Vários já perceberam que os filhos do presidente Bolsonaro representam um perigo para o governo maior do que qualquer oposição de fora. E não falo “apenas” do caso do ex-assessor de Flavio Bolsonaro. Falo principalmente da postura dos outros dois, mais radicais e brigões, que comandam um “exército” de soldados militantes nas redes sociais. Eduardo está assumidamente sob forte influência de Steve Bannon, um nacionalista populista tão extremista que nem Trump quis manter em seu governo. Essa turma fará de tudo para boicotar o governo do pai, de olho num projeto próprio de poder.
O alvo da cavalaria dos “templários” é o vice-presidente Mourão. Não nego que certas declarações do general me incomodaram, e as critiquei aqui. Mas Olavo de Carvalho resolveu cruzar a fronteira da crítica e avançar na seara do crime, fazendo denúncias gravíssimas sem qualquer prova. O “guru” do presidente acusou abertamente Mourão de conspirar contra o governo, enquanto o presidente está hospitalizado. Chegou a falar em “golpe militar”. Cobrei uma reposta de Jair Bolsonaro, que ainda não veio.
Mas seus filhos acharam adequado, nesse clima, tecer elogios… a Olavo de Carvalho! A guerra aberta contra Mourão está declarada, e pelos próprios “bolsokids”. Em seu Twitter, Carlos Bolsonaro falou da importância do filósofo para o país, mensagem replicada pelo irmão com direito a mais elogios e afagos:
Esses elogios, ou melhor, essa babação de ovo extremamente exagerada veio logo depois dos ataques virulentos de Olavo ao vice Mourão. E a senha foi dada pelo real guru da turma: Steve Bannon. O nacionalista parece ter um desejo incontrolável de se meter nos assuntos de outras nações, e resolveu dar pitaco no caso do Mourão: “Ele é desagradável, pisa fora da sua linha”. E acrescentou: “Até onde sei, o presidente Bolsonaro não lhe atribuiu responsabilidades e parece que foi uma decisão sábia”.
Bannon apontou Eduardo Bolsonaro como líder de seu “movimento” no Brasil, um grupo de nacionalistas populistas que até atacam inimigos certos, como o globalismo, mas o fazem de maneira totalmente condenável. Na entrevista concedida à Folha, o ex-estrategista de Trump encheu a bola de Olavo também:
O que estou tentando fazer agora é agendar, se o capitão Bolsonaro visitar Washington, uma exibição do documentário sobre ele [“O Jardim das Aflições”]. Olavo é um herói, até mesmo global, da direita. Um autodidata, com entendimento profundo do pensamento conservador, populista, nacionalista.
Gustavo Nogy rebateu os comentários de Bannon: “Desagradável é patriotismo com a bandeira alheia. Só mesmo gente muito caipira pode dar ouvidos a um tipinho como Bannon, que sem vergonha nenhuma pretende interferir em país alheio. Críticas à parte: mais Mourão, menos Bannon”.
O fogo cruzado e “amigo” dentro do governo só contribui para um clima negativo que desvia o foco das verdadeiras prioridades, como a reforma previdenciária. Não quero dizer, com isso, que só a pauta econômica liberal importa. Não! Sou um liberal-conservador que entende perfeitamente a importância da “guerra cultural” e da batalha no campo dos costumes. Mas repito: os métodos de Bannon e sua turma são altamente condenáveis. E é lamentável ver essa figura com tanta influência nos filhos do presidente, que pelo visto também influenciam bastante o pai.
Afinal, se Bolsonaro discorda disso tudo, deveria vir a público deixar claro seu apoio a Mourão, quem ele escolheu como vice. Tinha a obrigação de rechaçar acusações seríssimas feitas por seu “guru”, que logo depois é elogiado de forma até constrangedora por seus filhos. O silêncio do presidente sobre esse caso todo mostra que ele está do lado dos filhos, de Olavo, de Bannon. E isso é péssimo para seu governo, para o país. Controle seus “bolsokids”, presidente! E faça como Trump, que você diz admirar tanto: dê um pé na bunda de Bannon e coloque esse radical para escanteio!
Rodrigo Constantino
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