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A creche chamada “direita brasileira”

Por Pedro Henrique Alves, publicado pelo Instituto Liberal

Um dos sargentos do quartel no qual prestei o serviço militar obrigatório tinha uma frase elementar para a vida: “sábio é o homem que conhece quais guerras deve lutar”. O MBL comprou uma tola guerra aberta contra os apoiadores de Bolsonaro quando acabou generalizando suas críticas, dando a entender que todos ― ou quase todos ― são extremistas e antidemocráticos. A aposta declarada dos mblesistas era, então, que a convocação para a manifestação ― supostamente autoritária ― do último domingo (26/05) fosse um fracasso, que as pautas que gerissem o manifesto fossem extremistas. Bom, o manifesto surpreendeu até mesmo os algozes declarados de Bolsonaro e os cartazes e gritos autoritários foram sufocados por coros em favor da reforma da previdência, pelo pacote anticrime e pela Lava-Toga. Sinceramente, eu estava mais preparado para ver Jesus voltar do que para assistir uma multidão pedir pela reforma da previdência, enquanto ovacionava o nome do ministro da economia. Se em 2014 dissessem para mim que isso aconteceria, soltaria frondosas gargalhadas até engasgar.

Todavia, se haverá efetividade no parlamento, se o manifesto se reverterá em aplicabilidade política, ai é outro papo bem diferente. E nisso, confesso, compartilho das dúvidas dos liberais anti-Bolsonaro: sinceramente eu não sei até que ponto a pressão popular será um bônus e não um ônus ao governo.

Não é possível julgar, a priori, qual será a reação do centrão e, para o bem ou para o mal, as pautas do governo dependem dessa patota. No entanto, não podemos negar o sucesso do manifesto enquanto puramente manifesto; se os fins justificarão os meios usados nesse último domingo, teremos que aguardar os próximos capítulos para falar com mais propriedade. A reunião dessa manhã entre Toffoli, Alcolumbre, Maia e Bolsonaro pode significar um ganho das ruas/governo, mas ainda é muito cedo para arriscar qualquer profetismo. Vou me atentar a ser tão somente analista e não oráculo.

Todavia o que eu quero mesmo é tocar na ferida, afinal, o fato mais desconcertante desses últimos 7 dias é a existência de pessoas que entram numas cruzadas totalmente ridículas e despropositadas. São liberais atacando conservadores e apoiadores de Bolsonaro; assim como conservadores e apoiadores de Bolsonaro atacando liberais ― alguns, verdadeiramente criminosos. E, no fim, ninguém tem mais razão do que o Lula tem de inocência. Já não se trata mais de oposição de ideias ou prismas diferentes de análises políticas diversas, se trata de uma verdadeira guerra campal no qual o único proveito real do debate é ver dois grupos de histriões fazendo palhaçadas no picadeiro da internet; crianças em busca de autoafirmação e adulações. Discussões grupais que, na grande maioria das vezes, não passam de “shakes” de imaturidade com toques salpicados de mau caratismo.

Aos liberais afoitos bastava não generalizar e não fazer entender que os apoiadores do Bolsonaro são autoritários e antidemocráticos per se; muitas vezes, baseando os seus ataques totalmente em páginas extremistas completamente inexpressivas. Na ânsia de fazerem oposição aos porcos autoritários, alguns liberais nem perceberam que já estavam rolando no chiqueiro igual aos que combatiam. Aos apoiadores de Bolsonaro falta sempre aquele trato de prudência para aceitar discordâncias, falta largar o bezerro de ouro (o “papis” Bolsonaro); falta entender, de uma vez por todas, que aqueles que não concordam 100% não são necessariamente traidores da pátria ou inimigos dignos de forca.

No fim, tais pessoas querem apenas massagear os seus egos na internet com as aprovações dos afagadores, privatizar movimentos e reafirmar seus poderios nas redes sociais; ao mesmo tempo que alimentam os seus ódios infantis com os xingamentos dos babacas de plantão. Fato é que, grande parte da direita nacional nem deveria ter saído das creches existenciais, quanto menos deveriam analisar a política e os meandros dos poderes sócio-políticos.

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