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Comunismo e nazismo: religiões seculares contra a democracia liberal

Entre as rodas “intelectuais” e estudantis, há um consenso de que o comunismo e o nazismo/fascismo são extremos opostos. Mas pessoas mais esclarecidas sabem que não é bem assim. Ou nada assim. O debate mais sério que pode surgir, portanto, é se o nacional-socialismo de Hitler e o fascismo de Mussolini seriam reações ao comunismo, apesar de similares em vários aspectos. Ou seja, se nasceram como um ato de reação totalitária à ameaça comunista igualmente totalitária, como vemos hoje na Europa uma direita nacionalista crescendo como reação da ameaça islâmica.

João Pereira Coutinho, em sua coluna de hoje, resgata esse debate, tomando como base as divergentes opiniões de Ernst Nolte e François Furet. Coutinho toma o partido de Furet, para quem o nazismo e o fascismo não eram uma reação ao comunismo, mas sim um fenômeno com origens semelhantes, todos eles reações às democracias liberais capitalistas predominantes na Europa na época:

O nazismo não é uma mera reação à Revolução Russa de 1917. François Furet prefere olhar para o comunismo e para o fascismo como gêmeos ideológicos contra um mesmo inimigo: a democracia liberal (ou “burguesa”, para usar a linguagem das seitas) que emerge na Europa do século 19.

O ódio ao parlamentarismo é igual. O ódio ao capitalismo é igual. A defesa de um regime de partido único é igual. A exortação da violência como meio legítimo de construir o “homem novo” é igual.

Falar de Raça, ou Proletariado, é questão de pormenor quando o fim é semelhante: a destruição da democracia pluralista pela imposição do Estado totalitário. Escusado será dizer que os resultados não poderiam ter sido outros: a mesma desumanidade e a mesma montanha de cadáveres.

Por fim, Coutinho acrescenta o ponto de vista de Raymond Aron que faltaria para completar a análise: os regimes totalitários do século XX eram seitas seculares, religiões laicas criadas como substitutas das religiões tradicionais, com a “morte” de Deus: “os movimentos totalitários, a começar pelo comunismo, mimetizaram a religião tradicional nos seus ritos e narrativas. Com uma diferença: prometeram aos “humilhados e ofendidos” uma recompensa terrena, e não celestial”.

Quando vemos a postura desses “fiéis” do comunismo ou do fascismo, tratando seus líderes como profetas ou sacerdotes e os adversários políticos como hereges, fica claro que Aron estava certo. De certa forma, o fascismo pode ser uma reação ao medo do comunismo. Mas, em linhas gerais, ambos se alimentam do mesmo tipo de covardia, disputam o mesmo tipo de alma carente e ressentida.

O comunismo tenta idealizar o futuro, enquanto o fascismo idealiza o passado. Mas ambos precisam destruir o inimigo em comum: as democracias parlamentares liberais sob o modelo capitalista. É o indivíduo independente que tanto os comunistas como os fascistas não suportam.

PS: Basta observar inúmeros petistas hoje para deixar isso claro. Não é apenas a canalhice que explica alguém conseguir defender o PT apesar de tudo. É, também, o aspecto religioso da seita. O comunista defendia Stalin mesmo depois de conhecer seus crimes, o nazista fazia o mesmo com Hitler, o fascista com Mussolini, e os petistas agem de forma semelhante, guardada as devidas proporções dos crimes de seus mestres.

Rodrigo Constantino

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