A decisão da semiestatal francesa de telefonia Orange de suspender suas operações em Israel o mais cedo possível — e a afirmação de seu CEO de que o grupo quer ser um “parceiro de confiança de todos os países árabes” — causou fúria no governo israelense, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu definindo a decisão como “infeliz”. O imbróglio diplomático tem como pano de fundo o temor em Israel das consequências de um possível recrudescimento da campanha global chamada Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) — que visa a isolar o país economicamente para pressioná-lo a negociar a criação de um Estado palestino e se retirar dos territórios ocupados.
O anúncio da intenção da Orange, uma das principais empresas globais da França, de sair de Israel foi feito no Cairo pelo CEO da empresa, Stephane Richard. A Orange encerraria sua parceria com a Partner Communications, uma operadora de telefonia israelense que usa sua marca, mas não sua infraestrutura.
— Eu sei que esse é um tema sensível aqui no Egito… Nós queremos ser um dos parceiros de confiança de todos os países árabes — disse Richard.
A pressão econômica exercita pelo mundo árabe contra Israel não é novidade, e representa um grande risco à nação judaica. Mas tem sido vista cada vez mais como a arma mais poderosa para destruir Israel. A lógica é simples: de um lado há vários países ricos e poderosos (graças ao petróleo), dominados por regimes islâmicos opressores que enxergam Israel como o inimigo a ser destruído; do outro, um pequeno país com cerca de 8 milhões de habitantes, bastante próspero apesar da falta de petróleo, mas com uma riqueza insignificante em termos absolutos quando comparada ao imenso mundo dos países muçulmanos.
Como ninguém quer perder a chance de fazer comércio com esses países todos, acaba-se muitas vezes cedendo à pressão de seus líderes e colaborando com o boicote a Israel. O colaboracionismo, aliás, é conhecido na Europa, e na França em especial, durante o nazismo. O Regime de Vichy foi um fantoche dos nazistas, agindo como máquina militar contra os próprios franceses judeus. Milhares foram mortos, e a ferida nunca cicatrizou bem, com razão.
Por isso é temerário ver esse tipo de pressão funcionando, com empresas francesas saindo de Israel para agradar os regimes islâmicos. Acabei de ler essa semana Submissão, de Michel Houellebecq, e pretendo escrever uma resenha em breve. Mas aqui adianto apenas que essa postura colaboracionista está no epicentro do avanço islâmico no Ocidente. O narrador da história, que se passa em 2022 em Paris, reconhece que muitos ainda resistiam: “dobrar-se à autoridade do novo regime saudita era considerado por muitos como um ato meio vergonhoso, um ato por assim dizer de colaboração“.
O termo grifado não é em vão: remete ao vergonhoso Regime de Vichy. Mas, como o autor imagina em sua ficção, a vergonha era compensada pela quantidade de adeptos, reunidos sempre em grupo para parecerem mais numerosos, o que dava a eles mais “coragem”. Se todos estão colaborando, então não é algo tão ruim assim, não é mesmo? E com essa desculpa a barbárie e a injustiça são nutridas por “inocentes”, cúmplices na verdade.
Será que uma empresa precisa romper com Israel para ser de “confiança” dos países árabes? Por que não pode ser livre para praticar comércio com todos? Isso já não diz muito sobre esses países árabes, sobre sua intolerância, seus métodos condenáveis, seu antissemitismo? Claro que ele virá disfarçado sempre de luta contra as injustiças de Israel, mas basta ter um pingo de isenção e honestidade intelectual para saber que, no fundo, não é nada disso. Israel é o capeta e o Irã é aceitável? Israel é o demônio e a Arábia Saudita é um bom exemplo? Uma piada!
Espero que a Europa não se curve diante da pressão e dos petrodólares dos muçulmanos. Seria a morte de seus princípios fundadores, da busca por liberdade e justiça, da tolerância, dos valores mais caros ao Ocidente, que fazem dele o relativo sucesso entre as diferentes culturas modernas. Se o mundo ocidental virar suas costas a Israel, por medo ou interesse, será sua sentença de morte, coroando com infâmia uma decadência que já não vem de hoje. Que o bom senso e o juízo ainda possam prevalecer!
Rodrigo Constantino
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