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Conservadorismo: qual a dose certa?

Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

Em primeiro lugar, reafirmo que sou a favor da liberdade sexual e de produção, comercialização e consumo de drogas. Ou seja: não sou nenhum puritano – nem poderia sê-lo. Também sou ateu. No entanto, a cada dia compreendo melhor alguns valores conservadores.

Sempre me lembro do trecho de uma música do Paulinho da Viola: “Tá legal, tá legal… eu aceito o argumento, mas não altere o samba tanto assim”. Isso ilustra o pensamento conservador moderno que diz que a preservação de certos valores NÃO impõe o congelamento cultural de uma sociedade.

Sim, pode-se fazer um samba com novos instrumentos, com uma ou outra batida incorporada, mas é necessário haver um limite para que o samba não deixe de ser samba. O objetivo final do socialismo é a criação de um novo homem, meticulosamente idealizado por um pequeno grupo de intelectuais; e a criação desse “novo homem” só é possível destruindo o homem cristão.

Quando atacam os princípios de propriedade privada, de liberdade econômica e de criação dos filhos, estão, na verdade, atacando a responsabilidade individual, que é um dos pilares do cristianismo – as pessoas são responsáveis por seus atos e devem, elas mesmas, com seus próprios recursos, ajudar os mais necessitados de forma consciente e voluntária.

O “novo homem” imaginado pelo socialismo não tem responsabilidade individual porque ele não tem propriedades, sequer de si mesmo. Ele é uma propriedade do pensamento coletivo organizado pelo pequeno grupo de intelectuais. Quando dizem que o homem deve pensar prioritariamente no coletivo, querem dizer que sua felicidade é de responsabilidade dos demais membros da sociedade. E assim, cada indivíduo precisa prestar contas não à sua consciência cristã, mas ao “partido”, já no papel de igreja.

Isso significa que as pessoas não devem ser responsáveis por seus atos, nem pelos seus filhos. Elas devem apenas trabalhar e trabalhar e trabalhar em função dos “interesses coletivos”.

Essa ideia justificou os genocídios promovidos na Rússia, na Alemanha, na China, na Coreia do Norte e no Camboja. Pessoas vistas como sem “função social” não mereciam viver. Em nome dos “interesses sociais”, deficientes físicos e mentais, gays, judeus, ciganos, membros de outras etnias e pessoas fracas demais para o trabalho foram deixadas para morrer de fome ou de frio, porque cada centavo gasto para mantê-las vivas significava – segundo o ideal comunista – um centavo a menos gasto no projeto de sociedade justa e harmoniosa.

Eu moro ao lado de um hospital público. Faz parte de minha vida ver pessoas pobres, com graves problemas. Com frequência vejo, por exemplo, crianças com corpos deformados ou problemas neurológicos chegando em cadeiras de rodas. E sabe o que vejo junto delas? Uma mãe. Um pai. Uma irmã. No “maravilhoso” mundo comunista, essas pessoas não merecem sequer respirar. Mas no mundo dos “extremistas de direita ultraconservadores reacionários”, essas pessoas merecem todo o amor, todo o cuidado que se pode dar.

Enquanto eu escuto todos os dias defesas fervorosas do aborto – em pleno século 21, com diversos meios contraceptivos à disposição das mulheres −, eu vejo pais e mães arrumando o cabelo de uma criança que nunca lhe dará um abraço, limpando a melequinha do nariz de alguém que nunca irá lhe chamar pelo nome, ajeitando a roupa de um ser humano que nunca irá lhe devolver um único centavo gasto pela dignidade que recebe.

O que aprendi na vida é que só existe amor entre pessoas diretamente relacionadas ou por família, ou pelo desejo de constituir uma família. O amor que a esquerda prega é uma abstração perversa e hipócrita: amam a humanidade, a natureza… e odeiam profundamente o cidadão logo ao lado, que privilegia sua própria felicidade e a de seus filhos.

A insistência da esquerda em relacionar a homofobia, o racismo e o machismo ao conservadorismo é um engodo midiático para não deixar as pessoas perceberem os ataques ao senso de responsabilidade individual e familiar, que leva ao trabalho, ao esforço, ao lucro, porque são essas coisas que nos fazem prosperar enquanto seres humanos; o que, em conjunto, gera benefícios coletivos reais, práticos.

O fato é que só estamos aqui agora porque somos produtos de uma sociedade cristã. Foram os valores cristãos que fizeram essa parte do mundo prosperar muito mais do que o restante. Todo e qualquer desenvolvimento dos demais países veio da influência direta do ocidente cristão. Eu só posso me declarar ateu porque vivo num mundo cristão.

Os socialistas só existem porque o cristianismo propiciou o surgimento de um tal de capitalismo para sustentá-los. Um século atrás, 90% da população mundial vivia na extrema pobreza. Hoje, apenas 10% da população encontra-se nessa situação. Isso só ocorreu graças à liberdade econômica que marcou essa parte do mundo que, sem qualquer projeto social, criou e levou às massas diversos produtos e tecnologias que tornaram a vida do homem mais longa e menos sofrida.

É nesse “famigerado” mundo cristão que gays podem andar de mãos dadas nas ruas e qualquer pessoa pode falar o que quiser contra qualquer um, inclusive contra a igreja. Quando entramos no Museu do Louvre, em Paris, não encontramos uma mera coleção de arte, mas a essência de uma civilização que evoluiu ao ponto de respeitar e enxergar beleza noutras culturas.

É no ocidente cristão onde todas as religiões podem erguer seus templos, onde jovens de outras culturas podem estudar nas universidades, onde mulheres mais têm liberdade. Sim, o cristianismo perseguiu e matou muita gente, mas apenas uma pequena fração do que os socialistas perseguiram e mataram no último século – Fidel Castro mandou para o paredão mais pessoas do que o Vaticano em séculos!

Os socialistas adoram dizer que devemos “debater ideias”. Mentira! Eles nunca fizeram isso. A literatura e a história do socialismo é uma IMPOSIÇÃO ideológica pré-definida. Onde mais teve debate foi no ocidente cristão capitalista. Foi nessa parte do mundo que as sociedades expandiram a liberdade econômica para as relações pessoais. As leis em favor do casamento gay, por exemplo, são resultado do debate civil que só aconteceu porque o mundo cristão dava liberdade para isso – o próprio Papa já pediu respeito aos relacionamentos homoafetivos. Por isso que eu me preocupo cada vez mais com a preservação da religião da maioria dos brasileiros. Por mais problemas que tenhamos, ainda estamos numa situação muito melhor do que a da maioria dos países da África e da Ásia.

Não podemos nunca, jamais permitir que o estado seja ocupado por socialistas. Nunca! Eles odeiam o cristianismo. Eles precisam odiar, porque só odiando-o conseguem força para destruí-lo, e só destruindo-o conseguirão criar uma lacuna moral na mente das pessoas, permitindo a inserção − como fé religiosa − dos princípios socialistas de “escravidão do bem”.

A grande maioria das pessoas têm vidas difíceis, de trabalho duro, de responsabilidades, de fraquezas e mil perguntas sem respostas. Elas precisam de uma baliza moral para não enlouquecerem, saírem por aí roubando, matando, estuprando crianças e fazendo sexos com animais. Elas precisam de uma religião para lhes ensinar sobre caridade voluntária, sobre respeito aos mais velhos, gratidão aos pais e fraternidade com os doentes. Minha consciência libertária abre espaço para o entendimento de que o cristianismo é o pilar de nossa cultura, portanto, deve ser preservado de modo que lhe permita amadurecimentos, mas nunca desconstruções.

Nota do blog: Acredito que seja uma tendência bem natural o libertário jovem ir adotando doses maiores de conservadorismo ao longo do tempo – e do amadurecimento. Especialmente numa época em que o pêndulo “libertino” extrapolou, como hoje. Eu, que já fui libertário, acho que devemos adotar doses ainda maiores de conservadorismo para salvar a civilização ocidental. Sendo sincero: recomendo doses cavalares mesmo! Questão de grau, porém. O importante é a direção. Recomendo aos interessados meu novo livro Confissões de um ex-libertário, que fala exatamente disso.

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