Vários anos atrás, quando participei em Porto Alegre de um debate com Ciro Gomes, o truculento político, que monopolizava a palavra, jogou a pergunta que ficaria famosa nas redes sociais: isso dá bilhão? Eu dizia que era preciso cortar, e muito, os gastos públicos, e Ciro quis saber aonde exatamente. Citei as ONGs para começo de conversa, que recebem repasses bilionários do governo, e ele mandou ver: dá bilhão?
Usou uma tática conhecida, de cobrar números exatos de cabeça, enquanto eu falava de algo bem mais amplo: só com pessoal o governo gasta mais de R$ 200 bilhões por ano. O inchaço do governo brasileiro é evidente, e negá-lo exige realmente muita cara de pau e estratagemas retóricos. Como alguém pode realmente questionar se é possível cortar um mísero bilhão no orçamento estatal?
Mas hoje um trecho desse debate circula por aí, como se fosse algo recente, editado por “jornalistas” a soldo do PT, para “provar” como o “colunista da Veja” foi humilhado pelo agressivo político. Vale tudo para atacar a Veja e aqueles que são independentes das verbas estatais, não é mesmo? É o desespero de quem teme perder as boquinhas.
Pois bem: lembro do caso apenas para chegar à notícia de capa do GLOBO de hoje: Quadrilha lavou R$ 1 bilhão. A turma de Youssef mandou ao menos essa quantia para o exterior em vários esquemas de lavagem de dinheiro desviado da Petrobras. Uma operação mafiosa digna de um filme, envolvendo 3 mil transações cambiais fictícias com instituições financeiras de 24 países.
A cifra que Ciro Gomes cobrava de mim virou trocado em Brasília nos últimos anos petistas. O partido que ele defende, apesar de ridicularizar a própria presidente Dilma e chamar o PMDB de “quadrilha”, transformou bilhão em centavo, tamanha a magnitude dos desvios de recursos públicos. E falo apenas do que vem à tona, claro, pois deve ter muito mais coisa embaixo dos panos que a imprensa investigativa, aquela que Dilma detesta e acha que deveria apenas “informar”, ainda não levantou.
O estado brasileiro assumiu proporções absurdas, arrecada quase 40% do PIB, é um enorme ralo que suga nossos recursos para buracos negros, para contas no exterior dos corruptos safados, para financiar campanhas políticas, para fazer milionários da noite para o dia, gente que não criou nada de riqueza para o país, apenas meteu as mãos sujas no que os outros produziram.
Dá bilhão? Não. Dá centenas de bilhões! E em todo lugar. Só privatizar as estatais que restam economizaria rios de dinheiro do “contribuinte” brasileiro, ao dificultar tais esquemas corruptos. Tem bilhão até dizer chega para ser poupado se ao menos o governo brasileiro tiver seu escopo reduzido, para cumprir aquelas funções básicas, tais como segurança, justiça, saúde e educação.
É temerário um político experiente tentar ridicularizar um economista que fala em cortar gastos públicos, como se fosse difícil encontrar “um bilhãozinho”. Mas no Brasil é assim mesmo: o público ignorante aplaude o político que “detonou” o liberal, mostrando que na realidade o buraco é mais embaixo.
É sim, muito mais embaixo. É um buraco negro profundo que atrai vários bilhões para o bolso dos malandros, enquanto os otários defendem um estado grande como locomotiva de nosso progresso. As focas batem palmas para o sofista, enquanto os bilhões desviados enchem as contas dos políticos esquerdistas na Suíça, tudo em nome do povo. É mole ou quer mais?
PS: O irmão de Ciro, Cid Gomes, foi citado pelo poderoso ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em sua delação premiada, como um dos envolvidos no esquema. A reação do governador foi típica de um coronel nordestino: tentou censurar a imprensa local. Talvez Ciro pudesse começar a busca pelo bilhão em sua própria família…
Rodrigo Constantino