O que vou constatar não é novidade alguma, mas não custa lembrar: o clima de “debates”, especialmente nas redes sociais, está muito tóxico e intolerante, por conta de uma polarização extrema que parece enxergar inimigos mortais por todo canto.
Em vez de disputas com base em argumentos, para tentar persuadir um adversário político ou ideológico, o que vemos é um ambiente de guerra constante, onde é preciso “humilhar” o outro, xinga-lo ou desqualifica-lo.
É inegável que o PT tem muito a ver com esse quadro lamentável, pois sempre investiu nessa tática. Mas a reação à direita em nada ajuda. Bolsonaristas parecem adotar a mesma estratégia, enquanto o guru da turma se mostra o maior especialista em “como vencer um debate sem ter razão”, basicamente com apelidos pejorativos ou xingamentos toscos.
Cada vez mais gente demonstra cansaço com essa situação, até porque ela impede um verdadeiro debate de ideias. Michele Prado, por exemplo, comentou: “Não existe mais diálogo democrático, com base na verdade e na razão. E isso desde pelo menos 2010, mas a coisa só está se agravando. Se antes era um Fla-Flu, agora é briga de torcidas organizadas e até gangues virtuais. Infelizmente, há poucas pessoas de mente clara neste país”.
André Guedes também lamentou: “Eu vou ser bem sincero: ando muito desanimado. Esse ano tá um show de horrores, principalmente no ambiente político. Muita treta, desinformação, briga, radicalismo, caça às bruxas. Difícil até de fazer piada”.
Em entrevista ao programa “Os pingos nos is” desta segunda, questionei o senador Major Olímpio, do PSL, sobre isso, perguntando se esse clima de guerra nas redes sociais não prejudica a atuação do governo no Congresso e se os filhos do presidente não têm culpa no cartório. Ele foi elegante ao não responsabilizar ninguém, mas reconheceu que essa postura que confunde política com guerra em nada ajuda.
Reparem que o senador disse respeitar a deputada Janaina Paschoal, de quem discorda sobre o posicionamento acerca das manifestações. É justamente isso que está faltando! Janaina foi massacrada nas redes sociais por bolsonaristas fanáticos, intolerantes com qualquer desvio ou discordância. A deputada deu todos os sinais de efetivamente desejar o melhor para o país e o governo que apoia, mas por divergir de alguns métodos, virou pária, inimiga e traidora.
Essa pode ser uma boa tática para calar os covardes, mas tem efeito bumerangue nos indivíduos independentes e de espírito livre. Diante dessa tentativa de intimidação, de assassinato de reputação, essas pessoas reagem intensificando as críticas, justamente para reforçar sua independência. Gustavo Nogy comentou: “Estou impressionado com o fenômeno: tipinhos autoritários pautando o debate e exigindo desculpas e justificativas de liberais e moderados. E alguns liberais e moderados… pedindo desculpas e apresentando justificativas”.
Sim, é lamentável, mas a tática só funciona com os mais medrosos, como disse. Falo por experiência própria: quando uma horda vem apenas me atacar, xingar, isso faz com que eu fique ainda mais convencido da importância de reagir a esse fanatismo, que vem dos dois lados, da esquerda e da direita.
É crucial aliviar um pouco a tensão, lembrar que a campanha eleitoral já terminou, e que todos estamos sob o mesmo governo, que precisa dar certo pelo bem do Brasil. Enxergar traição de inimigos sabotadores onde há apenas discordância de meios pode ser fatal para qualquer tentativa de união em prol de uma agenda comum.
Rodrigo Constantino