O desespero da esquerda e do establishment com a consolidação de Jair Bolsonaro na liderança das pesquisas tem levado a reações curiosas. De um lado, há a tentativa de se construir um “centrão”, com o aval do PMDB governista. Do outro, vê-se uma extrema esquerda fragmentada, basicamente porque Lula usa seu PT para interesses pessoais, recusando-se a apontar logo o verdadeiro candidato petista, o que fez com que Ciro Gomes assumisse o protagonismo entre os socialistas.
Como os candidatos de centro não decolam de jeito algum, já há gente do establishment ensaiando um passo mais ousado, que necessita de um malabarismo e tanto. Trata-se de pintar o próprio Ciro Gomes como um moderado centrista. Haja imaginação e manipulação, porém. Será uma tarefa árdua para empresários bilionários ou economistas keynesianos, mesmo com o apoio dos melhores marqueteiros.
O problema é que o radicalismo e o destempero de Ciro já são velhos conhecidos da população, justamente porque o candidato está na política desde quando existia telégrafo, aproximadamente. Sua troca de partidos só não foi mais intensa do que sua troca de farpas e xingamentos, e bater boca exaltado na rua parece algo comum ao cotidiano do pedetista.
Até mesmo senhoras humildes que foram questioná-lo sobre hospitais públicos receberam impropérios como resposta. Tudo documentado em vídeos no YouTube (malditas redes sociais, devem pensar os políticos, o que explica o afã de censurá-las com a desculpa do combate às “Fake News”). Seu machismo também é evidente: quem não lembra da resposta sobre o papel de sua então mulher, a atriz Patrícia Pillar, em sua campanha?
Ciro deu total apoio ao governo petista, inclusive ao modelo da Nova Matriz Econômica de Dilma, inspirado no nacional-desenvolvimentismo da Unicamp. Câmbio artificialmente desvalorizado, taxa de juros marretada para baixo, despreocupação com a austeridade fiscal, seleção dos “campeões nacionais”, e o resultado está aí para todo mundo ver: desemprego explodiu, inflação alta voltou, atividade econômica despencou. Reformas adotadas por Temer conseguiram reduzir parcialmente o estrago — e não contaram com o apoio de Ciro.
Sempre é possível alegar que o sujeito mudou, ainda que tanta mudança seja típica de um camaleão. Só há um detalhe: Ciro não mudou e não admitiu erros, ao contrário de Bolsonaro, que apontou o liberal Paulo Guedes como futuro ministro da Fazenda. Na entrevista no Roda Viva, Ciro demonstrou que seu extremismo segue em alta, crescente até, ao atacar a oposição venezuelana como “fascista”, protegendo assim a ditadura de Maduro. Ele nega, mas disse que receberia Sergio Moro à bala e que sequestraria Lula se preciso fosse. Boa sorte a todos que tiverem que convencer o povo da moderação de Ciro Gomes…
Artigo originalmente publicado na revista IstoÉ
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião