Não adianta. Eles não conseguem se segurar. Não ficam quietos. Precisam gerar intrigas, espalhar teses conspiratórias, disseminar paranoia. Falo, naturalmente, de Carlos Bolsonaro e de Olavo de Carvalho, respectivamente o filho e o guru do presidente.
O pitbull Carluxo parece ter uma necessidade incrível de brigar com alguém, enquanto o “filósofo” insiste em criar a militância bolsonarista, entregando seus objetivos reais. Carluxo resolveu atacar o Podemos dessa vez, o partido que tem a segunda maior bancada no Senado, o mesmo que vai sabatinar seu irmão para aprova-lo ou não como embaixador nos Estados Unidos:
Essa mensagem pode ser uma estratégia para minar a eventual concorrência à frente, pois Carlos sabe que o Podemos está cada vez mais associado à operação Lava Jato. Uma reportagem da Gazeta do Povo desta semana mostrou exatamente isso:
Em julho de 2018, durante a convenção do Podemos que confirmou o nome de Alvaro Dias na disputa pela presidência da República, o senador anunciou que, caso eleito, seu ministro da Justiça seria o então juiz da Lava Jato, Sergio Moro, um homem que dizia não ter pretensões políticas. Eu estava lá na sede do Paraná Clube naquela manhã de sábado e vi a reação incrédula de jornalistas e correligionários. Todo mundo saiu dali pensando que Alvaro estava blefando ou sonhando alto demais.
Alguns meses depois, confirmada a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), Moro virou ministro da Justiça e queimou a língua de quem achou que Alvaro estava trucando. Diante dos novos fatos, é improvável que o senador tenha citado o nome de Moro sem ao menos ter a anuência do agora ministro.
Aquela convenção não marcou apenas o início da malsucedida campanha de Alvaro Dias à presidência da República; de certa forma, o evento foi um ato público de lançamento da Lava Jato como uma força político-partidária.
A derrota eleitoral não esmoreceu Alvaro Dias nem o tirou de seu rumo. Retomadas as atividades no Senado, ele encontrou na liderança do Podemos um novo caminho para a institucionalização política do lavajatismo. E tem sido bem-sucedido na empreitada.
No começo do ano, o Podemos tinha apenas cinco senadores e era a sexta maior bancada da Casa. Atualmente a legenda tem 11 senadores e é a segunda maior, atrás somente do tradicional MDB. Como bem registrou o repórter Olavo Soares, o partido elegeu apenas um senador em toda sua história: o paranaense Oriovisto Guimarães. Todos os outros – inclusive Alvaro Dias, ex-tucano – mudaram de legenda após chegarem ao Senado.
Com o Podemos na mão e o discurso afinado com a Lava Jato justamente no momento em que o Senado teve a maior renovação de sua história – 85% das vagas em disputa – Alvaro Dias encontrou terreno fértil para sua articulação política. As disputas internas no governo que levaram à cisão entre o bolsonarismo e o lavajatismo ampliaram ainda mais as possibilidades de trabalho de Alvaro.
E é exatamente a isso que Carluxo parece estar reagindo. Ou seja, sua mensagem é um prenúncio de racha maior ainda entre bolsonarismo e lavajatismo, sendo que, como não canso de repetir, os bolsonaristas descobrirão do jeito mais duro que o lavajatismo é maior e mais poderoso.
E é aí que entra o papel do guru. Olavo de Carvalho insiste na criação de uma militância, não em torno de ideias ou princípios, o que seria “frescura” de liberal, mas sim em torno de uma pessoa, de um político, do presidente. E ele sequer esconde seus benchmarks, suas metas, suas inspirações:
Ou seja, trata-se, sim, de um petismo com sinal trocado, e em vez de Lula, Bolsonaro será o grande líder inconteste, a ser defendido o tempo todo, não importa o que faça. É o guru e o filho do presidente agindo para blindar Bolsonaro de deslizes, de traições, do eventual afastamento da Lava Jato e do compromisso de combate à corrupção? Tudo indica que sim.
Há método nessas mensagens, isso já ficou claro. Carluxo não tem capacidade de jogar xadrez 4D, de planejar tanto à frente, mas Olavo é mais inteligente, e tem um plano. Os dois já “fritaram” vários ministros, já criaram confusão com a ala militar no governo, afastaram os mais moderados da direita de um apoio pragmático a Bolsonaro, e agora declaram guerra ao Podemos e, por tabela, ao lavajatismo. A fidelidade deve ser a Bolsonaro, ponto!
Enquanto isso, as pesquisas apontam perda de apoio do presidente em todas as regiões, inclusive no sul e sudeste. É o resultado dessa postura, além da demora na retomada econômica. Com aliados como Carluxo e Olavo, o governo nem precisa de inimigos…
Rodrigo Constantino
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