Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
“Trabalhador não vota em patrão” – Slogan do PSTU
Uma das características distintivas de um autêntico esquerdista, como ademais de qualquer coletivista, é a divisão do mundo em grupos: castas, raças, classes, gêneros, religiões, etc. Você é bom ou mau não por suas ações, opiniões e posturas individuais, mas dependendo de qual grupo você pertence.
Se você é americano, com as raras exceções que confirmam a regra, como Obama, é visto como eminentemente mau, explorador, ganancioso, violento, colonialista. O mesmo vale para os empresários que – ao contrário dos bonzinhos e desapegados trabalhadores – estão sempre dispostos a tudo pelo vil metal. Se você é branco, heterossexual e rico (ou apenas remediado), arderá no fogo do inferno eternamente. Não tem salvação. Sua fortuna certamente foi ganha ou herdada através da exploração ou do roubo.
A famigerada luta de classes nada mais é que uma consequência lógica da eterna batalha entre o bem e o mal. Trabalhadores x capitalistas, negros x brancos, heterossexuais x homossexuais, homens x mulheres, elite x plebe, islamitas x judeus. É infinita a quantidade de grupos que os coletivistas podem criar para estabelecer antagonismos.
A principal característica dessa divisão de mundo em grupos é que os interesses de uma determinada classe são sempre divergentes dos interesses da classe que lhe é antagônica. Assim, interesses de trabalhadores e empresários invariavelmente serão excludentes, assim como os de negros e brancos, homens e mulheres. Não por acaso, os coletivistas enxergam qualquer troca ou contrato, ainda que voluntários, como um jogo de soma zero, em que os benefícios de uns necessariamente representam prejuízos de outros.
Ao adquirir um par de tênis, ainda que eu valorize aquele bem mais do que o dinheiro que paguei por ele, eu estou sendo explorado pelos capitalistas que o produziram e comercializaram. Negros e mulheres serão sempre explorados por seus patrões brancos, não importa se estão satisfeitos com o salário combinado.
Na visão coletivista, o ideal teórico é que houvesse uma solidariedade intrínseca entre os componentes dos diversos grupos, de forma que negro não votasse em branco, proletário não defendesse capitalista, enfim, oprimidos jamais se juntassem a opressores. Não importa se o seu patrão é um sujeito legal, que paga seus salários em dia, com grande esforço e dedicação. Não interessa se ele, além de patrão se tornou também seu amigo. Na visão dos coletivistas, ele será sempre seu inimigo.
O humorista Gregório Duvivier é, provavelmente, um desses espécimes coletivistas. Em sua coluna de ontem, na Folha de São Paulo, Gregório se mostra inconformado com a pouca representatividade do povo brasileiro no Congresso Nacional. Segundo ele:
As mulheres são quase 52% da população. No entanto, você consegue encontrar mais mulheres jogando rúgbi do que na Câmara dos Deputados. O povo brasileiro se declara, em sua maioria, negro ou pardo (53%). O Senado brasileiro tem menos negros que o Senado da Suécia (não é uma expressão, é um fato). Quanto aos jovens, melhor procurar num jogo de bocha. Jovens com até 34 anos são 39% do eleitorado e 10% do Congresso.
O mesmo vale para os gays: apenas um deputado entre os 513 se declara gay. Já os transexuais e a população indígena não tem a mesma sorte. Nenhuma das duas minorias tem sequer um deputado federal ou senador. Em compensação, os empresários, apenas 4% da população, são 43% dos deputados. Sim: proporcionalmente, a Câmara dos Deputados tem dez vezes mais empresários do que o Brasil.
Nota-se aí, nitidamente, certa revolta com a, digamos, falta de solidariedade classista dos tupiniquins na hora de votar. Na cabeça revoltada e tumultuada do ilustre escriba – eu sei que alguns dos nossos melhores amigos e aliados veem nisso apenas hipocrisia e oportunismo, mas eu prefiro dar a ele o benefício da dúvida, ainda que sob o risco de ser visto como ingênuo -, se o eleitor votasse corretamente, de acordo com os interesses de sua classe, deveria haver uma distribuição de cadeiras no Congresso Nacional que espelhasse as diversas classes, sexos e raças no país inteiro. Isso aconteceria se mulheres negras votassem apenas em mulheres negras, Homossexuais em homossexuais, trabalhadores em trabalhadores, e assim por diante.
As únicas exceções, é claro, ficariam por conta dos seres superiores – os ungidos, como diria Thomas Sowell. Estes, por serem capazes de discernir o que é melhor para todos, estariam livres para apoiar classes diferentes da sua. Gregório, por exemplo, apesar de jovem, branco, heterossexual e rico, pode votar a vontade na Dilma para presidente e no Jean Willis para deputado, sem que isso signifique qualquer contradição ou infidelidade de classe, afinal, ele sabe exatamente, sem quaisquer dúvidas, de que lados estão o bem e o mal.
Não por acaso, indivíduos livres desse tipo de amarras bobocas e sem sentido, como Fernando Holiday, deixam esse pessoal perplexo e revoltado. Fernando é negro, jovem, pobre, homossexual e… Oh! Suma heresia! Liberal. Pode isso Arnaldo, digo, Gregório? Se ele (Fernando) se candidatasse a algum cargo político no Rio de Janeiro, quase certamente teria o meu voto, embora sendo eu branco, hetero, empresário e velho, não pertença a nenhum dos “grupos” de que Fernando é parte, pelo menos de acordo com a estratificação dos ditos progressistas.
Aliás, se me permitissem uma opinião final, eu diria aos coletivistas que só existe uma classe de gente no mundo. A dos seres humanos. E esses seres, apesar de já serem mais de sete bilhões, são todos muito diferentes entre si. Portanto, somos sete bilhões de “minorias” (Salve! Ayn Rand) distintas, o que torna a vida (e a realidade a nossa volta) muito mais complexa do que imaginava Marx e supõem os seus próceres contemporâneos.
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