Por Thiago Kistenmacher, publicado pelo Instituto Liberal
Recentemente tive uma conversa com um policial civil a respeito de como o Estatuto do Desarmamento tem prejudicado a tradição dos Clubes de Caça e Tiro na região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
Nessa conversa, falamos um pouco sobre a história desses clubes, criados com a chegada dos imigrantes alemães na colônia blumenauense. No entanto, é importante ressaltar que a história desses clubes remonta à Idade Média, quando as companhias de atiradores eram também responsáveis pela defesa dos feudos etc. Posteriormente, com a criação dos exércitos oficiais, esses grupos não morreram, mas passaram a realizar atividades recreativas, como competições de tiro, dentre outras.
Quando da chegada dos alemães a Santa Catarina, mais especificamente à região de Blumenau, dada a falta de atividades culturais por aqui – pois o número de habitantes era baixo – criaram-se, a partir de 1959, os Schützenvereine, ou seja, os Clubes de Caça e Tiro. Junto da Igreja e da família, eles eram o “terceiro pilar” daquela sociedade incipiente.
Nos Schützenvereine havia não só competição de tiro nas Schützenfeste – festas realizadas geralmente durante o Pentecostes e que duravam até cinco dias –,mas também eventos culturais, tais como apresentação de corais, teatro, organização de excursões, exposição de produtos coloniais e também o evento chamado Kulturverein, no qual os agricultores se reuniam para orientar uns aos outros a respeito da agricultura e da pecuária.
Muitas questões históricas poderiam ser aqui abordadas, como, por exemplo, a crise pela qual os Schützenvereine passaram durante o Estado Novo, quando houve a intensificação da ideia de nacionalização. Vistos como bastiões que pudessem ser simpáticos ao nazismo etc., os imigrantes alemães e seus descendentes passaram a ser vigiados atentamente, sendo inclusive proibidos de falar alemão.
Após essa curta apresentação histórica, gostaria de chamar atenção para um fato: os Clubes de Caça e Tiro estão à míngua – como alertou o policial civil –, e um grande responsável por isso é o Estatuto do Desarmamento. Hoje os atiradores são escassos. A campanha ideológica contra a posse de armas – ainda que para uso recreativo – é vista como perigosa, pois é ideologicamente enviesada.
Desse modo, vê-se como o Estatuto do Desarmamento, que não respeita o direito de autodefesa do cidadão, não só nega tal direito como atinge negativamente toda uma gama de atividades culturais. Não é por menos que hoje esses clubes sejam majoritariamente utilizados para festas, feijoadas e diversas outras atividades que não a prática do tiro.
Se na época da Guerra do Paraguai trinta sócios de Clubes de Caça e Tiro chegaram a ir para os campos de batalha, hoje mal se atira. A pedra basilar desses clubes, quer dizer, a arma de fogo, hoje é vista não como um objeto que depende da intenção de quem a detém. Ela tem sido erroneamente concebida como a responsável pelos crimes. Como se uma arma de fogo tivesse autonomia para decidir seu alvo.
É inegável que os Clubes de Caça e Tiro aqui do Vale do Itajaí, tão tradicionais, além de outras coisas, foram fortemente golpeados pelo Estatuto do Desarmamento. Com toda a burocracia que existe para portar uma arma de fogo, é natural que esses clubes percam associados, pois se submeter a tantos trâmites burocráticos é assaz exaustivo. Qualquer pessoa com arma de fogo é considerada criminosa, sendo que é com tal objeto que criminosos são combatidos.
Vejamos, então: os torneios de tiro eram fundamentais nesses lugares, todavia, não eram as únicas atrações, como vimos. Sendo assim, por causa do Estatuto do Desarmamento, diversas outras atividades foram perdidas. Meu propósito com esse texto não foi saudosista. Sei que várias tradições ficam somente na história, acabam, e isso faz parte da própria história, que naturalmente muda. O que tive como intuito demonstrar foi como o Estatuto do Desarmamento não somente acomete de maneira ridícula a questão das armas, mas também prejudica toda uma tradição que só saiu perdendo.
A questão central, portanto, não é o gradual desaparecimento dos Clubes de Caça e Tiro – que um dia podem desaparecer – mas o porquê desse fenômeno. Afinal, uma coisa é uma tradição acabar perdida por falta de interesse, bem outra é ela desvanecer devido à privação de um direito encontrado nas maiores democracias do mundo.
Se antes os pais levavam os filhos para atirar com espingardas de ar-comprimido, hoje um menino com uma arma de plástico em mãos é visto com espanto. Por coincidência, ontem revi um álbum de fotos no qual apareço pelo menos em seis delas com armas de brinquedo. Tornei-me violento? Não. E assim é com a maioria das pessoas – para repetir o óbvio.
É provável que, caso o Estatuto do Desarmamento seja revogado os Clubes de Caça e Tiro voltem a ter a mesma importância de antes.
Como ressaltei na conversa do vídeo acima citado, a violência não vai acabar com a revogação desse Estatuto. Conforme enunciou Einstein, “Onde há homens, há guerra”. Dessa forma, enquanto houver humanos andando sobre a Terra, teremos guerra e violência. No entanto, a sensação de impotência e a segurança pessoal, sem dúvida alguma, sofreriam forte impacto positivo sem esse Estatuto. Ou seja, alguém que tenha uma arma dentro de casa – e que não seja evidentemente um bandido – pelo menos não mais se sentirá como um gado pronto para ser abatido.
Para muita gente a arma de fogo é um instrumento de trabalho, para outros, é tradição. E claro, para mais gente ainda, uma arma de fogo serve apenas de proteção contra bárbaros cujas ações são legitimadas pelo Estatuto do Desarmamento.
Por fim, observemos duas frases a respeito da posse de armas pelos cidadãos comuns. A primeira delas, a favor, diz: “Quando todas as armas forem de propriedade do governo, este decidirá de quem são as outras propriedades.” – Benjamin Franklin. Agora a frase que advoga pela proibição das armas para o povo: “A história ensina que todos os conquistadores que permitiram a posse de armas pelas raças dominadas prepararam sua própria queda ao fazê-lo.” – Adolf Hitler.
Acho que isso explica muita coisa.
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