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Como é bater de carro nos Estados Unidos?
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Um dos objetivos mais importantes que levei em conta quando decidi morar nos Estados Unidos foi usar meu canal para mostrar aos brasileiros a vida no cotidiano dos americanos, para efeito de comparação. Infelizmente, há pouco conhecimento, e creio que isso se deve em parte ao antiamericanismo de nossa imprensa, e ao ufanismo boboca de muito brasileiro.

Como não acredito em “trópicos utópicos” e não acho que temos que reinventar a roda, e sim aprender com quem deu certo, cheguei a colocar uma parte inteira dessa comparação no meu Brasileiro é otário? – O alto custo da nossa malandragem, na esperança de que os brasileiros possam olhar com admiração, e não inveja, para quem se desenvolveu mais.

Mas morando há pouco mais de dois anos em Weston, na Flórida, é claro que não tive todas as experiências possíveis de uma vida no exterior, em país de primeiro mundo. Algumas delas ainda bem! É o caso de um acidente de carro. Nunca bati ou sequer fui multado, e felizmente nunca bateram em mim. Mas os amigos existem para isso, não é mesmo?

Flavio Quintela, que mora em Orlando, passou por uma desagradável experiência dessas recentemente. É verdade que foi bem menos desagradável do que seria no Brasil. E é esse fator pedagógico de seu relato que tem tanto valor, para o brasileiro deixar de ser otário e começar a entender o que funciona e o que deve defender como sistema político-econômico. Eis, portanto, sua experiência:

Como é bater o carro nos EUA?

Sexta-feira passada, dia 11, um mané bateu na traseira do meu carro. Estávamos saindo de um shopping, aguardando para entrar numa avenida, e o desavisado – provavelmente usando seu celular, um hábito horroroso que muitos americanos têm – bateu no lado esquerdo traseiro do meu carro. Depois daquele pensamento rápido “mas que merda é essa?”, desço do carro e o cara já desce se desculpando. Ligo para a polícia, aviso sobre o acidente, e 9 minutos depois chega a viatura. O policial, extremamente educado, vem e pergunta de pronto se alguém se machucou. Digo que não, e ele pede para levarmos os carros até a próxima entrada do shopping e pararmos no estacionamento (que é sempre gratuito por aqui).

Uma vez parados, ele vai a cada um dos motoristas e pede a versão do ocorrido. Pega nossos documentos e vai para a viatura (um Dodge Challenger, por acaso). Ali, com seu computador de bordo, ele coloca todos os dados e, 20 minutos depois, volta com um papel impresso com todas as informações que precisamos para avisar a companhia de seguro. Aliás, é obrigatório na Flórida ter seguro de terceiros; você nem faz o documento do carro se não tiver. O policial me entrega o papel, deseja boa sorte e diz que podemos ir. Aceno um tchau para o causador do acidente que, com duas cadeirinhas de bebê no carro e uma expressão um tanto desolada por conta do custo da franquia mais a multa que levou (aqui, quem causa um acidente de trânsito é multado na hora), já conquistou minha simpatia e piedade.

Saindo da cena do acidente, vou para casa. Chegando, já ligo para a seguradora. A atendente me diz que o outro motorista já abriu um chamado e que a única coisa que preciso fazer é comparecer ao centro de reparos da seguradora para deixar meu carro e pegar um reserva. Ela me pede desculpa por não ter mais horários naquele dia e marca para as 10h da manhã da segunda-feira seguinte.

Hoje de manhã, cheguei ao local e fui atendido às 10h05. O único documento que precisei mostrar foi minha carteira de motorista e, 15 minutos depois, estava saindo de lá no carro reserva, um sedã grande com quase todos os opcionais de um carro de luxo e menos de 10 mil km rodados. O atendente, extremamente simpático, me disse que ligará na 4a feira para dar um prazo de conserto, mas que não deve levar mais do que uma semana. Sem exagero, foi mais rápido do que trocar óleo.

É assim que funciona na América.

Pois é. A América funciona. Ao contrário do Brasil, terra da malandragem, da hipertrofia estatal, da demonização da polícia, da desconfiança geral e do excesso de burocracia e regulação. Até quando?

Rodrigo Constantino

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