os filmes. A dublagem era amadora, com a voz de Irina sobrepondo a dos personagens (sim, ela dublava todos); contudo, ainda assim cativaram o povo romeno.
Pela primeira vez, não havia censura, havia liberdade para falar “mate o comunista” numa cena. Não apenas para Irina, mas também para todo o público que assistia, na ilegalidade, filmes americanos. Películas de ação, como os filmes de Chuck Norris, ou dramas e romances, produções que tratavam de críticas sociais, política, História, sociedade. Irina dublou os grandes feitos do cinema do século XX e a população teve acesso a tais obras.
De repente, a população poderia ver – em forte e boa luz – o quão atrasados estavam perto dos inimigos ideológicos de seu governo. Parte da cultura americana passada pelas telas de televisão mostrava os carros, os luxos, a comida, roupas, cidades, meios de comunicação, entretenimento e novíssimas visões para pessoas que estavam, fazia décadas, estagnadas pela esquerda totalitária no poder.
Uma voz se erguia contra o monstro que assolava o povo. A voz da cultura. Não foram os trabalhos de Zamfir e Nistor que fizeram, de fato, o comunismo cair na Romênia, mas seus esforços plantaram sementes fecundas e mostraram um mundo inteiro para o povo romeno. A possibilidade de uma comparação com o Ocidente foi fatal para uma mentalidade comunista. Não era necessário muito, apenas mostrar o outro lado…
A polícia se via ineficaz, corrupta, mas ainda assim usava de seu poder para invadir e roubar os televisores, fitas e videocassetes da população. Para quem tivesse sua casa invadida por policiais, era melhor que a polícia roubasse tudo do que alguma norma efetiva do Estado se cumprisse. Literalmente, a polícia corrupta era melhor do que a normal legal do governo.
Por fim, Chuck Norris vs. o Comunismo é um filme para se entender até onde um Estado – alavancado por aqueles que se denominam o Amanhã, o bem, o futuro, a justiça social e humana – pode ir. Não era apenas um controle político, mas um controle total na vida do cidadão que o comunismo propunha. Se assim não fosse, qualquer governo comunista se dissolveria entre a própria população.
O comunismo necessita disso. Sem o controle absoluto, ele não pode se justificar, se manter e se propagar. Se uma única mente já for livre, essa mente é perigosa, danosa. O totalitarismo de esquerda sempre foi, em todas as comparações, o mais danoso possível.
(mas não espere ler ou ouvir uma análise dessas do seu amiguinho psolista… por que será, hein?).