Leiam Freud. Especialmente O Mal-Estar na Cultura, livro imperdível. Ficará claro como Rousseau não poderia estar mais equivocado quando criou o mito do “bom selvagem”. O animal homem tem a besta em si, em seu estado natural. É verdade que, para os conservadores, ela nunca o abandona, permanece à espreita, aguardando a oportunidade de dominá-lo. Ocorre quando a cultura é suspensa, quando os homens dão vazão aos seus apetites indiscriminadamente.
Civilizar é, portanto, domesticar o animal homem. É a cultura que nos limita, e por isso gera o tal mal-estar. Quando vemos tantos “progressistas” defendendo visões românticas do homem, como se fosse uma tabula rasa, quando vemos tantos “intelectuais” pregando a ausência de quaisquer freios morais, culturais e religiosos, clamando pela quebra de todos os tabus, devemos sentir calafrios: esse “progresso” nos levaria de volta ao estado mais natural e, por tabela, bestial.
Quem acha que índios eram como nos desenhos, bonzinhos e felizes em sua ignorância da civilização, pode muito bem crer em duendes e fadas também, sem falar de Papai Noel. Eram violentos, tribos exterminavam outras tribos, o infanticídio era comum. Antropólogos honestos podem atestar: o homem mais tribal era mais violento, escravizava, matava, estuprava. Como fazem os chimpanzés, sem cultura para civilizá-los.
Portanto, quem fala em “cultura do estupro”, no fundo para atacar a civilização ocidental, a mais avançada de todas, ignora que é a falta da cultura que solta as bestas em nós. O estupro é tão mais comum em guerras justamente porque são ambientes em que a cultura acaba suspensa. A Índia, tão “espiritual” segundo os românticos da esquerda caviar, tem inúmeros casos de estupro, inclusive coletivos, pois falta punição mais severa e freios internos maiores.
Em coluna na Gazeta do Povo hoje, o advogado Fabio Blanco vai direto ao ponto ao mostrar as incoerências das feministas quando falam em “cultura do estupro” e, em seguida, condenam todas as medidas que poderiam reduzir os riscos das mulheres em situação de perigo:
É certo que o problema das mulheres violentadas sexualmente no Brasil é absurdo. Cinquenta mil estupros por ano é uma barbárie, de fato. Mas uma barbárie também é o número, ainda maior, de homicídios. E quem tem coragem de dizer que todo brasileiro é um homicida em potencial?
Na verdade, a questão da violência no Brasil é muito mais profunda. É algo relativo à impunidade e à liberdade dos maus. Não tem nada a ver com as pessoas comuns que são colocadas ao lado de bandidos e estupradores. Não tem nada a ver com os homens que se escandalizam quando sabem que uma mulher foi violentada. Aliás, lembre-se de qual o tratamento dado aos violadores sexuais nas prisões e tenha uma ideia clara sobre o que o brasileiro acha do estupro.
Mas o que o movimento feminista quer é levantar sua bandeira sexista e manipular as mulheres, criando nelas um estado de paranoia, fazendo com que não deixem de olhar para qualquer homem sem deixar de ver nele uma ameaça.
A contradição nisso tudo é que esse mesmo movimento feminista, como participante dos grupos de esquerda, é contra o armamento dessas mesmas mulheres, o que seria a solução para evitar tantos estupros no país; e contra a redução da maioridade penal, o que atingiria muitos dos atuais estupradores. Basta isso para demonstrar que as feministas estão longe de estar preocupadas com as mulheres violentadas. O que elas querem mesmo é impor sua agenda ideológica e fomentar o conflito entre os sexos, o que faz parte de sua estratégia histórica, nem que tenham de usar aquelas mesmas que dizem defender.
Perfeito. E a hipocrisia das feministas fica ainda mais patente quando vemos o constrangedor e ensurdecedor silêncio diante dos estupros praticados nos assentamentos do MST. É porque o MST é de esquerda e também combate o capitalismo, os valores burgueses ocidentais. Logo, quando membros do grupo criminoso violentam mulheres, isso passa ignorado para não terem “fogo amigo”. A verdadeira causa não é a mulher coisa alguma, mas o socialismo.
A cultura, especialmente a ocidental, é aquela que freia o animal homem. É essa cultura que está sob forte ataque, ironicamente, dos “progressistas”, inclusive as feministas. A “cultura do estupro” real é a ausência de cultura, ou seja, o estado natural. O “bom selvagem” é o maior estuprador de todos. O gentleman britânico, o típico homem branco cristão retratado como o maior vilão da História pelas feministas, esse é o ser civilizado, domesticado, cordial e cortês, que reverencia a mulher. E que deve ser destruído por ser “machista” e fomentar a “cultura do estupro”, segundo as feministas.
Rodrigo Constantino