Por Adolfo Sachsida, publicado pelo Instituto Liberal
Algo está passando despercebido frente a algumas “boas” notícias relacionadas à economia. Sim, o Brasil saiu da recessão. Sim, o Brasil está crescendo. Contudo, o ritmo do crescimento deveria ser bem mais intenso do que o que está sendo observado.
Vamos supor que a taxa de crescimento de longo prazo do PIB per capita brasileiro esteja ao redor de 1,7% ao ano. Isso implica numa taxa anual de crescimento do PIB ao redor de 2,5%. Em 2014 o PIB cresceu 0,1%, em 2015 caiu 3,8%, em 2016 caiu outros 3,6%, em 2017 cresceu 1%. Em outras palavras, estamos mais de 15% abaixo da trajetória de longo prazo. Num cenário assim, a taxa de crescimento do PIB deveria ser bem mais alta. Notem que número significativo de analistas preveem um crescimento de 2,8% para 2018, e de 3% para 2019. Caso tais valores se confirmem, ao final de 2019 estaríamos ainda abaixo do PIB de 2014, e continuaríamos mais de 15% abaixo de nossa trajetória de longo prazo.
O normal seria a economia brasileira estar se recuperando a taxas bem mais rápidas. Se isso não está ocorrendo é porque algum problema bem sério está sendo desconsiderado nas análises. Será que nossa já baixa taxa de crescimento de longo prazo ficou pior ainda? Será que os desastres microeconômicos da administração petista derrubaram ainda mais nossa já estagnada produtividade? Será que a dívida pública, aliada a nossa péssima situação fiscal, está tendo efeitos deletérios bem mais sérios do que estamos notando?
Tem algo de muito sério acontecendo no subterrâneo de nossa economia que não está recebendo a devida atenção. Em minha opinião, são dois os culpados:
1) o estrago microeconômico das políticas econômicas do PT é bem mais sério do que parece. Tudo leva a crer em severos problemas de má alocação de investimentos (a famosa política de escolha de setores e de campeões levados a cabo pelo BNDES e pelo governo petista). Ao investir em setores pouco capazes de competir (tal como os vultosos investimentos no setor naval ou nas péssimas escolhas de investimentos da Petrobras) não só foram “queimados” importantes recursos, pior que isso: a própria manutenção desse investimento implica em novos e custosos desembolsos. Por exemplo, por pior que tenha sido investir em estádios para a Copa do Mundo, ainda assim foi pior ainda colocar bilhões de reais na Refinaria Abreu e Lima ou no complexo Comperj. Quem poderia imaginar que investir em estádios seria a menos pior das ideias petistas?
2) A delicada situação fiscal da União, estados e municípios pode estar assustando bem mais do que os jornais levam a crer. São vários os problemas que nos levam a ter severas dúvidas sobre a sustentabilidade da trajetória fiscal atual.
Em resumo, o Brasil precisa de grandes reformas macroeconômicas e microeconômicas. Reformas que coloquem nossa trajetória fiscal num patamar aceitável. Nesse sentido, a reforma da previdência é um primeiro passo urgente. Mas muito mais precisa ser feito no lado fiscal: revisão das desonerações tributárias, revisão dos subsídios governamentais, ampla política de privatização e concessões, reforma administrativa, e freio no crescimento constante dos gastos públicos, são objetivos a serem perseguidos. Pelo lado da produtividade, temos que aprovar medidas que recoloquem o Brasil no caminho do crescimento sustentável. Nesse sentido, abrir a economia, modernizar a legislação trabalhista, simplificar a tributação, valorização e proteção efetiva da propriedade privada, reduzir drasticamente a burocracia, diminuir o volume do crédito direcionado, aprovar o cadastro positivo, e várias outras medidas precisam ser urgentemente implementadas em nosso país.