Não nego que alguns “comediantes”, por falta de inteligência, apelam à baixaria, e só conseguem fazer “humor” ultrapassando qualquer limite do razoável. Mas, feita essa ressalva, é fundamental entender que a comédia em si será quase sempre ofensiva a algum grupo, pois ela parte justamente de uma caricatura para expor alguma realidade incômoda, muitas vezes mascarada pela hipocrisia social.
O importante é que a censura ao humor, mesmo do tipo mais esculachado possível, denota um claro autoritarismo. Não é coincidência que os revolucionários nunca tenham demonstrado aptidão ao riso. Ou então os “moralistas” da igreja medieval retratados por Umberto Eco em O Nome da Rosa. Sempre desconfio de quem não é capaz de rir de si mesmo de vez em quando.
Henri Bergson, em seu ensaio sobre a comicidade, afirma que o riso, pelo medo que inspira, mantém constantemente vigilantes certas atividades que correriam o risco de adormecer; ele “flexibiliza tudo o que pode restar de rigidez mecânica na superfície do corpo social”. Neste sentido, o riso persegue “um objetivo útil de aperfeiçoamento geral”, ele é uma espécie de “trote social”.
Muitos bolsonaristas aplaudiram a reação intolerante do público diante dos ataques de Gustavo Mendes ao presidente, sendo que ele ficou famoso por fazer troça da Dilma. São os mesmos que passaram a detonar Danilo Gentili quando este passou a criticar o governo. Dizem que combatem o politicamente correto, mas se tornaram os novos mimizentos da parada.
Querem “comédia” politizada, partidária, o que é a piada pronta. Não entendem, como os “progressistas” também não, que comédia é ofensa mesmo, e comediante bom costuma ser um iconoclasta, um tipo independente que rejeita tribos.
Vejam o caso do Chappelle, cujo show disponível na Netflix tem sido alvo de inúmeros ataques da esquerda à direita. Ele ridiculariza o próprio público, generalizando a postura típica das redes sociais de hoje, repletas de patrulha sobre o comportamento alheio.
“Não tenho saco para gente como vocês”, grita, e o público, “ofendido”, cai na gargalhada. É porque sabe que, no fundo, cada um de nós tem feito esse papelão de inquisidor do perfil alheio mesmo. O comediante esfrega essa triste realidade em nossas caras, pois essa é sua função:
Eu perdoo quase tudo nessa vida. Só não tenho paciência mesmo para três coisas: 1. burrice; 2. falta de caráter; 3. incapacidade de rir de si mesmo, dos seus defeitos, da tragicomédia que nos cerca. Há uma turma aí que se leva a sério demais, e essa rigidez, tão comum no perfil revolucionário, é incompatível com uma vida mais leve – e melhor.
Rodrigo Constantino
PF indicia Bolsonaro e mais 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado
Lista de indiciados da PF: Bolsonaro e Braga Netto nas mãos de Alexandre de Moraes; acompanhe o Sem Rodeios
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Lula diz que “agradece” por estar vivo após suposta tentativa de envenenamento
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS