Pensadores conservadores se mostraram céticos ou pessimistas com a modernidade, em parte pela “morte” de Deus e o que isso poderia significar: um “humanismo” racionalista e utilitarista desprovido de valores absolutos, ou seja, relativismo moral e niilismo. Um caso triste esta semana mostra que esses pensadores tinham um ponto, e que a vida humana foi mesmo banalizada (enquanto a dos animais só é valorizada).
Charlie Gard é um bebezinho com uma doença terminal, e seus pais fizeram de tudo para salvá-lo, ou ao menos mantê-lo vivo o quanto fosse possível. Mas Chris e Connie, os pais, perderam o último apelo na Corte Europeia de Direitos Humanos. Eles desejavam levar o bebezinho, de apenas 10 meses, para os Estados Unidos, para uma tentativa de tratamento da sua condição genética rara.
Os médicos do Great Ormond Street Hospital for Children, em Londres, onde Charlie recebia tratamento, disseram que desejavam uma “morte digna” ao bebê. Mas o casal, de Bedfont, levantou quase £1.4 milhão para levar o filho para a América e tentar alternativas. As cortes deram ganho de causa aos médicos londrinos. Alegaram que a decisão visa a evitar sofrimento e dor. O estado decide o destino do filho deles, sentenciando-o à morte imediata.
Matt Walsh escreveu um duro ataque à decisão, que chamou de “um horror”. Ele lembra que os pais não estão exigindo que o hospital mantenha o bebê artificialmente vivo por máquinas. Lutam apenas pelo direito de tirar seu filho de lá para levá-lo aos Estados Unidos e tentar outros tratamentos experimentais. Que pais, tendo a condição para tanto (e eles buscaram essa condição), abririam mão dessa chance? Walsh desabafa:
Aqui é onde as coisas ficam verdadeiramente loucas e bárbaras. O hospital recusou-se a dar Charlie de volta a seus pais. A questão acabou nos tribunais e, finalmente, nas últimas horas, a Corte Europeia dos “Direitos Humanos” decidiu que os pais deveriam ser impedidos de levar seu filho para os Estados Unidos para tratamento. De acordo com o tribunal de “direitos humanos”, é o direito humano de Charlie que ele morra em sua cama de hospital em Londres. Os pais não têm permissão para tentar salvar sua vida. É “no seu melhor interesse” simplesmente morrer, eles decidiram.
Na Europa, “morte com dignidade” supera qualquer outro direito. Na Europa, uma mãe pode matar seu bebê, mas ela não pode mantê-lo vivo. Novamente: bárbaro.
Ouvi dizer que muitas pessoas racionalizam essa decisão demente dizendo que “os médicos sabem melhor”. Isso pode ser relevante e verdadeiro em situações em que os membros da família estão tentando forçar os médicos a administrar tratamentos que eles, os profissionais médicos, sabem que não funcionarão. Mas não é o que está acontecendo aqui. A única coisa que esses pais estão tentando “forçar” os médicos a fazer é relaxar seu controle para que a criança possa ser levada a médicos diferentes em um país diferente. Os médicos podem ser a autoridade final em que tipos de medidas médicas devem tomar pessoalmente, mas não são a autoridade final sobre a vida em si. É uma coisa eles dizerem: “Não vou fazer esse tratamento”. É bem diferente dizer: “Você não tem permissão para fazer esse tratamento por ninguém. Você deve morrer”. O primeiro é razoável. O último é a eutanásia. Este bebê está sofrendo eutanásia. Por bárbaros.
Para Walsh, esse é o resultado da medicina socializada, de quando os pais têm seus direitos subordinados ao estado, e de quando a vida humana não é mais sagrada. Talvez a vida das baleias ou das tartarugas despertem mais comoção hoje do que a vida de bebezinhos com doenças terminais, pois é proibido “sofrer”. De fetos no ventre, então, nem se fala! Esses podem ser simplesmente eliminados como se fossem parasitas, e os “direitos” das mulheres atropelam qualquer direito à vida do bebê. É como se ela fosse cortar a unha ou o cabelo, e ponto final.
Não dá para ver isso e não conceder um ponto aos conservadores pessimistas, que enxergaram a decadência de valores morais após o Iluminismo “racional”. Algo se perdeu, e foi a noção do sagrado para a vida humana, um valor absoluto.
No filme “A Praia”, com Leonardo DiCaprio, uma turma meio hippie pretende construir uma utopia igualitária numa ilha isolada, onde tudo gira em torno da “felicidade”. A obsessão utilitarista faz com que dois colegas, vítimas de um ataque de tubarão, fiquem largados na praia para morrer, enquanto a música na festa é aumentada para que seus gritos de dor não cheguem aos ouvidos dos presentes. Tudo para manter a “felicidade”, até mesmo fechar os olhos para a realidade e se tornar desumano.
O “humanismo” moderno merece mesmo passar por uma boa reflexão, pois se continuar assim, acabará se transformando em algo um tanto monstruoso…
Rodrigo Constantino
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