A equipe técnica do Ministério do Planejamento quer aproveitar a discussão sobre a revisão da meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 2015 para fazer um debate mais amplo sobre política fiscal. Fontes do governo informaram ao GLOBO que uma ideia defendida é a adoção de bandas para o resultado primário, algo parecido com o que existe hoje para a inflação. Na política monetária, o Banco Central (BC) persegue uma meta central, de 4,5%, mas há uma margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. É o que os economistas chamam de teto da meta.
A banda fiscal seria uma forma de dar ao governo margem para acomodar choques na economia, sem ficar refém de um único número.
— O debate precisa ir além de um novo número para o (superávit) primário. Ele deve ter uma discussão mais estrutural. É nisso que entra a questão das bandas — explicou a fonte.
Sei, como na meta de inflação, diz a fonte do governo? Então, vejamos: a meta de inflação brasileira é 4,5%, um patamar elevado para padrões internacionais. A banda de tolerância é de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo (risos), para absorver choques temporários, certo? E em quanto está nossa inflação acumulada em 12 meses? Ah, em 9%! O leitor poderia me ajudar na conta? É que não sou muito bom em matemática, não tive aula com Guido Mantega ou Alexandre Tombini.
Quanto dá 4,5 mais 2? Pedindo ajuda à minha calculadora, encontrei 6,5. Confere? E 9% é maior do que 6,5%, o teto da banda, não é verdade? Brincadeiras à parte, o que fica claro é que essa flexibilização da meta, tanto de inflação como fiscal, não passa de uma malandragem na mão de petistas. Eles sabem que vão passar a mirar, sempre, no topo da meta, no caso da inflação, e na base dela, no caso fiscal, sempre com a desculpa de que há uma crise internacional. Crise duradoura essa!
Gente séria pode até usar uma margem de tolerância para calibrar melhor as políticas monetária e fiscal, de acordo com a conjuntura. Isso, vale notar, se aplicaria no caso da bonança também, o que é extremamente raro. Ou seja, um governo cujo país passa por um boom na economia deveria aumentar a meta fiscal, para criar um colchão para os tempos mais difíceis à frente, e reduzir a meta de inflação, para não ser negligente e não ajudar a fomentar uma bolha. Quem realmente age assim?
Por isso falo de “keynesianos manetas”: eles sempre esquecem do conceito de contracíclico quando a economia está bem. Eles só puxam da cartola a necessidade de o governo agir contra o ciclo quando o ciclo é de baixa, e o governo precisa gastar mais e imprimir mais moeda e dar mais crédito. O keynesianismo, nas mãos de gente pouco séria, é um convite a sempre gastar mais e produzir inflação. Ninguém vê o Paul Krugman escrevendo textos estridentes contra o gasto público elevado em tempos de bonança!
O que o PT quer, portanto, não é ser mais realista e trabalhar de forma séria com uma margem de tolerância, e sim um subterfúgio para suas “pedaladas fiscais”. É uma esperteza de “ciclistas” acostumados a “pedalar” para fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Ser mais flexível, para essa gente, significa simplesmente não cumprir a meta. É o que fazem melhor na vida.
O problema é que o excesso de malandragem e esperteza costuma ter um efeito bumerangue, e agora a “ciclista” corre o risco de ver o TCU rejeitar suas contas, o que configuraria o rompimento com a Lei de Responsabilidade Fiscal, que pode levar até mesmo ao seu impedimento. Ciclista malandro pode acabar caindo…
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião