Quando Fernanda Torres escreveu um texto simples com algumas divergências para com a agenda feminista, seu mundo veio abaixo. Foi alvo de tantos ataques orquestrados que resolveu escrever um lamentável texto de “mea culpa”, em que se curvava diante do fascismo das “feminazis”. Sabemos como a patrulha dessa patota pode ser cruel, insuportável e ameaçar a carreira dos artistas, mesmo os já bem-sucedidos, como foi o caso de Regina Duarte quando gravou um vídeo afirmando que tinha medo de Lula e do PT (e não estava certa?).
Pois bem: agora foi a vez do ator e diretor Claudio Botelho pedir desculpas a Chico Buarque. Ele não fez absolutamente nada demais. Apenas usou um espaço na peça com liberdade para improviso para falar de impeachment de uma presidente, o que despertou a fúria dos “tolerantes” e “pluralistas” que só aceitam o pensamento único petralha. O teatro, o cinema e a televisão nacionais estão tomados pelos vermelhinhos, e todos sabem como são organizados na hora de policiar o pensamento alheio. Leiam na íntegra a mensagem de Botelho:
UM PEDIDO DE DESCULPAS
Os incidentes do último sábado em Belo Horizonte durante a sessão do musical TODOS OS MUSICAIS DE CHICO BUARQUE EM 90 MINUTOS são do conhecimento de todos, eu suponho. Emiti uma opinião pessoal que causou reação negativa de uma parte da plateia. Mais do que isso, o espetáculo foi interrompido e a sessão não chegou ao final.
Deste acontecimento infeliz que me tem causado enorme desgosto desde então (ameaças à minha integridade física pelo Facebook, telefone, trotes, acusações diversas sobre meu caráter e minha honra, insinuações sobre meu pensamento a respeito de temas delicados como racismo, autoritarismo, censura, entre outros) – desde aquele momento, apenas sofro, penso e repenso, estou muito triste. Porém minha tristeza é o que menos interessa neste momento.
Mas há algo fundamental e definitivo: peço desculpas a Chico Buarque. Nada do que vier de mim, nenhuma palavra, gesto ou pensamento, poderá jamais servir para desagradá-lo. Ele é o autor, o compositor, e estou trabalhando com sua obra. Desta forma, reconheço sua soberania a respeito de tudo que envolva seu nome e sua criação. O simples fato de mencionar qualquer assunto ligado a Chico (citei em entrevistas, equivocadamente, o histórico atentado à peça RODA VIVA nos anos 1960, que não têm qualquer semelhança com o fato do último sábado; citei episódios de repressão pelos quais ele passou, assuntos que não são de minha alçada e que não têm qualquer ligação com o incidente de sábado passado) é inaceitável, não tenho nenhum direito de inferir, pressupor, fazer ilações com nada que se refira ao autor, seja Chico ou qualquer outro artista que me autorize a trabalhar com sua obra. Minha obrigação – por ética e respeito – é ser cuidadoso, reverente, e em nenhuma hipótese atingir a história, o pensamento, a identidade de quem me permite generosamente colocar em cena suas obras. Este é meu dever como diretor, ator, e produtor. .
Errei. Erro muito. Sou humano, mas isso não me desculpa. Aos 51 anos, sendo também autor e sendo um homem de história longa no teatro, eu tinha por obrigação preservar o autor e sua obra, não permitir que nada partindo de mim resvalasse nele, seja da forma que fosse. Por ser um admirador apaixonado e mais que isso, um pretenso “buarquiano” de carteirinha, minha responsabilidade é ainda maior. Dirigi e produzi ÓPERA DO MALANDRO, SUBURBANO CORAÇÃO, OS SALTIMBANCOS TRAPALHÕES (peça e filme que acaba de ser realizado com minha direção musical), NA BAGUNÇA DO TEU CORAÇÃO, ÓPERA DO MALANDRO EM CONCERTO, e idealizei TODOS OS MUSICAIS DE CHICO EM 90 MINUTOS como uma maneira de reverenciar o artista, o compositor, o autor. Mas falhei com minha responsabilidade, com Chico, falhei com o teatro e com a música.
Um áudio clandestino, gravado em meu camarim, me flagra num momento de enorme nervosismo, de destempero, de raiva. Nada justifica que invadam minha privacidade, considero a gravação um ato criminoso e a divulgação dela pelas mídias sociais é uma agressão à minha intimidade. Portanto, isto está sendo tratado em esfera policial e jurídica. Mas mesmo assim, por ter sido duro, descortês, arrogante e destemperado (o momento era muito inflamado), peço desculpas a todos que ouviram aquele Claudio Botelho sem compostura. E, se atingi alguém, mesmo tendo sido violada minha privacidade, peço novamente desculpas.
Minha exaltação e qualquer menção à obra do autor naquele dia são motivo de vergonha para mim neste momento. De qualquer forma, ouso crer que, por mais desatroso que tenha sido o acontecimento, o teatro ainda é um espaço que pode levantar debates nacionais de extrema relevância e repercussão. O teatro é sagrado e será sempre um espaço livre, de troca de ideias e de respeito às diferenças. Assim espero e por isso torço.
Envergonhado por ferir um estatuto sagrado do Teatro – respeitar o autor e público –, tenho obrigação de invocar novamente a única palavra que me parece oportuna neste momento: perdão.
Sinceramente,
Claudio Botelho
Eu entendo o receio, o medo do ator, mas considero sua atitude errada agora, não durante o espetáculo ou no desabafo no camarim, gravado sem dúvida de forma criminosa por criminosos (Mídia Ninja, daquele bocudo horroroso moral e fisicamente Pablo Capilé). Botelho foi alvo da pressão insuportável da patrulha intolerante de esquerda, da claque de “artistas” e “intelectuais” do PT. Não deveria ter cedido. Sei que o risco para sua carreira era alto, mas o PT vai cair, e com ele vários desses “artistas”.
Essa gente é tão canalha que simulou uma revolta enorme com minha lista de boicote voluntário, apenas para pregar o boicote ao ator que ousou pedir o impeachment de uma presidente. São os mesmos que se dizem democratas enquanto bajulam o ditador Fidel Castro. São sempre incoerentes, falsos, hipócritas, cínicos. Pedir desculpas a um mequetrefe como Chico Buarque, alguém desprovido de qualquer valor moral, esse é o maior erro de Botelho nessa história. Era melhor ter entubado a fúria dos pares e seguido com a cabeça erguida, com sua dignidade, algo que essa turminha petralha simplesmente não possui.
Rodrigo Constantino