Procuro compreender o que leva alguém a adotar comportamento tão radical e fanático. Falo dos minions, aqueles que defendem o novo presidente com lealdade canina e jamais encontram motivo para criticá-lo: ele está sempre com a razão!
Parte é explicada pela personalidade mesmo, pela necessidade que alguns têm de escolher gurus, ídolos e mitos no papel de pai infalível. Outra parte vem como reação natural e até legítima aos excessos praticados pelos adversários.
Após décadas de hegemonia esquerdista, de mentiras e deturpações na mídia, eles julgam necessário reagir à altura. Tornam-se, assim, como seus inimigos, mas com o sinal trocado. Acham que seus nobres fins justificam quaisquer meios e assumem a mentalidade tribal do nós contra eles.
Na guerra cultural em curso, eliminar o inimigo é a única alternativa, pensam. Liberais e conservadores que valorizam princípios e independência de julgamento seriam covardes ou idiotas úteis dos comunistas.
Com Trump é a mesma coisa: os republicanos se dividiram entre os que jamais apoiariam alguém com esse perfil, os que apóiam o presidente mesmo quando ele diz ou faz grandes bobagens e os que preferiram manter a independência, elogiando quando merecido, criticando quando necessário.
Ben Shapiro talvez seja o melhor nome para representar esse terceiro grupo. Precisamos de mais liberais conservadores como Shapiro no Brasil. E de menos bajuladores. A bajulação corrompe, mas a vaia pode salvar, como sabia Nelson Rodrigues.
Bolsonaro representa muita coisa boa, uma guinada saudável à direita. Tem em Paulo Guedes e Sergio Moro dois ilustres nomes para liderar as reformas liberais na economia e no combate à corrupção. Em outros setores também fez escolhas certas rumo ao conservadorismo após tempo demais de estrago “progressista”.
Dito isso, é claro que há erros. E eles merecem críticas. Apontar como coordenador do Enem alguém que já defendeu invasão do Congresso e queima de livros é um acinte. Promover o filho de Mourão no Banco do Brasil logo após assumir a nova gestão é, no mínimo, péssimo timing. Criar o cargo de “chanceler do B” no Itamaraty para um jovem inexperiente que aplaudiu a “revolucionária” greve dos caminhoneiros é temerário. E esses são apenas alguns exemplos.
Quando o governo escorregar, o que se espera de liberais e conservadores decentes é que apontem o erro com firmeza. A alternativa é se transformar em puxa-saco de político, algo inclusive inconsistente com a tradição do liberalismo e do conservadorismo, sempre céticos com o poder.
Criticar Bolsonaro não é apostar contra o Brasil. Ao contrário: quem torce pelo seu sucesso e alimenta esperanças com seu governo mais à direita tem obrigação moral de tecer críticas construtivas.
Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ
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