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Já participei de mais de uma dezena de colóquios organizados pelo Liberty Fund. Sou fã de carteirinha. Um grupo de pessoas inteligentes com formação plural se reunindo num hotel charmoso para debates interessantes sem a necessidade de uma conclusão: o que pode ser mais aprazível?

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O fundador do Liberty Fund, Mr. Goodrich, acreditava no diálogo, na conversação. É a crença de muitos pensadores liberais e conservadores, que partem da premissa da falibilidade humana. Dois deles, Michael Oakeshott e Roger Scruton, são mencionados na ótima coluna de Bruno Garschagen na Gazeta do Povo hoje, justamente sobre a morte da conversação. Diz ele:

O debate político, pela sua própria natureza, raramente permite que haja uma conversação. Porque os interlocutores iniciam o diálogo com objetivos antecipadamente estabelecidos e subordinados a uma agenda pragmática ou ideológica. E, uma vez alcançadas aquelas finalidades, a interlocução é encerrada. Isso dificulta, e pode até mesmo inviabilizar, o diálogo e a capacidade de influenciar a posição do outro.

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Nos embates ideológicos, a comunicação é calcada numa estratégia para conquistar mentes ou vencer o interlocutor. Quanto mais sede de poder tiver a ideologia, menos digna será a tática escolhida. A verdade, a ética, a moralidade são relativizadas, atacadas ou recebem novos significados e atribuições para que justifiquem o discurso e legitimem a agenda revolucionária. Em vez de um programa desenvolvido a partir das tradições, normas e costumes benéficos que resistiram aos testes do tempo, os agentes da revolução pretendem enquadrar as pessoas em seu projeto de poder.

Mas é claro que nada disso está explícito na agenda política. Os revolucionários utilizam camuflagens para esconder o que são e o que pretendem. O disfarce é parte da natureza ideológica. Os rótulos que utilizam como instrumentos de acusação também servem para omitir o estratagema e fazer com que o debate seja orientado de acordo com os seus próprios termos.

Quando observamos cusparada para todo lado, jovens intimidando cadeias de restaurantes que apoiaram o impeachment, terroristas lançando coquetéis Molotov na sede do DEM, vemos como os intolerantes estão fazendo o “diabo” para matar o diálogo em nosso país.

Como toda ação gera uma reação, há do lado de cá quem “caia na pilha” e suba cada vez mais o tom contra os fascistas. Garschagen resume numa frase muito feliz o risco: “O revolucionário cria e alimenta o reacionário, que se torna seu melhor amigo e idiota útil”.

Se os monstros conseguem tornar todos igualmente monstruosos, se os niilistas forem capazes de aniquilar qualquer esperança no diálogo, então a civilização já perdeu. Entendo perfeitamente o alerta, e eu mesmo já o fiz aqui antes, em diferentes ocasiões. O PT me faz ser uma pessoa pior, precisamos elevar o nível do debate, devemos ter cuidado ao olhar demais para o abismo para não sermos tragados por ele.

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“Nada mais importante neste momento do que lutar com coragem, destemor e dignidade, mas empreendendo um esforço permanente para preservar a ordem interior e o espírito sadio. Os revolucionários só vencerão a batalha se conseguirem nos transformar naquilo que eles são”, conclui Garschagen. Aplaudo.

Mas confesso que não é trivial encontrar esse equilíbrio. Afinal, a política não é feita com pureza. Precisamos ser realistas também. A guerra ocorre na planície com todo tipo de sujeira, enquanto o filósofo vive no planalto, lá em cima, divagando e preservando sua honestidade intelectual. O complicado é obter uma combinação saudável.

Se a política é o terreno da persuasão, e se fascistas tentam ocupá-la, então não dá para ser a virgem vestal no bordel e achar que vai lograr êxito. Por isso mesmo intelectuais não costumam ser bons estadistas. Estes são menos escrupulosos do que aqueles. Churchill que o diga.

Por outro lado, seria muito triste – e perigoso – se os formadores de opinião, se os guardiões da civilização, se os conservadores de boa estirpe se tornassem mais parecidos com seus adversários. Seria a vitória dos inimigos da liberdade, da civilização. Precisamos preservar a conversação, o diálogo elevado. Não poderia estar mais de acordo.

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Apenas entendo que, antes, torna-se crucial derrotar o PT, custe o que custar. Se um país cai nas garras fascistas de vez, aí já não há mais espaço para qualquer conversação civilizada. Que diálogo pode haver hoje na Venezuela? Os intelectuais puros contam normalmente com os atos mais sujos dos “bárbaros” dispostos a enfrentar, no campo de batalha, os inimigos em comum.

Adoramos odiar a CIA com os filmes de Hollywood, mas alguém acha que é fácil a vida de um espião infiltrado no Isis? E alguém acha que dá para derrotar terroristas só com palavras? Muitos gostam de criticar os “excessos” de Israel, mas como se defender de malucos de todos os lados sem ser minimamente pragmático e realista?

Não é que os nobres fins justifiquem quaisquer meios, como acreditam os revolucionários, e sim a constatação de uma dura realidade: nem sempre é possível se manter totalmente protegido da sujeira política. Mesmo os pensadores necessitam de soldados que executem o “trabalho sujo” de vez em quando. Política não é o local adequado para os de estômago frágil e ética muito rígida. It’s sad, I know, but true.

Rodrigo Constantino