A Comissão da Verdade está finalizando seus trabalhos de resgate da história, das vítimas da ditadura militar brasileira. Porém, a imagem que fica, ao menos para os mais atentos, é a de um claro viés partidário e ideológico, que procura olhar apenas um lado da história, ignorando o outro para atender a certos interesses do presente.
E quais são esses? George Orwell dizia que quem controla o passado controla o presente e, com isso, o futuro. O PT tem pelo menos dois interesses de uso prático da Comissão da Verdade: 1) pintar os próprios comunistas hoje no poder como vítimas inocentes no passado, que lutavam pela democracia contra tiranos fardados, pois tal imagem lhes favorece na eterna busca de vilões, na campanha do “nós contra eles”; 2) enfraquecer os militares, já que as Forças Armadas continuam gozando de alta estima popular e poderiam representar um indigesto obstáculo ao projeto totalitário de poder dos bolivarianos.
Além desses dois principais objetivos na campanha difamatória dos militares pela esquerda há décadas e pelo governo do PT em especial nos últimos anos, podemos pensar na razão mais comezinha de indenizações polpudas para aquilo que se transformou numa verdadeira indústria, uma Bolsa Ditadura que encheu os cofres de várias pessoas, mostrando que a luta armada dos anos 1960 pode ter sido um ótimo investimento.
De qualquer maneira, o que é inaceitável é essa nefasta tentativa de se rescrever a história, pintando guerrilheiros que sonhavam com a ditadura cubana como “democratas”. Denis Rosenfield, em sua coluna de hoje no GLOBO, cita alguns casos concretos que demonstram o absurdo de tal narrativa, como o cruel assassinato do tenente Mendes a mando de Carlos Lamarca, ou do soldado Mario Kozel Filho.
Os “justiceiros” apelaram para “tribunais revolucionários”, ou seja, simplesmente as lideranças decidiam quem merecia ou não morrer, e os guerrilheiros seguiam suas ordens, executando de forma fria os “condenados”. A luta tinha como objetivo implantar no Brasil a “ditadura do proletariado”, inspirada no regime cubano, até hoje admirado por muitos da nossa esquerda retrógrada. Ao ignorar esses “detalhes”, a Comissão da Verdade adota postura parcial altamente condenável. Rosenfield conclui:
Não é possível que seja levada seriamente em consideração uma pesquisa que privilegie a “História” — seguindo a visão dos que procuraram implantar no Brasil o totalitarismo comunista, avesso, por princípio, à democracia — em detrimento da história, retratando o que verdadeiramente aconteceu, tida por algo completamente secundário.
Uma verdadeira reconstituição dos fatos deveria voltar-se para todos os lados envolvidos. Assim sim, sob diferentes perspectivas, poder-se-ia abordar a realidade de uma forma isenta. Da forma que foi feito, o relatório só propicia novos erros presentes e passados, em nada contribuindo para o futuro. Não podem as próximas gerações “aprender” — na verdade — “desaprender” — que a “esquerda” era “boa” por definição, enquanto a “direita” era visceralmente “malvada”.
Ademais, fugia igualmente do escopo dessa Comissão qualquer proposta de revogação ou, eufemisticamente, de “reinterpretação” da Lei da Anistia, pedra basilar do país que veio a se formar como uma democracia a partir da Constituição de 1988. Trata-se de uma espécie de contrato do Brasil consigo mesmo, cuja obediência enseja assumir compromissos passados, na plena adesão ao que foi politicamente acordado.
Espera-se que o bom senso prevaleça e esse relatório seja meramente arquivado. É o país respeitando-se a si mesmo.
A Comissão da Verdade, infelizmente, está mais para a Omissão da Verdade, ao tomar partido e tentar transformar em vítimas inocentes ou democratas corajosos figuras que matavam de forma fria e cruel em nome da utopia assassina que é o comunismo, ideologia que deixou um rastro de sangue, miséria e escravidão por onde passou. Heróis nacionais? Nem aqui, nem na China! No máximo, em Cuba…
Rodrigo Constantino
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