Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal
Algumas vezes caio na tentação de comparar o desempenho econômico dos países da América Latina com o dos países da Ásia e esta é uma dessas vezes. Naturalmente existem muitas diferenças entre os dois grupos de países que estão além das características econômicas. E isso deve ser levado em conta quando da leitura desse post, porém tais diferenças não tornam as comparações irrelevantes, longe disso. Acima de quaisquer diferenças os habitantes de todos os países são muito parecidos uns com os outros, somos todos humanos, de forma que as diferenças são explicadas muito mais por incentivos e restrições, inclusive naturais, do que por uma diferença intrínseca entre cidadãos nascidos nos diversos países. Se você não gostou desse princípio, que todos somos muito parecidos, tente pensar negando esse princípio e veja onde você pode chegar.
Hoje vou comparar taxas de investimento, nas próximas semanas farei outras comparações. A taxa de investimento é uma variável fundamental para explicar o crescimento de uma economia. Investimento significa mais máquinas e mais capacidade de produção, investimento significa novas máquinas com novas tecnologias incorporadas (na verdade, novas máquinas não são a única forma de incorporar tecnologias no processo de produção, mas são uma forma importante de fazer isso), e, para a turma da demanda, investimento significa demanda efetiva. Não importa por onde você olhe, investimento é importante para explicar crescimento e PIB per capita.
A figura abaixo mostra a relação entre taxa de investimento e PIB per capita nos países Emergentes da Ásia e da América Latina e Caribe, a classificação do FMI e usei todos os países listados pelo FMI (link aqui) que estavam na Penn World Table (PWT), excluí o Brunei, que por ter um PIB per capita muito alto estava distorcendo os gráficos, também limitei a análise ao período entre 1995 e 2014.
Repare que os países do grupo de emergentes da Ásia, pontos laranjas, são mais pobres e possuem taxas de investimento maiores que os países da América Latina, pontos verdes. Se você não viu isso repare que os pontos laranjas estão mais à esquerda (mais pobres) e mais altos (taxas de investimento maiores) do que os pontos verdes. Em particular, repare a concentração de pontos verdes abaixo da linha e a concentração de pontos laranjas abaixo da linha. A figura abaixo traça uma reta para os países emergentes da Ásia e outra para os países da América Latina, repare que a reta laranja (emergentes da Ásia) fica sempre acima da reta verde (América Latina e Caribe), o que pode ser interpretado como para o mesmo PIB per capita os países emergentes da Ásia investem mais que os países da América Latina e Caribe.
O recado é claro: PIB per capita baixo não é desculpa para a baixa taxa de investimento da América Latina, se não investimos mais é porque não queremos e não porque não podemos. A figura abaixo mostra como a relação mudou entre 1995 e 2014, note quem em 1995 apenas três países, todos da Ásia, investiam mais de 40% do PIB. O Butão investia 43% do PIB com um PIB per capita de $3.073, a Malásia investia 50% do PIB com um PIB per capita de $11.359 e a Tailândia investia 46% do PIB com um PIB per capita de $8.116, naquele mesmo 1995 o PIB per capita do Brasil era $8.462 e investíamos apenas 17% do PIB.
Por fim é útil olhar para a relação entre PIB per capita e taxa de investimento por grupos de renda, a figura acima sugere que a medida que os países emergentes da Ásia ficaram mais ricos a relação entre PIB per capita e taxa de investimento nestes países ficou mais próxima da relação observada na América Latina. A figura abaixo mostra a relação entre PIB per capita e taxa de investimento por grupo de PIB, no canto superior esquerdo estão as combinações de anos e países com PIB per capita entre $1,1 mil e $4,28 mil, no canto superior direito está o grupo entre $4,28 mil e $7,52 mil, no canto inferior esquerdo está o grupo entre $7,52 mil e $12,3 mil e no canto inferior direito está o grupo entre $12,3 mil e 35,4 mil. Repare que apenas no grupo dos países mais ricos (canto inferior esquerdo) as linhas se cruzam, em todos os outros grupos a linha laranja (emergentes da Ásia) está acima da linha verde (América Latina e Caribe). Repare também que nos países com maiores PIB per capita as linhas apresentam inclinação negativa, isso dá muito pano para manga, mas não vou tratar do assunto aqui, de fato, nem mesmo estou checando se a inclinação é significativa.
A taxa de investimento sozinha não explica o desempenho da economia de um país, além de vários outros fatores como capital humano, instituições ou produtividade é preciso levar em conta que a taxa de investimento mede o quanto está sendo investido, mas não mede no que está sendo investido. Se um determinado país sair investindo na construção de monumentos que não afetam ou afetam muito pouco a produção (alguém falou estádio da Copa?), ou em obras que não terminam nunca a taxa de investimento vai aumentar, mas não há porque esperar um aumento do PIB per capita. Porém, mesmo não explicando, a taxa de investimento maior na Ásia é um dos fatores que devem ser considerados para entender porque a média dos PIB per capita dos países emergentes da Ásia cresceu 132% entre 1995 e 2014 e mesma média para América Latina cresceu apenas 73%.