Nessa entrevista, Ciro Gomes, que deve estar mudando de partido pela trigésima vez na vida (perdi a conta), resolveu atacar as intrusões de Lula, o ministro Joaquim Levy e as mentiras de Dilma. Ele disse que “todas as intrusões de Lula têm sido muito ruins” para a atual conjuntura política brasileira. Na avaliação de Ciro Gomes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou nos últimos meses “conspirando” e “dando sustos” em Dilma Rousseff. Não contribuiu para acalmar o ambiente.
Sobre Dilma, diz que a situação se agrava porque “a população está se sentido traída, enganada. A Dilma mentiu para a população. O PT e Lula, também”. O problema, diz Ciro, é que a presidente “perdeu completamente a capacidade de iniciativa”. Deveria fazer agora o ajuste na economia que sempre quis. “Deveria ‘apagar a luz’ no mercado de câmbio e deixar flutuar a cotação do dólar. Abaixar a taxa de juros drasticamente. O cenário da inflação fica imponderável, mas não é que a inflação vai necessariamente subir”.
Ciro hoje trabalha na CSN, empresa de Benjamin Steibrunch, que por incrível coincidência é o homem de uma nota só: a redução da taxa de juros. O empresário vem usando seu espaço na Folha há anos para defender tal “panaceia”. Curiosamente, foi exatamente o que Dilma fez, sob forte crítica dos economistas liberais, este aqui inclusive. A inflação disparou, a taxa de juros precisou subir novamente, e Steinbruch e Ciro Gomes fingem que nada disso aconteceu. Parecem ter aterrizado de Marte ontem.
Ciro está “surpreso” com as mentiras de Dilma, com sua traição ao povo, e com sua falta de capacidade de iniciativa. Mas… o que ele achava disso tudo durante a campanha de Dilma? Como recordar é viver, e como esse blog é o desespero dos que torcem pela falta de memória do povo brasileiro, vamos trazer o passado recente à tona. Vejam esta homenagem a Ciro que fiz quando ele aceitou trabalhar na campanha de Dilma. Como o leitor pode ver, as opiniões de Ciro sobre Dilma e o PT oscilam bastante.
Alguém mais cético poderia dizer que elas dependem de onde Ciro está e de quais são seus interesses do momento, e não do que ele realmente acha dos petistas. Mas como eu sou otimista, vou acreditar na sinceridade de Ciro, e ficar com a hipótese de que ele apenas muda muito de opinião mesmo. De dia é de esquerda, de tarde é de centro, e de noite é de esquerda novamente. Se fosse gaúcho, no verão torceria para o Grêmio, no inverno para o Internacional. É um sujeito volúvel, flexível, uma metamorfose ambulante.
Oportunista? Um rato abandonando o navio que afunda? Não creio! Steinbruch, um homem tão apegado a uma só bandeira, não contrataria alguém que abraça mil bandeiras diferentes. A menos, claro, que o indeciso resolvesse que, agora, a bandeira certa é a mesma do patrão. Coincidência fortuita para ambos, naturalmente. E aguardemos amanhã, pois Ciro poderá ter uma opinião diametralmente oposta àquela de hoje. É só aguardar para descobrir…
Rodrigo Constantino
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