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Corrupção = excesso de governo + impunidade + cultura da leniência
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O Brasil é o país do sofá. Sempre repito isso, fazendo alusão ao marido traído que decide jogar fora o sofá onde pegou no flagra a esposa com o amante. Ou seja, gostamos de atacar sintomas em vez de analisar as causas reais dos fenômenos. Somos um povo que jura que vai derrotar a febre do doente quebrando o termômetro.

É por isso que o povo vibra quando uma presidente bate no peito e diz que vai enfrentar os banqueiros e reduzir a taxa de juros na marra. É por isso que o povo vibra quando o governo anuncia aumento de salário por decreto. É por isso que nossa Constituição fala em limite de juros de 12% ao ano (que, aliás, o governo Dilma acaba de ultrapassar).

O caso da corrupção é sintomático. A esquerda em especial jamais leva em conta que o modelo estatizante que prega acaba por fomentar mais corrupção. Parece crer que basta colocar santos abnegados no poder – os próprios esquerdistas – que tudo ficará bem. Depois não entende como a corrupção sobe sem parar, e ainda “acusa” a esquerda no poder de ser direita, pois corrupta.

Mas as causas verdadeiras da corrupção estão justamente numa mistura de excesso de governo com impunidade e uma cultura da leniência, do “jeitinho” e da permissividade. Muito poder e recurso concentrados no governo fomenta a corrupção, pois o mecanismo de incentivos no setor público não é o mais adequado para o bom uso deles.

Com a certeza da impunidade e um povo pacato, afetuoso, compreensivo com os “malfeitos”, temos a garantia de abusos. Quando uma turma mais mafiosa chega ao poder, aí é um prato cheio e os piratas se esbaldam no butim, pilhando até o limite os recursos públicos. O mensalão foi isso. O petrolão foi isso.

E agora a Petrobras será julgada nos Estados Unidos, um país mais sério em relação às punições da corrupção, com império das leis e uma cultura bem menos tolerante com tais desvios. Malu Gastar entrevistou para as páginas amarelas da Veja desta semana um dos maiores criminalistas do país, Robert Luskin, que espera o fechamento de um acordo entre Petrobras e governo americano, com pagamento de multa bilionária, pois a alternativa seria ainda pior, colocando em risco sua própria sobrevivência.

Lá não dá para brincar como aqui. O buraco é mais embaixo. O problema dessa punição é que quem paga o pato é o acionista minoritário, não os executivos corruptos. Mas é uma evidência de que não se tolera esse tipo de prática lesiva aos cofres públicos, algo que encaramos com a maior naturalidade por aqui. Diz Luskin:

Luskin

Em duas respostas o criminalista resumiu o cerne da questão. É preciso fortalecer as instituições e mudar a cultura, além de reduzir ao mínimo possível a simbiose entre estado e setor privado, priorizando o livre mercado em vez de um governo empresário ou excessivamente regulador. E o povo deve fazer sua parte, mostrando maior intransigência para com os corruptos.

Se boa parte dos corruptos pegos com a boca na botija no Brasil estivesse presa até hoje, se a Petrobras fosse uma empresa privada, longe das garras dos diretores indicados por políticos, e ainda, se o povo tomasse as ruas ou exercesse sua indignação nas urnas de forma veemente contra os ladrões no poder, o petrolão dificilmente teria acontecido. E o Brasil não seria o paraíso dos corruptos.

Rodrigo Constantino

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