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Coxinhas e petralhas não estão no mesmo barco
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Por Percival Puggina

A mensagem me veio em e-mail sobre o momento político e incluía esta convocação à unidade nacional: “Coxinhas e petralhas, uni-vos!”. O absurdo propósito tem dois pressupostos:

1º) A denúncia da Odebrecht, que acaba de vazar, abalou o governo Temer tanto quanto estava abalado o governo Dilma por acasião do impeachment.
2º) Coxinhas e petralhas, estariam, agora, no mesmo barco, unidos por simétricos infortúnios.

Se é verdade que a denúncia do ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo Filho fez um enorme estrago nos mais altos escalões dos partidos que se uniram pelo impeachment de Dilma Rousseff, é absolutamente falso traçar qualquer analogia entre a conduta pré ou pós impeachment de coxinhas e petralhas. Enquanto estes cumpriam missão partidária, aclamando bandidos como “heróis do povo brasileiro”, fazendo uso de violência e depredações, os coxinhas, em momento algum, emitiram som ou gesto em defesa de qualquer corrupto, independentemente do partido a que fosse filiado. Justice for all! Toda tentativa de apresentar os dois grupos como faces distintas de uma mesma moeda é falsa como seria a moeda que o expressasse.

A melhor evidência do que afirmo me veio pela edição de ZH desta segunda-feira, 12 de dezembro, no relato de um leitor transcrito pelo jornalista Tulio Milman em seu “Informe Especial”, à página 2. O autor teve o privilégio de comparecer à palestra proferida pelo juiz Sérgio Moro ao público que lotou um auditório da Universidade de Heidelberg. Esclarece o autor que palestrantes estrangeiros costumam atrair umas poucas dezenas de interessados. Para o evento com presença do juiz brasileiro, porém, foi necessário um auditório com capacidade para centenas de pessoas e muitas ficaram de pé.

Interrompo momentaneamente as referências ao relato do leitor de ZH para registrar algo que estou pesquisando enquanto escrevo. Antecedendo o evento, diversas personalidades enviaram mensagens à Universidade de Heidelberg alertando para suposta falta de credibilidade do magistrado que estaria empenhado em destruir o PT e proteger PMDB e PSDB. A KGB petralha estivera em ação internacional.

A Rede Brasil Atual, por exemplo, se encarregou de divulgar isso, no dia 9, afirmando que “Moro vai encontrar ambiente hostil na Alemanha”, pois intelectuais brasileiros estavam advertindo a Universidade sobre as reais intenções de seu convidado. Eis, um parágrafo que, de certo modo resume, em péssima redação, o espírito petralha da matéria:

“Já houve uma série de protestos em forma de documentos encaminhados aos anfitriões do encontro, professores, alertando sobre quem eles estavam convidando”. “(…) claro, um alerta em termos, eles sabem quem é Moro, mas cartas foram escritas alertando que o juiz não é um paladino contra a corrupção, e sim um paladino contra um partido”.

A imprensa brasileira, reportando o evento, destacou a presença de manifestantes portando cartazes com acusações de parcialidade ao magistrado da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba. O leitor de ZH, contudo – voltando a ele – informa que eram uns poucos, cuja idade evidenciava não serem membros do corpo discente da instituição anfitriã. E sublinha que mais da metade do auditório aplaudira Sérgio Moro em pé, ao final de sua consistente e firme apresentação.

Toda a trama mentirosa contida nas matérias da sexta-feira se desfez no sábado. A delação da Odebrecht, a “delação do fim do mundo”, foi cuidadosamente articulada na Lava Jato, sob as vistas do correto magistrado de Curitiba. Em outubro, ele já advertira para as turbulências que dela adviriam. E de fato, a primeira a se tornar conhecida acertou em cheio aqueles a quem os petralhas diziam estar sob proteção do juiz.

Então, por obséquio: coxinhas não são defensores de corruptos nem estão articulados com qualquer projeto estilo KGB para destruir a reputação do principal e mais eficaz combatente contra a corrupção em nosso país. Coxinhas não embarcam com petralhas.

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