Por Percival Puggina
Entre as muitas mudanças de conduta individual e social ocorridas nas últimas décadas, certamente as que afetaram a dinâmica da vida familiar foram as mais importantes. Elas produziram imenso impacto no comportamento de crianças, adolescentes e, já agora, numa inteira geração de indivíduos adultos e nas famílias que constituem.
Ao saírem as mães de casa para trabalhar, houve uma primeira tentativa de compensar o menor tempo dedicado aos filhos com recompensas possibilitadas pelo aumento da renda familiar. Foi o tempo dos presentes melhores e concessões maiores. Num segundo momento, pais conscientes trataram de qualificar os reduzidos tempos de convivência com redobrada atenção, enquanto novos “cuidadores” ingressavam no território negligenciado pela educação familiar.
Entre as muitas consequências da ação desses novos personagens, inclui-se a prevalência de impulsos primários em prejuízo do bem e dos valores que a ele conduzem. Contratados pelos pais ou disponibilizados pelo Estado, ou ainda viabilizados pelas modernas tecnologias eletrônicas, estão, em grande parte, a serviço de suas próprias pautas e visões de mundo. E estas, comumente, se relacionam com a construção de uma “nova sociedade” que nada guardará da mais alta civilização que a humanidade conheceu.
Terrível desdobramento da persistência e da determinação com que se atacam valores essenciais ao desenvolvimento integral da pessoa humana e à harmonia da sociedade! A chamada guerra cultural escolheu seu público preferencial entre os vulneráveis pela imaturidade e promove, ali, um massacre impiedoso da verdade, do bem, do belo e do justo.
Pediram-me, outro dia, que discorresse sobre o tema “Como podem os pais influenciar positivamente seus filhos?”. Embora a receita seja a mesma de sempre – amor, diálogo, atenção, zelo e exemplo – há que reconhecer que os resultados podem ser insuficientes, pois o conjunto das influências nocivas a que a juventude está sujeita envolve, supera e muitas vezes destrói os melhores influxos que possa receber. Só uma ação conjunta de pais, escolas, autoridades, Igrejas e meios de comunicação social, conscientes, todos, de suas responsabilidades, pode minimizar o estrago.
A que influências nocivas me refiro? Refiro-me à escola com partido e com ideologia de gênero, tão na moda. Refiro-me às novelas de TV (que jamais valorizam qualquer coisa que tenha valor) e às franquias da internet impropriamente utilizada. Refiro-me à desarmonia musical das bandas, ao mau conteúdo das letras que cantam e aos maus exemplos que proporcionam. Refiro-me ao fio condutor permissivo de quase toda a publicidade e das mensagens voltadas aos jovens. Refiro-me à cultura do corpo (e sua animalidade) e à indigência a que é relegada a humanidade do espírito e da mente. Refiro-me à impotência das autoridades ante o tráfico de drogas. Refiro-me às noites e suas festas, que absurdamente começam na hora em que deveriam terminar e ao crescente consumo de bebidas alcoólicas e drogas por menores.
São adultos os que promovem e se beneficiam dessa ausência de limites e os que perante ela se omitem. Há no inferno lugar para todos.
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