Criticar o governo Bolsonaro por falta de articulação política ou excessivas polêmicas desnecessárias que desviam do foco prioritário é legítimo e, em minha visão, correto. Venho dedicando vários textos e comentários a esses defeitos. Mas fazer como fizeram Rodrigo Maia e Geraldo Alckmin, que atacaram o governo por uma suposta falta de agenda, isso me parece injusto.
Primeiro vamos ao que o presidente da Câmara acerta: “O DEM tem ideias claras. Acha que o estado brasileiros é insuficiente, burocrático e caro, que precisa ser reformado. E para isso um partido de 30 deputados precisa ter uma aliança com um arco de partidos que tenham a mesma agenda. É muito bonito ficar sozinho vocalizando, falar para um público, mas quem quer mudar o Brasil tem que ter a capacidade de compreender que só com um arco de aliança você consegue aprovar as emendas constitucionais que podem tirar o Brasil da linha do colapso social. Tenho clareza disso”. De fato, a tal governabilidade, com senso de pragmatismo, sabendo ceder, contemporizar e agregar, é o que vem faltando ao governo Bolsonaro.
Mas aqui a crítica de Maia, que teve respaldo de Alckmin em entrevista à Folha, erra o alvo: “Acho que está faltando uma agenda para o Brasil. A Previdência não é uma agenda, é uma reforma racional e necessária para equilibrar as contas públicas. Ela não resolve qualidade na educação, médico no hospital, produtividade no setor público ou privado, crescimento econômico ou desemprego. O que precisamos é uma agenda para o Brasil. Previdência é uma necessidade. Agenda para o Brasil a gente ainda não viu formatada de forma ampla, completa, por esse governo”.
O ex-governador de SP, por sua vez, disse: “Temos 13,2 milhões de desempregados, cadê a agenda de produtividade? O Brasil não cresce, ficou caro para quem vive aqui, e tem dificuldade de exportação. Onde está essa agenda? Cadê a reforma tributária, fiscal? Eles não têm uma agenda e a única proposta é voltar com a CPMF, que é um imposto ruim, em cascata, que onera as cadeias produtivas. A questão da política externa… Uma ideologização, que não é da velha, é da antiga, da antiquíssima política. Precisa dizer para ele que o Muro de Berlim caiu faz quase 30 anos.”
Ora, o presidente foi eleito com um discurso claro de menos Brasília e mais Brasil, tirar o estado do cangote do empresário, privatizar empresas estatais. Ou seja, a pauta, ao menos econômica, é bem transparente e liberal: redução de burocracia, do intervencionismo estatal, simplificação da carga tributária, privatização. O que poderia ser mais direto do que isso? O grande desafio, sem dúvida, é a execução, assim como a aparente falta de convicção do presidente nessa agenda liberal. Mas daí a dizer que não existe uma agenda vai uma longa distância…
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS