Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal
As contas trimestrais divulgas pelo IBGE trouxeram um surpreendente crescimento do PIB. Enquanto as expectativas apontavam para um crescimento de no máximo 0,2% ou mesmo queda, o número apurado mostrou um crescimento de 0,4% em relação ao trimestre anterior. A notícia é boa, mas não é para soltar fogos. O cenário é de recuperação lenta; isso é bom dado que nas contas referentes ao primeiro trimestre havia uma ameaça de novo mergulho da economia em uma recessão. Também é bom evitar a tentação de creditar o resultado a expectativas positivas por conta da agenda de reformas que está andando – ainda é cedo para isso.
A figura abaixo mostra o crescimento do PIB em comparação com o trimestre anterior e com o mesmo trimestre do ano anterior. Fica claro o padrão de recuperação lenta. Aqui cabe lembrar que, ao contrário de alguns colegas de profissão, eu não considero que a recuperação lenta seja um problema; pelo contrário: uma recuperação rápida provavelmente seria a construção de uma nova crise no futuro próximo, repetindo um padrão que já é comum no Brasil e na América Latina. A melhor notícia do número do PIB é que devem cair as pressões para que a equipe econômica aposte em uma agenda de estímulos de curto prazo.
A figura abaixo mostra o crescimento de cada setor. O setor de serviços mantém o ritmo de crescimento que vem seguindo desde o começo da recuperação. Indústria e Agropecuária que encolheram no trimestre anterior passaram a crescer neste trimestre. O crescimento espalhado em todos os setores, mesmo que baixo, sinaliza para uma recuperação equilibrada.
Por ser particularmente sensível a crises internas e por ser um dos setores com mais capacidade de pressionar o governo por políticas de estímulos de curto prazo, é válido dar uma olhada mais cuidadosa no comportamento da indústria. A figura abaixo mostra o crescimento na indústria de transformação, construção e extrativa desde 2014. Dois pontos merecem atenção: (i) o crescimento da indústria de construção e (ii) a queda da indústria extrativa.
A recuperação da construção pode ser um sinal de recuperação da confiança e costuma antecipar uma recuperação do emprego. É fato que o governo tem anunciado medidas de estímulo para o setor, porém não é trivial determinar se o crescimento já pode ter sido uma resposta a esses estímulos. Se for uma resposta aos estímulos, podemos ter problemas nos próximos períodos. Como bem deveríamos saber, bolhas não levam muito longe. Caso a recuperação tenha uma dinâmica própria, o governo deveria rever os estímulos para não contaminar um processo saudável. Em qualquer caso o governo deveria rever estímulos à construção.
A queda da indústria extrativa, que cresceu durante boa parte da crise, ajudando a evitar um desastre ainda maior, frustrou um crescimento que poderia ter sido maior que o anunciado, mas reforça a tese de que a recuperação está ocorrendo mais por fatores internos do que por fatores externos. Não há problema em crescer com a ajuda de fatores externos, pelo contrário; mas é importante que a dinâmica interna da economia também aponte para o crescimento.
A figura abaixo mostra o crescimento dos principais componentes da demanda. Destaque para o investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) que voltou a crescer e desde o último trimestre de 2017 vem crescendo; mas a queda na taxa de crescimento no trimestre anterior ligou um sinal amarelo para a possibilidade de reversão desse padrão. Um novo ciclo de queda do investimento seria um forte indicador de uma volta ao quadro de recessão. O crescimento de 5% do investimento pode ser um sinal de que o trimestre anterior foi apenas um susto. A queda no consumo do governo em contraste com um aumento do investimento e do consumo das famílias pode ser vista como um sinal de que não estamos em uma nova bolha.
No setor externo, o valor das exportações continua acima do valor das importações, o que não quer dizer muita coisa, mas pode ser útil em tempos de volatilidade cambial. O aumento da taxa de investimento, que chegou a 15,9%, não foi acompanhado pelo aumento da taxa de poupança, que caiu de 15,8% para 15,2%. Nada que preocupe, mas sinaliza que vamos ter de pegar dinheiro no resto do mundo para financiar o aumento da taxa de crescimento ou vamos ter de arrumar um jeito de aumentar a taxa de poupança.
Em resumo, os números mostram uma recuperação lenta, mas aparentemente equilibrada e que não decorre de choques externos. Aparentemente, o primeiro trimestre de 2019 foi mais um susto do que uma reversão da recuperação iniciada em 2017. O desafio continua sendo manter a agenda de reformas e fugir das tentações de adotar estímulos de curto prazo.